ARACAJU/SE, 5 de janeiro de 2025 , 21:56:14

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Cenário fiscal e articulação política serão desafios de Lula neste ano

 

Lula subiu a rampa do Planalto em 2023 ladeado por pessoas que representam a diversidade brasileira: uma mulher negra, uma pessoa com deficiência, um indígena, uma criança negra e um operário. Com o antecessor abrigado nos Estados Unidos, o petista recebeu a faixa presidencial das mãos “do povo brasileiro”. A força simbólica do ato foi destaque no mundo inteiro.

Em seu terceiro ano de mandato, no entanto, o petista segue devendo a esse mesmo “povo brasileiro”. As muitas promessas ainda por cumprir, que afetam a popularidade do governo, são desafios importantes para o petista nesse novo período.

Estruturada em programas reciclados e velhas fórmulas políticas, a atual gestão petista apostou no gasto público como motor do desenvolvimento, colhendo um cenário de alta do dólar e disparada dos juros. As estatais fecharam o ano passado com prejuízo superior a 6 bilhões de reais e a picanha, tão anunciada na campanha, terminou 2024 na casa dos 77 reais — e nem se fale no preço da gasolina.

Nos primeiros dois anos de mandato, Lula combateu o crime na Amazônia, viajou algumas vezes à região, mas não conseguiu livrar os índios das pragas do garimpo e do crime organizado, que ampliaram a presença na mata, apesar dos milhões gastos pelo Exército em diferentes operações.

Na área ambiental, o país enfrentou desastres climáticos por excesso de chuva no Sul e pela seca e as queimadas em outras regiões do país, elevando a degradação florestal na Amazônia ao pior cenário em nove anos. A prometida reconstrução do Rio Grande do Sul segue a passos lentos. Lula até anunciou a criação de uma Autoridade Climática para lidar com esses desafios, mas ela segue na gaveta dos burocratas da Casa Civil.

O petista também prometeu zerar a fila do INSS, mas ela continua no patamar de 1,7 milhão de brasileiros em angustiante espera.

A segurança pública foi um tormento para os brasileiros em todo o país. Distante do tema, Lula deixou as propostas de Ricardo Lewandowski cozinhando o ano todo no Planalto. Podem não ser as melhores, mas são as únicas apresentadas pelo governo.

Com tantos ministérios, Lula acabou sofrendo por pura falta de coordenação da máquina, com ministros cumprindo agendas de interesse pessoal, gastando milhões em múltiplas viagens internacionais e lançando propostas ao vento — quem não lembra da ideia de colocar Os Correios para substituir a Uber no país? — em um quadro crônico de desarticulação.

O cenário foi agravado pela pouca disposição de Lula de se reunir com parlamentares e articular pessoalmente a política de seu mandato. Lula também viajou para muitos lugares nesses dois anos, perdeu tempo valioso com questões distantes da realidade doméstica e acabou vendo sua popularidade encontrar a impopularidade (35% de “ótimo/bom”, 34% de “ruim/péssimo”, segundo o Datafolha de dezembro) nas pesquisas.

Nem tudo, no entanto, foi ruim. A renda média do trabalhador subiu e o desemprego fechou o ano em 6,2%, o menor patamar desde o início da série histórica, em 2012. No Natal, apenas nos shoppings, as vendas foram as maiores dos últimos cinco anos, com quase 6 bilhões de reais em faturamento — bom analisar os dados de endividamento das famílias nos próximos meses para interpretar essa marca.

Em seu terceiro ano de mandato, Lula precisará criar um espírito coletivo em seu primeiro escalão, com tarefas claras e metas definidas a cumprir. Precisará conquistar apoio no Congresso, reconstruir a credibilidade de sua política fiscal, bastante afetada pelo tardio e insuficiente pacote de corte de gastos apresentado no fim do ano passado.

Sem orçamento, terá de buscar alternativas para recuperar o tempo perdido e fazer deste ano uma virada de chave numa gestão que prometeu muito, entregou pouco e que, segundo as pesquisas, não faz o “povo brasileiro” — aquele que subiu a rampa — sonhar.

Fonte: VEJA

 

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