Por Cláudia Lemos
O Jornal Correio de Sergipe e o portal de notícias AJN1 iniciam uma série de entrevistas com candidatos a prefeito de Aracaju. A primeira é Niully Camos, que tem como vice Alexis Pedrão, também do PSOL. Advogada e professora, em 2016, Niully disputou eleição para vereadora em Aracaju; em 2018, disputou para deputada estadual e, em 2022, concorreu ao governo de Sergipe. Seu plano de governo inclui tarifa zero no transporte público e o fortalecimento da rede básica de saúde, com o dobro de profissionais nas equipes de saúde da família, psicólogo, psiquiatra e pediatra nos postos de saúde. Ela também promete priorizar investimento em Educação infantil, com a construção imediata de creches. Confira a entrevista a seguir:
Quem é Niully Campos (onde nasceu, quem são os pais, profissão, tem filhos?)?
Sou Niully Campos, nasci em Capela, em 21 de abril de 1988. Sou neta de Didica do Doce, filha da professora Izabel Cristina e de Marco Campos, mãe de Luan Davi e Elis, companheira de Thiago Ruas. Professora de Direito, advogada, feminista, socialista e candidata do PSOL à prefeitura de Aracaju.
Por que Niully Campos quer se tornar prefeita de Aracaju?
Para que o povo governe Aracaju. Eu não estou aqui por ser filha, esposa ou parente de algum político poderoso. Estou candidata porque compartilho a mesma coragem do povo de Aracaju, que acorda cedo todos os dias e enfrenta de frente os desafios desta cidade. Vou ser prefeita para fazer a máquina pública trabalhar na direção de quem mais precisa. Para mim, esse é o sentido de fazer política: melhorar a vida das pessoas, reduzir desigualdades.
Em 2016 a senhora concorreu ao cargo de vereadora; 2018 se candidatou para uma vaga na Alese, em 2022 disputou o governo de Sergipe. Como aconteceu seu ingresso na política e o que ficou de aprendizado dessas experiências anteriores?
Ingressei na política ainda na juventude. Fui a primeira mulher presidente do DCE da UNIT, diretora da UNE em Sergipe e desde então sigo na luta pelos estudantes, pelas mulheres, pelo povo negro. Disputei para cargos proporcionais e alcancei a suplência em ambas as eleições (2016 e 2020). Fui a candidata do PSOL ao governo do estado, proporcionalmente mais votada do pais em 2022. Essas experiências me ensinaram que o caminho de quem não se rende e não se vende aos benefícios do poder é, sem dúvida, mais difícil. No entanto, é um caminho que vale a pena percorrer, pois é o único que garante a independência necessária para implementar mudanças reais na gestão, aquelas que de fato transformam a vida das pessoas.
O que a senhora quer dizer quando afirma que vai desprivatizar a Prefeitura?
A cidade inteira é gerida sob uma lógica que privilegia muito poucos. Os hospitais, a maternidade, serviços na educação, tudo é terceirizado. Nós vamos mudar a lógica de gestão do orçamento, que estará a serviço da população de forma transparente. Retomar a gestão pública dos hospitais e maternidade, revogar licitação fraudulenta para garantir Busão 0800, reduzir filas na saúde, pagar o piso de professores, realizar concurso nas diversas áreas, etc.
Que avaliação a senhora faz da gestão Edvaldo Nogueira?
A gestão de Edvaldo Nogueira tem privatizado Aracaju em vários aspectos. Hospitais, maternidades e até serviços na educação foram terceirizados, além de não existir diálogo com os servidores nem realização de concursos. A cidade está servindo aos interesses de grandes empresários e da especulação imobiliária. Aracaju está indo na contramão do que o mundo tem buscado, derrubando árvores, concretando espaços, aterrando lagoas e destruindo reservas ambientais e rios como o Vaza Barris. O resultado é uma cidade com um transporte público caro e de baixa qualidade, filas longas para exames simples, servidores desmotivados, e que alaga em poucos minutos, sem estar preparada para emergências climáticas.
Entra governo e sai governo e as reclamações na área da saúde continuam: falta de medicamentos, longa espera por consulta médica e exames etc. O que a senhora pretende fazer pela saúde do município de Aracaju?
Vamos fortalecer a rede básica de saúde, com a meta de dobrar as equipes de saúde da família, garantia de psicólogo, psiquiatra e pediatra nos postos de saúde, priorizando a atenção primária e investindo em saúde da mulher. Vamos reestruturar e garantir a gestão pública dos hospitais municipais e maternidade, com foco imediato na redução das filas de exames, incorporando tecnologia e garantindo a realização de exames simples na própria Unidade Básica de Saúde; vamos pagar o piso dos profissionais de enfermagem e dos agentes comunitários de saúde e endemias.
O povo de Aracaju pode esperar uma gestão que priorize a prevenção e a promoção da saúde como elementos centrais da política municipal. Saúde pública não pode se resumir apenas ao atendimento de urgência e emergência. A saúde começa com saneamento básico, alimentação saudável, condições dignas de moradia e trabalho. Vamos trabalhar para garantir segurança alimentar através da oferta de renda básica e cozinhas solidárias, além de incentivar a alimentação saudável com a criação de hortas comunitárias e agroecologia. Vamos promover ações permanentes de prática esportiva para juventude e para idosos.
Com relação a Educação, quais mudanças a senhora pretende implantar e como suprir o déficit de vagas, a exemplo das creches?
