O ex-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Mike Benz, afirmou nessa quarta-feira (6), em audiência pública na Câmara dos Deputados, que a CIA (Agência Central de Inteligência americana) interferiu nas eleições nacionais de 2022 para impedir a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ele afirmou que funcionários do governo americano, por meio de entidades, financiaram agências brasileiras para promover censura contra o campo direitista e que advertiram o governo de Bolsonaro a não questionar as urnas eletrônicas.
Benz é ex-funcionário do governo americano, da primeira gestão de Donald Trump. Ele disse que a interferência no pleito eleitoral brasileiro teria ocorrido através da Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional), criada em 1961, considerada durante décadas como a maior distribuidora de ajuda humanitária do mundo, e que foi fechada mês passado pelo republicano. Trump afirmou que a organização era formada por “radicais loucos de esquerda”.
Benz apontou que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, era a pessoa responsável pela ligação com funcionários do NED (Fundo Nacional para a Democracia), cujo órgão era comandado pelo partido democrata, sigla que estava no poder, segundo ele.
Durante a audiência, Benz mostrou trechos de reportagens que saíram na imprensa americana, documentos abertos do governo americano, declarações públicas e até mesmo um vídeo em que Barroso fala a sobre a parceria entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o WhatsApp nas eleições de 2022. A Gazeta do Povo entrou em contato com o STF para saber o posicionamento da Corte e do ministro a respeito das alegações de Mike Benz e, caso tenha uma resposta, este texto será atualizado.
Ele afirma que a National Democratic Institute, ONG que ele afirma ser ligada aos democratas, através de uma iniciativa global, “encobriu as ações da CIA, iniciada menos de um mês após Bolsonaro vencer a eleição em outubro de 2018. Esse ramo do Partido Democrata e da CIA não esperou sequer um mês para começar a atacar a internet brasileira, acusando-a de viabilizar que Bolsonaro se tornasse presidente”.
Entre as acusações apresentadas por Benz, ele aponta que a Usaid teria financiado ONGs, movimentos e veículos de esquerda, com objetivo de censurar opositores e impedir comunicações entre 2019 e 2022, período em que Bolsonaro foi presidente. Ele apontou que o órgão chegou a ter “aulas de como censurar a internet brasileira”.
Entre as agências que supostamente foram financiadas com fundos americanos, estão a “Agência Lupa e outras agências brasileiras como a Abraji”.
“Eu não acho que uma entidade deveria ser paga por um Departamento de Estado para fazer uma investigação. Afinal, quem paga dá as cartas. Você não vai receber mais recursos se acusar os seus patrocinadores. É por isso que há uma cortina de fumaça na mídia brasileira que está nessa rede”, afirmou Benz.
O ex-funcionário americano também apontou contra o Projeto Comprova, uma iniciativa dita colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas para zelar pela integridade da informação que molda o debate público.
Ele chamou as agências brasileiras que compõem o Comprova de “marionetes americanas”.
Após a oitiva de Benz, o deputado Felipe Barros (PL-RJ), um dos responsáveis pela audiência, afirmou que as supostas participações do governo americano no pleito há três anos configuram um “claro atentado à nossa soberania” e apelou para uma investigação.
As agências citadas ainda não se pronunciaram sobre as acusações de Benz feitas nessa quarta-feira. Entretanto, já haviam se manifestado antes sobre outras declarações do ex-secretário.
A Lupa afirmou, em fevereiro, que jamais recebeu recursos diretamente do Usaid e que não tem, nem nunca teve, relação com a entidade. Disse ainda que os repasses que recebeu foram do ICFJ, voltados a projetos sobre os atos de 8 de janeiro, e que não tem controle sobre a origem dos recursos dessa organização.
A agência destacou que atua apenas em defesa da qualificação do debate público, da integridade da informação e da educação midiática.
Outro alvo de acusações de Benz, a agência Aos Fatos afirmou que declarações dadas porBenz em fevereiro “não se sustentam” e eram baseadas em “desinformações”.
Fonte: Gazeta do Povo