ARACAJU/SE, 27 de novembro de 2024 , 7:34:37

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Campanha de Petro usou dinheiro de tráfico, admite filho

 

O filho do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, admitiu nesta quinta-feira (03) que o dinheiro que recebeu de um ex-narcotraficante foi usado na campanha política de seu pai no ano passado. Nicolás Petro aceitou colaborar no processo aberto pela Procuradoria contra ele por lavagem de dinheiro. Segundo analistas, a situação do presidente fica mais complicada com a confirmação, minando a sua credibilidade e enfraquecendo seu governo.

“Muda a natureza do escândalo. Até agora, parecia se tratar de um enriquecimento pessoal com mentiras por parte do filho do presidente. Agora, o escândalo envolve diretamente a campanha presidencial, e pode acabar no Congresso e até na Corte Suprema. Esse é um cenário que debilita o presidente”, afirma o cientista político Yann Basset, diretor do Observatório de Processos Eleitorais.

O primogênito do presidente era deputado regional no Departamento (equivalente a Estado) de Atlántico — que tem como capital a cidade de Barranquilla — e exerceu papel-chave na campanha presidencial de 2022. Ele havia sido preso no sábado, sob a acusação de ter recebido uma doação de o equivalente a US$ 124 mil de um ex-narcotraficante, após denúncia da ex-mulher, Dayssuris Vásquez, por meio uma entrevista à revista colombiana “Semana”.

Nicolás Petro aceitou colaborar no processo aberto pela Procuradoria contra ele por lavagem de dinheiro. Segundo jornais colombianos, o procurador do caso teria oferecido uma redução de 50% na eventual pena do filho do presidente em caso de colaboração com a Justiça.

A questão central agora é se o presidente tinha conhecimento sobre o uso e a origem desse dinheiro na campanha de 2022. “Há uma espada de Dâmocles sobre o presidente, cujo futuro vai depender do sucesso ou não de sua estratégia de convencer os colombianos que o filho agiu à revelia de sua vontade”, diz Gabriel Murillo Caetano, professor de ciências políticas da Universidade de Los Andes.

“A situação de Petro fica um pouco mais complicada, mas continua sem existir a figura de responsabilidade direta dele. Essa é a questão central. Se ele sabia, será um caso muito grave, mas até agora ele sustenta que não tinha conhecimento”, diz o analista político Mauricio Jaramillo, professor da Universidad del Rosario.

Segundo a Procuradoria, Nicolás recebeu o dinheiro de Samuel Santander López Sierra, conhecido como o Homem Marlboro e condenado por narcotráfico nos EUA. “Parte desse dinheiro foi usada pelo próprio senhor Nicolás Fernando Petro Burgos, e outra foi investida na campanha presidencial de 2022″, disse o procurador do caso, Mario Burgos, em audiência judicial ontem. A Procuradoria pediu a manutenção da prisão domiciliar de Nicolás, por não haver risco de tentativa de obstrução à Justiça.

O processo corre às vésperas de Petro completar um ano no poder e da Cúpula da Amazônia, que será realizada no Brasil a partir de segunda-feira. A mudança climática foi uma das principais bandeiras do presidente durante a campanha política e, ao tomar posse, ele afirmou querer desempenhar um papel de liderança internacional no tema ao lado do Brasil.

“Não está clara a origem do dinheiro ilícito, então, neste momento, ele [Petro] não fica tão prejudicado com relação à cúpula da Amazônia. Mas, de todas as formas, essas dificuldades internas lhe vão debilitar no cenário internacional”, afirma Basset.

De acordo com fontes em Bogotá, o presidente não deve alterar sua agenda política para os próximos dias, até como forma estratégica de manter isenção com relação ao caso.

Ontem, Petro esteve ao lado dos líderes do Exército de Libertação Nacional (ELN) na capital colombiana em um encontro inédito para formalizar o primeiro dia do cessar-fogo bilateral.

Fonte: Valor

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