E vamos priorizar investimento em educação infantil, com construção e ampliação imediata de CRECHES, com atenção as necessidades de promoção de espaços pedagógicos, sociais e ecológicos, com alta qualidade ambiental; além de ESPAÇOS CORUJAS, funcionando em horários noturnos de atendimento das creches públicas para mães que trabalham e estudam em jornadas noturnas. Não podemos falar de qualidade na educação sem primeiro garantir melhores condições de trabalho para quem está no chão da escola. A rede pública municipal entrega computadores às vésperas da eleição, mas deixou as crianças sem internet para estudar na pandemia. Vamos investir na valorização das professoras, professores e profissionais da educação, com pagamento do PISO e reestruturação da carreira; investir nas escolas em tempo integral, com cultura, arte e esportes no contra turno, gestão escolar democrática, reforma e melhoria das escolas; Vamos retomar e ampliar o BOLSA ATLETA ARACAJU. Para inovar e melhorar a educação na rede pública municipal, é essencial criar um diálogo constante com a população. Precisamos ouvir as famílias, os professores e os estudantes, para juntos construirmos uma educação que atenda às reais necessidades de todos. Somente assim poderemos criar um ambiente educacional que seja transformador, tanto para os estudantes quanto para a sociedade.
Um dos seus compromissos de campanha é a tarifa zero no transporte público. Como seria isso?
Nosso compromisso é implementar o programa BUSÃO 0800, que garante tarifa zero no transporte coletivo de Aracaju para todos. Vamos oferecer ônibus de qualidade, equipados com ar-condicionado e movidos a biocombustível, assegurando que todos tenham acesso ao direito fundamental de se deslocar pela cidade para trabalhar, estudar, se divertir e aproveitar o espaço urbano. A tarifa zero já é uma realidade em mais de 100 cidades no Brasil, como em Caucaia, no Ceará, onde o programa “bora de graça” atende uma população de mais de 365 mil habitantes. Os números apontam um aumento de 25% no faturamento do comércio nas cidades que adotam o modelo, além de um aumento de arrecadação do Município. É distribuição de renda. O dinheiro que sobra no orçamento familiar, que não foi gasto com passagem, volta para a cidade, e melhora a vida das pessoas. Nós vamos começar com tarifa zero para os estudantes e vamos ampliando na medida em que ajustamos juridicamente e diversificamos a base de financiamento. Vamos custear o BUSÃO 0800 principalmente com recursos do município, por meio de uma empresa municipal de transporte. É desafiador, mas é possível e nós vamos fazer. Nas cidades que já adotam essa política, houve isenção tarifária e fonte de custeio variáveis. Houve cidades que fizeram novos procedimentos licitatórios e outras incorporaram a política tarifária em contratos de concessão vigentes, mediante aditamentos. Aqui em Aracaju vamos realizar um estudo para implementar a política de acordo com nossa realidade. E a licitação ilegal será revogada! As ilegalidades são apontadas pelo próprio Ministério Público. Não podemos permitir esse prejuízo ao povo de Aracaju.
A senhora fala em implantar uma gestão democrática. O que a senhora tem em mente?
Quando falo em implantar uma gestão democrática, estou me referindo a um modelo de administração que envolve a participação ativa da população em todas as decisões importantes. O povo tem que decidir para onde vai o orçamento. Isso significa criar canais de diálogo aberto e permanente com a sociedade, como conselhos comunitários, audiências públicas, e consultas populares tanto com auxílio do uso de aplicativos, como por meio de diálogo permanente nos bairros, onde as pessoas podem expressar suas opiniões e contribuir para a construção das políticas públicas.
O Psol optou por uma chapa “puro sangue”. Como se deu a escolha do seu vice, Alexis Pedrão, que é do mesmo partido?
Dialogamos até o último momento permitido pela legislação eleitoral, buscando formar uma ampla unidade no campo da esquerda em uma chapa liderada pelo PSOL. Construímos uma chapa formada por trabalhadores negros que representam a cara do povo de Aracaju. Essa eleição não inicia nem encerra nossa luta. Alexis Pedrão e eu fomos forjados na luta desde a juventude, e é com essa determinação que seguimos rumo à prefeitura de Aracaju. Alexis é um companheiro preparado, professor de Direito, Doutor pela UFS, pai, ativista do movimento negro, da luta por moradia, um trabalhador que assim como eu, vive os desafios da cidade. Alexis já foi candidato a prefeito pelo PSOL em 2020 e agrega muita qualidade e potencial eleitoral para nossa chapa.
O Psol caminhou ao lado de Lula. Por que não formar uma composição com o PT nesta disputa à Prefeitura de Aracaju?
Estivemos com o presidente Lula desde o primeiro momento em 2022, e em Sergipe, apoiamos o PT no segundo turno das eleições. Buscamos uma aliança com o PT para a disputa à Prefeitura de Aracaju, mas, apesar dos nossos esforços, não houve um gesto do PT em direção a essa composição. Respeitamos a decisão e apresentamos ao povo de Aracaju uma candidatura com a cara de nossa gente, representada por dois trabalhadores negros, com histórico nas lutas sociais e políticas, para defender um programa construído coletivamente a partir do acúmulo do PSOL e do permanente diálogo com o povo de Aracaju.
Nas pesquisas que têm sido realizadas a senhora aparece com um percentual de intenções de votos abaixo dos 5%, como pretende reverter esse quadro?
As pesquisas além de representarem o cenário de um momento, nem sempre refletem a realidade. Em 2022 eu aparecia com 1% nas pesquisas e quando as urnas foram abertas, obtive quase 12% dos votos válidos em Aracaju, com mais de 21 mil votos. Vamos conquistar as mentes e corações do povo aracajuano fazendo uma campanha propositiva, alegre, tomando as ruas e as redes de Aracaju como uma onda que ninguém trava. Nessa eleição eles tem o dinheiro e nós temos uns aos outros. Temos as pessoas. Vamos crescer rumo ao segundo turno das eleições.