A reunião ministerial convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira (18), teve cobrança, explicações do presidente sobre falas mal colocadas, reclamação e choro. Com a popularidade do governo em queda, o petista chamou os ministros para um encontro no Palácio do Planalto para tentar reverter a percepção da população sobre as ações de sua terceira gestão.
Essa foi a primeira reunião com todos os ministros em 2024 – a exceção foi Mauro Vieira (Relações Exteriores), que está em viagem. A fala de abertura de Lula e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi transmitida pelos canais oficiais do governo. Neste momento, Lula chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de “covardão” e que o governo precisa fazer “muito mais”. Ele e Costa elencaram avanços da gestão petista em 2023. Depois disso, o encontro continuou fechado.
Ao contrário das reuniões ministeriais que ocorreram em 2023, quando cada integrante apresentou propostas, desta vez só Lula e sete ministros falaram. Foram eles: Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Nísia Trindade (Saúde), Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Rui Costa (Casa Civil), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Cida Gonçalves (Mulheres) e Fernando Haddad (Fazenda).
Os ministros falaram de ações de suas pastas. Haddad, por exemplo, falou de propostas prioritárias, como a Nova Lei de Falência, regulação bancária e normas para o sistema de seguros.
Cobranças e choro
A reunião teve cobrança sobre os ministros para que trabalhem para divulgar as ações que fizeram e do governo como um todo. Um dos pontos de incômodo citados por Lula foi sobre a questão da dengue. O país soma mais de 1,4 milhão de casos neste ano e 340 mortes pela doença.
O presidente usou o caso para ilustrar situações que chegam a seu conhecimento quando já estão em um ponto crítico. O presidente fez cobranças a Rui Costa e Nísia Trindade. Durante a conversa e as cobranças de Lula, a ministra se emocionou e chorou. Além da crise da dengue, Nísia é alvo de pressão por parlamentares do centrão e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No final de semana, ela se reuniu com Lula e Paulo Pimenta no Palácio da Alvorada. O tema do encontro não foi divulgado.
Comparação entre Holocausto e Israel
Lula tocou em temas sensíveis para o governo. Ele citou um tema crítico para o eleitorado evangélico: a fala em que comparou as ações de Israel contra palestinos na Faixa de Gaza. Aos ministros, Lula disse que a comparação não era sobre o povo judeu ou às referências bíblicas sobre Israel, e sim especificamente sobre a gestão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
Ainda que diferentes lideranças mundiais e a Organização das Nações Unidas (ONU) apontem excessos e façam críticas às ações de Israel contra civis em Gaza, nenhuma autoridade fez comparativos com o Holocausto – assassinato em massa de 6 milhões de judeus e grupos perseguidos pelo regime nazista na Segunda Guerra Mundial.
Lula foi criticado inclusive por aliados, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que é judeu. Segundo pesquisa Quaest, “a pior avaliação veio dos evangélicos, que respondem por 30% do eleitorado brasileiro, influenciado pelas declarações em que Lula comparou a guerra em Gaza com a ação de Hitler na Segunda Guerra Mundial”.
Apesar de dar explicação aos ministros, publicamente Lula não fez retificações sobre a fala.
Comunicação do governo
O presidente fez uma análise sobre a comunicação do governo como um todo e cobrou melhorias em nível regional. Ele entende que o governo retomou e ampliou programas sociais, como Bolsa Família, Farmácia Popular, Minha Casa Minha Vida, melhorou os índices da economia, como Produto Interno Bruto (PIB) e desemprego, mas não consegue fazer com que a população vincule esses avanços com o trabalho de sua gestão.
O ministro Paulo Pimenta (Secom) anunciou que fará uma campanha digital sobre dois programas chave para o governo: o Bolsa Família e o Farmácia Popular. Além disso, foi cobrado que ministros ajudassem na divulgação de ações do governo como um todo, não apenas de suas pastas e viagem mais pelo país.
Igualdade salarial
Outro tema sensível para o governo é sobre a participação de mulheres. Lula demitiu duas ministras e uma presidente da Caixa para acomodar homens indicados pelo centrão. Além disso, nas duas vagas que teve para o Supremo Tribunal Federal (STF), preferiu homens em vez de mulheres.
Durante o encontro desta segunda-feira, Lula disse à ministra Cida Gonçalves que quer que a igualdade salarial seja uma marca de seu governo. A lei que garante salários iguais para homens e mulheres na mesma função foi sancionada ano passado.
Fonte: Terra
Foto: Ricardo Stuckert