Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Ministério da Justiça, comandado por Flávio Dino, e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), cujo titular era o general Gonçalves Dias, foram reiteradamente avisados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) da possibilidade de atos violentos, que de fato ocorreram em 8 de janeiro.
A informação foi publicada pelo Jornal Folha de S.Paulo, na noite de quinta-feira (27), com base em documentos sigilosos obtidos pela reportagem.
Gonçalves Dias, que se demitiu depois da divulgação de imagens em que ele aparecia dentro do Planalto no momento da invasão, e Dino negam ter recebido os alertas.
A informação de que a Abin tinha feito alerta sobre os possíveis atos de vandalismo entre 6 e 8 de janeiro já tinha sido divulgada pela imprensa. Agora, porém, os documentos obtidos pela Folha mostram a quem esses alertas foram enviados.
Esses documentos sigilosos da Abin já estão com o Congresso Nacional, segundo a Folha. Foram enviados pela Abin à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), em 20 de janeiro.
Além do GSI, outros 13 órgãos receberam os comunicados, incluindo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. No Ministério da Justiça, de acordo com o jornal, quem recebeu informes ao menos desde o dia 2 de janeiro foi a Diretoria de Inteligência.
No caso do GSI, a Abin mostra que o próprio Gonçalves Dias recebeu em seu celular ao menos três alertas desde 6 de janeiro. A partir desse dia, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal também começaram a ser atualizadas.
A Abin enviou mensagens ao GSI e à equipe de Dino em 6 de janeiro, às 19h40; em 7 de janeiro, às 10h30 e 12h; e sete mensagens em 8 de janeiro, ate as 14h45.
Segunda a Folha, o documento mostra que, apesar de os alertas terem sido enviados ao ministro do GSI a partir de 6 de janeiro, a Abin já relatava a sete órgãos federais a situação de manifestações contra a eleição de Lula em rodovias e capitais.
Recebiam os informes o Centro de Inteligência do Exército, o Centro de Inteligência da Marinha, Assessoria de Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa, a Diretoria de Inteligência do Ministério da Justiça, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Ministério da Infraestrutura e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A partir do dia 6, no entanto, o GSI, a PF, a PRF e órgãos de segurança do Distrito Federal também foram incluídos nos informes da Abin.
Em depoimento à PF, Gonçalves Dias negou que tivesse recebido relatórios da Abin e disse que só soube dos alertas enviados pelas equipes de inteligência quando reuniu as informações para responder os questionamentos da CCAI.
O Ministério da Justiça, em nota, afirmou não ter recebido os informes de inteligência. Em audiência na Câmara no mês passado, Flávio Dino afirmou: “Inventaram que eu recebi um informe da Abin, que é tão secreto que ninguém nunca leu, nem eu mesmo. Por quê? Por uma razão objetiva: eu jamais o recebi”.
Os alertas sobre o 8 de janeiro
A mensagem do dia 6 de janeiro informava que havia “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades” e que manifestantes tinham “acesso a armas” e “a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional”.
No dia seguinte, o informe é sobre a chegada de 18 ônibus de outros estados. “Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos”, segundo publicado pela Folha. No segundo informe do dia, a Abin fala em 105 ônibus com 3,9 mil passageiros chegando a Brasília.
No dia 8, os informes são sobre a chegada de cerca de 100 ônibus “para os atos previstos na Esplanada dos Ministérios”; sobre aumento no número de barracas; incitações para ocupação de prédios públicos e ações violentas; e relato sobre pessoas armadas.
A mensagem das 13h40 informa sobre o início do deslocamento à Esplanada; às 14h30, sobre a chegada à barreira policial; e às 14h45, o último comunicado informa sobre o rompimento da barreira policial em frente ao Congresso.
Fontes: Revista Oeste e Folha de S.Paulo