O segundo turno das eleições presidenciais na Turquia acontece neste domingo (28), marcada pelo fato de a oposição ameaçar derrotar Recep Tayyip Erdogan e tirá-lo do poder após 20 anos.
Ele disputa contra Kemal Kilicdaroglu, integrante de uma aliança sem precedentes de seis partidos e líder do Partido Republicano do Povo.
Pesquisas antes do primeiro turno previam uma corrida eleitoral acirrada entre ambos, mas, para surpresa de alguns, Erdogan conseguiu vantagem de cerca de cinco pontos percentuais, conquistando 49.52% dos votos. Era necessário ultrapassar a barreira dos 50% para que ele fosse eleito.
A corrida representa o maior desafio até agora para o líder turco há 20 anos, Erdogan, que enfrentou cenário econômico adverso e críticas devido ao impacto do devastador terremoto de 6 de fevereiro. Entretanto, agora ele desponta como favorito.
Ele chegou ao poder em 2003, como primeiro-ministro, e se tornou o presidente em 2014, ampliando os poderes do cargo a partir de uma reforma constitucional três anos depois. Ele foi reeleito em 2018.
No topo da lista de preocupações dos eleitores está a economia e os danos causados pelo terremoto. Mesmo antes do desastre de fevereiro, a Turquia lutava contra o aumento dos preços e uma crise cambial que em outubro viu a inflação atingir 85%.
Apoio do terceiro colocado e promessa
Na segunda-feira (22), um movimento que pode ser decisivo aconteceu a favor de Erdogan: o terceiro colocado no primeiro turno das eleições presidenciais da Turquia, Sinan Ogan, anunciou apoio ao atual líder.
Ogan recebeu 5,17% dos votos, afirmando que só apoiaria algum dos dois se adotassem políticas rígidas em relação aos refugiados e a alguns grupos curdos que ele considera terroristas.
Erdogan, por sua vez, prometeu continuar com cortes de taxas de juros para reduzir a alta inflação. Em entrevista à CNN, pontuou ainda que isso significa que não mudará a política econômica.
Efeitos de possível derrota de Erdogan
À CNN, Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do Ibmec Belo Horizonte, pontuou que um possível revés de Erdogan pode gerar mudança de orientação do governo da Turquia.
“O atual presidente é representante de uma ampla aliança conservadora e seus adversários pertencem a grupos mais voltados à centro-esquerda”, afirmou.
Leandro Consentino, especialista em Relações Internacionais, cientista político e professor do Insper, por sua vez, disse que o atual chefe de Estado tem realizado reformas iliberais. Com a alternância de poder, poderia haver um regime mais “disposto a liberdades democráticas”, na visão do especialista.
A comunidade internacional também estará de olho nas eleições turcas, porque, além das questões internas, o país faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e tem forte relação com a Rússia, sendo, por exemplo, um entrave para a adição de novos membros ao grupo militar.
Recentemente, Vladimir Putin, presidente russo, participou virtualmente da inauguração de uma usina nuclear em Akkuyu, na Turquia. Ela é propriedade e será operada pela estatal russa Rosatom.
Esse movimento aumenta a dependência energética turca com relação aos russos, o que não é visto com bons olhos por potências do Ocidente.
Consentino avaliou que, se Erdogan for derrotado, a relação com a Rússia pode ser impactada, pois a oposição flertaria muito mais com os países ocidentais. Mesmo se ele triunfar com pequena margem, o especialista pondera que “correções de rumo” na política externa podem ocorrer.
Ainda assim, outros analistas entendem que há limites na articulação turca neste sentido, o que barraria um eventual corte de laços com a Rússia.
Onur Isci, professor assistente de relações internacionais na Bilkent University, em Ancara, pontuou à CNN que isso se deve ao quão profundamente entrelaçadas as economias turca e russa estão.
Como funcionam as eleições na Turquia
As eleições para presidente e para o Parlamento na Turquia acontecem simultaneamente a cada cinco anos.
Os partidos podem indicar candidatos à Presidência se tiverem ultrapassado a marca de 5% dos votos nas últimas eleições parlamentares ou caso tenham 100 mil assinaturas apoiando uma nomeação.
O candidato que tiver mais de 50% dos votos no primeiro turno será eleito. Se isso não ocorrer, há segundo turno entre os dois nomes mais bem votados.
Já no caso do Parlamento, o país segue o sistema de representação proporcional, sendo que o número de assentos que um partido obtém — do total de 600 cadeiras — é diretamente proporcional aos votos que ganha.
Entretanto, os partidos precisam conseguir pelo menos 7% dos votos — sozinhos ou em “aliança” — para poder colocar representantes no Congresso.
Neste domingo (28), as urnas abriram às 8h e fecharam às 17h no horário local — das 2h às 11h, de Brasília. Os resultados devem sair por volta de 21h, também no horário local (15h de Brasília).
Fonte: CNN Brasil