A invasão russa à Ucrânia completou hoje duas semanas com uma série de ataques a Mariupol, no sudoeste do país. Bombas atingiram uma maternidade, ferindo ao menos 17 pessoas, e o presidente Volodymyr Zelensky classificou a ofensiva como uma “atrocidade”. Em resposta contrária à guerra, Heineken e Ferrari anunciaram a suspensão das atividades na Rússia — com isso já chega a 47 marcas que interromperam os serviços no país.
Zelensky voltou a pedir que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) proteja seu espaço aéreo contra a Rússia. Os Estados Unidos enviaram duas baterias de mísseis Patriot à Polônia para defesa contra possíveis ataques a membros da Otan.
O secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, chamou o atentado de “inaceitável”. “Eu digo que bombardear um hospital é inaceitável. Não há razões, não há motivações para fazer isso”, disse o cardeal Pietro Parolin a jornalistas em uma coletiva de imprensa em Roma.
Imagens de satélite mostram a extensão da destruição em Mariupol, que tem cerca de 460 mil habitantes.
Valas comuns
Cerca de 1,3 mil civis já morreram na cidade desde o início da guerra, segundo o assessor do prefeito de Mariupol, Petro Andryushchenko. De acordo com Andryushchenko, a região é alvo de bombardeios constantes pelos militares russos.
Diante de tantas mortes em Mariupol, moradores da cidade têm enterrado parentes e amigos em valas comuns porque os constantes bombardeios na cidade impedem que enterros adequados sejam feitos. O fotógrafo Mstislav Chernov capturou um desses momentos na região.
Nas últimas 24 horas, mais de 140 mil refugiados deixaram o país, segundo a ONU. Com isso, já são 2.155.271 que conseguiram escapar da guerra. Uma das explicações para a saída de mais pessoas foi a criação de corredores humanitários. Porém, a Ucrânia acusa a Rússia de desrespeitar a medida, que implica em cessar-fogo de ambos os lados.
Nesta quarta-feira (9), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de tortura por ataques aos corredores humanitários que permitem a evacuação de civis e o envio de produtos e medicamentos a cidades atacadas por tropas russas.
“Os invasores atiram em rotas de evacuação. Eles bloqueiam a entrega de equipamentos essenciais e medicamentos ao povo. O que eles querem? Que os ucranianos tirem das mãos dos invasores. Isso é tortura deliberada e sistemática, organizada pelo Estado. É cruel com todos os cidadãos”, disse Zelensky em vídeo publicado nas redes sociais.
Mais de 40 empresas já deixaram país
Até hoje, 47 empresas já anunciaram suspensão das atividades na Rússia. Hoje foi a vez da cervejaria Heineken e a fabricante de automóveis Ferrari.
Veículos de comunicação estrangeiros também estão encerrando as atividades no país. A última a anunciar a suspensão das atividades foi a gigante de mídia americana WarnerMedia, controladora de empresas como CNN, HBO e Warner Bros, entre outras.
Na terça-feira (8), o jornal norte-americano The New York Times anunciou a retirada de todos os correspondentes da Rússia em meio à guerra do país contra a Ucrânia. É a primeira vez em um século que a medida é tomada.
O encerramento das atividades de veículos de comunicação se deve a um decreto russo, que intensifica ainda mais a censura à imprensa no país. Segundo o governo de Vladimir Putin, a nova legislação serve para combater notícias falsas. Na prática, aumenta as barreiras para a divulgação de informações, principalmente sobre o conflito na Ucrânia.
“Nós morremos por vocês também”, diz Zelensky a europeus
inda hoje, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky que os ucranianos também estão lutando pelos demais países europeus na guerra com a Rússia. A fala de Zelensky aconteceu quando ele comentava, em entrevista ao jornal alemão Bild, sobre a possível inclusão do país na (UE) União Europeia.
“O que está acontecendo conosco agora também pode acontecer com vocês. E isso é muito importante para mim: nós morremos por vocês também”, afirmou Zelensky, ao falar sobre países que não apoiam a Ucrânia na UE.
Zelensky assinou no último 28 de fevereiro, quatro dias depois do início da guerra com os russos, o pedido para que a Ucrânia passe a integrar o bloco europeu. Na ocasião, ele pediu para que o grupo admitisse “urgentemente” a entrada do país.
Em votação realizada no dia seguinte (1º), o Parlamento Europeu recomendou que a Ucrânia ganhasse o status de membro da União Europeia. A decisão foi tomada por 637 votos favoráveis, 13 votos contrários e 26 abstenções. “Os governos que não apoiam nossa adesão à UE apontam para reformas que ainda precisam acontecer. Eles não nos veem como iguais. Ainda tenho muitas perguntas sem resposta”, disse Zelensky.
Ontem, a União Europeia afirmou que está analisando oficialmente o pedido de Zelensky.
Zelensky também afirmou estar disposto a fazer concessões para por fim à guerra, embora não tenha especificado quais. Dentre as exigências impostas pela Rússia para cessar os ataques aos vizinhos está o reconhecimento das repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk, no Leste ucraniano, como territórios independentes.
Além disso, o Kremlin quer que a Ucrânia reconhece a Crimeia como parte do território russo.
Uma reunião entre Rússia e Ucrânia está marcada para acontecer amanhã na Turquia. O encontro terá a presença dos ministérios das Relações Exteriores dos dois países, Sergei Lavrov (Rússia) e Dmytro Kuleba (Ucrânia).
Até hoje, 47 empresas já anunciaram suspensão das atividades na Rússia. Hoje foi a vez da cervejaria Heineken e a fabricante de automóveis Ferrari.
Usina de energia nuclear deixa de transmitir dados
Os sistemas da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) que monitoravam material nuclear na usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, pararam de transmitir dados, disse a agência hoje, segundo a Reuters. Na última quinta-feira (3), um incêndio atingiu a unidade após um ataque russo. Três militares da Ucrânia foram mortos e dois ficaram feridos durante o ataque aéreo.
Na terça-feira, de acordo com o jornal britânico The Guardian, a mesma interrupção de dados foi relatada na usina de Chernobyl em meio a um pedido urgente da Ucrânia à AIEA, o órgão de vigilância nuclear da ONU, sobre o esquema de trabalho dos 210 técnicos e guardas que atuam no local.
O chefe da AIEA, Rafael Grossi, disse estar preocupado com a interrupção repentina de transmissão dos dados a partir dos dois locais, onde há grande quantidade de material nuclear.
Fonte: Uol