“Fui agredida covardemente por um homem que conviveu comigo por um ano. No início, era tudo maravilhoso. Depois começaram os ciúmes, o controle do meu telefone, as brigas em público, os empurrões, até o dia que me agrediu covardemente me chamando de todas as palavras vis que pode imaginar. Nesse dia, resolvi denunciar.”
O depoimento da sergipana Maria Silva – nome fictício para preservar a identidade da vítima – retrata a situação de quase 30% das mulheres do mundo, entre 15 a 49 anos, que disseram já ter sofrido algum tipo de violência doméstica pelo menos uma vez na vida, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Com o objetivo de facilitar a denúncia desses crimes, o Grupo de Pesquisa em Gênero e Sexualidade da Universidade Federal de Sergipe (UFS) decidiu criar uma ferramenta de atendimento emergencial.
A solução inovadora é resultado de mais de 10 anos de atividades do Grupo de Pesquisa Xique-xique sobre o tema da violência relacionado às questões de gênero e sexualidade, sobretudo no Sertão Sergipano.
“As mulheres da zona rural, muitas vezes, têm maior dificuldade para ter acesso aos serviços públicos para fazer a denúncia. Elas, muitas vezes, também não passam por um processo de acolhimento adequado e terminam sendo revitimizadas nesse processo de violência,” contextualiza a professora do Núcleo de Educação em Ciências Agrárias e da Terra do Campus do Sertão da UFS e coordenadora do Grupo de Pesquisa Xique-xique, Patrícia Rosalba.
Com financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o projeto inovador é realizado pela UFS, em parceria com o IFS (Instituto Federal de Sergipe) e SSP-SE (Secretaria de Segurança Pública de Sergipe).
Ao todo, dez pesquisadores estão envolvidos na iniciativa, entre professores, estudantes e técnicos das áreas de Eletrônica, Informática, Medicina, Medicina Veterinária e Antropologia.
“O uso de novas tecnologias é fundamental para o aprimoramento de ações de proteção às mulheres. Nosso objetivo é que esses resultados possam auxiliar o desenvolvimento de políticas públicas de proteção, especialmente no território do semiárido sergipano. A ideia é também transferir a tecnologia para Secretaria de Segurança Pública,” acrescenta Patrícia Rosalba.
A primeira versão do aplicativo está em fase final de desenvolvimento. A previsão é que os primeiros testes sejam realizados nos próximos meses em sete municípios do Alto Sertão Sergipano. Com a transferência da tecnologia para a SSP-SE, a meta é ampliar o alcance da ferramenta para todo o estado.
“A ideia é que a mulher vítima possa explorar os recursos oferecidos na ferramenta e não hesite em entrar em contato com as autoridades para obter assistência adicional. O objetivo é ajudar a quebrar esse ciclo da violência doméstica,” ressalta a professora de Informática do IFS, Leila Buarque.
Xique-xique
Além da questão da violência doméstica, o Grupo de Pesquisa Xique-xique desenvolve pesquisas científicas sobre gênero e sexualidade, como o fortalecimento de mulheres em espaços de ciência e de poder, a construção de novas geografias morais, e a importância da medicina para a assitência e o direito da saúde da mulher.
Fonte: Ascom UFS