O isolamento social, alterações na rotina do ambiente doméstico e de trabalho, além das incertezas sobre os dias que se seguem dentro de uma pandemia. Nesses cenários da vida real, cada segundo conta e um minuto pode ser tarde demais. Nesse contexto, a campanha Janeiro Branco tem como lema “Quem cuida da mente, cuida da vida”. O objetivo da iniciativa é o de mobilizar a sociedade e promover ações de conscientização de que todos possuem o direito à saúde mental. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), no mundo, anualmente cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida. Em Sergipe, de acordo com os dados do Corpo de Bombeiros, foram 92 acionamentos relacionados às tentativas de suicídio, apenas entre janeiro e novembro.
Ainda conforme o levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros, no ano passado, das 92 ocorrências, o mês de setembro foi o que mais apresentou registros de tentativas de suicídio no estado, com 15 casos. Já nos 12 meses de 2019, foram registradas 87 ocorrências atendidas pela corporação. A pandemia da Covid-19 levou para muita gente angústia e ansiedade, sintomas que podem desencadear a depressão, doença grave que muitas vezes leva a pessoa a tirar a própria vida. Ingestão de pesticidas, uso de grandes quantidades de remédios, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em nível global.
Os suicídios podem ser evitados em tempo oportuno, e esse tem sido o trabalho que o Corpo de Bombeiros vem realizando com maestria. Mas, quando há a consumação de um suicídio, há a realização de exames e a emissão de laudos periciais para que a causa da morte seja delimitada. O trabalho pericial é feito pelos peritos do Instituto de Análises e Pesquisas Forenses (IAPF). No ano de 2020, o laboratório de toxicologia do IAPF emitiu 14 laudos referentes a suicídios.
Salvamento
O Corpo de Bombeiros está preparado para atuar no resgate de qualquer pessoa que esteja tentando tirar a própria vida. O tenente Fabiano Queiroz, do Corpo de Bombeiros, explicou que o atendimento a uma ocorrência de tentativa de suicídio é complexa e os profissionais da segurança pública precisam estar atentos às mudanças que podem ocorrer no andamento do resgate. “A ocorrência de tentativa de suicídio é bastante estressante, tanto para a pessoa que está em vulnerabilidade, quanto para a equipe de socorro, que terá que agir com o conhecimento profissional e o preparo psicológico”, reforçou.
O tenente ressaltou que há a possibilidade de não existir condições de aproximação da vítima, de modo que é necessário todas as alternativas para convencer a pessoa em vulnerabilidade a aproximar-se dos socorristas. “Na maioria das vezes, o que fazemos é convencer a vítima que precisa vir até nós, até um lugar seguro. Esse tipo de ocorrência é bastante mutável, será adaptada de acordo com o que será encontrado no momento. Mas, na maioria das vezes, nós dividimos a guarnição em duas equipes”, complementou.
No andamento do resgate, segundo o tenente, as equipes se organizam entre o ato de ouvir a pessoa em vulnerabilidade e o salvamento tático. “A primeira é a de negociação, de convencimento, que terá a primeira abordagem com a vítima. Essa pessoa precisa estar bem preparada, pois precisa saber escolher as palavras e saber ouvir. A segunda é a de ação tática, em paralelo com o primeiro momento, e caso seja necessário, fará uma ação operacional, que só será autorizada caso haja requisitos de segurança mínimos para vítimas e equipes de socorro”, enfatizou.
Exames e laudos periciais
O IAPF realiza os exames e emite os laudos periciais, a partir das requisições do Instituto Médico Legal (IML), para verificar se há a presença de alguma substância que possa ser a causa direta da morte ou que tenha tido efeitos sobre a pessoa em vulnerabilidade numa ocorrência de suicídio, assim como informou o perito criminal Ricardo Leal. “Os casos de suposto suicídio que recebemos do IML são geralmente casos relacionados com intoxicação. Recebemos esses casos para investigarmos se a vítima ingeriu alguma substância que possa ter levado à morte, com intoxicação aguda e fatal”, evidenciou.
Houve um aumento no número de suicídios e há a possibilidade de relação com a pandemia, conforme citou o perito criminal. “Verificamos que, entre 2019 e 2020, houve um aumento nos casos de suicídio. Observamos que algumas vítimas desses casos podem ter relacionamento com a pandemia. Possivelmente os casos de suicídio foram pelo uso de substâncias como medicamentos, não apenas de venenos, mas também de drogas de abuso. Também observamos casos de overdose. Esse aumento substancial de diferentes substâncias pode ter sido provocado pela pandemia”, detalhou.
Ricardo Leal salientou que o laboratório de toxicologia analisa duas situações que podem desencadear na morte de uma pessoa pelo suicídio. “Percebemos alguns casos relacionados com o uso de vários medicamentos com a intenção de tirar a própria vida. Às vezes, as pessoas têm o histórico de uso de medicamentos controlados, mas que o uso em grande quantidade pode levar à morte. Então verificamos as duas situações. A primeira é a ingestão de venenos, mas também verificamos que algumas pessoas cometeram suicídio pelo uso de vários medicamentos. O objetivo do laboratório de toxicologia é sempre investigar se tem alguma substância relacionada com o caso de suicídio”, pontuou.
Fonte: SSP