O ex-presidente Jair Bolsonaro negou ter criado uma “Abin paralela” para espionar os adversários políticos durante a época em que governava o país. Em uma live nas redes sociais ao lado dos filhos Carlos, Flávio e Eduardo no domingo (28), o ex-chefe do Executivo afirmou que informações dos serviços oficiais de inteligência não chegavam para ele.
“Eu não tenho inteligência da Abin, da PF (Polícia Federal), do Exército, da Marinha, da Aeronáutica. Eu não tenho inteligência. Uma vez fui ao centro de inteligência do Exército, o pessoal fez uma demonstração, eu falei: ‘E aí? Não chega nada para mim, só fica com vocês aqui'”, disse.
No encontro virtual que durou mais de duas horas, Bolsonaro reforçou que durante o governo dele a inteligência era o contato que mantinha com pessoas comuns.
“Quando falei da Abin, da inteligência paralela, estava um problema, pegando fogo na Amazônia, ligava para o coronel Menezes, ‘Menezes, como tá aí essa questão de fogo? Porque a imprensa tá divulgando’. Essa é minha inteligência. Ligo para um cabo do quartel, um militar da reserva, um cidadão qualquer, ou a minha própria forma de agir”.
Bolsonaro teceu elogios a Alexandre Ramagem, ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência e alvo de uma investigação da PF que apura a existência de uma estrutura paralela de monitoramento ilegal na agência sob o comando dele.
Segundo ele, “Ramagem é um cara fantástico”. O presidente criticou as investigações, chamando-as de “narrativa”. “Essa nova narrativa agora: ‘Abin paralela do Bolsonaro’. Essa acusação está em cima do delegado Ramagem, um cara fantástico”, disse o ex-capitão.
Operação da PF mira Carlos Bolsonaro
Um computador que pertence à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi apreendido na casa de um militar do Exército durante a operação da Polícia Federal (PF) que também tem como alvo o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. A informação foi confirmada por fontes da PF à reportagem. O equipamento estava na residência de Giancarlo Gomes Rodrigues, em Salvador.
Outros dois computadores, dez celulares, um token e uma arma também foram apreendidos.
A reportagem também apurou que o militar estava cedido para a Abin durante a gestão do então diretor-geral da agência, Alexandre Ramagem (PL-RJ). Ele exercia o cargo de assessor. A esposa dele, que não é alvo da operação, é servidora da Abin.
A operação da PF desta segunda-feira (29) apura os destinatários que teriam recebido as informações obtidas a partir do suposto esquema de monitoramento ilegal com o sistema da Abin. Agentes da PF também fizeram buscas na casa e no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro.
A casa do parlamentar é localizada no Condomínio Vivendas da Barra, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), onde o pai também possui um imóvel. Além da capital fluminense, os nove mandados são cumpridos em Brasília (DF), Goiás e Bahia.
A operação investiga o monitoramento ilegal da Abin durante o governo Jair Bolsonaro, que teria acompanhado autoridades brasileiras, como os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
A operação da PF foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, e apura quem recebia as informações ilegais do monitoramento. Na última quinta-feira (25), o deputado federal e ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem (PL-RJ) também foi alvo de busca e apreensão, com visita dos agentes no gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados.
Fonte: R7