Na mais recente reviravolta na saga da sucessão para o posto de CEO da Vale, o conselheiro José Penido renunciou ao seu cargo, alegando haver “manipulação” e uma “nefasta influência política” permeando o processo.
Em uma carta de renúncia direcionada à administração da empresa, à qual o Conexão Política obteve acesso, Penido expressou desilusão. Ele mencionou que uma maioria no Conselho, influenciada por interesses particulares de certos acionistas e marcada por agendas pessoais e conflitos de interesse, havia se estabelecido.
Penido declarou sua perda de fé na integridade dos propósitos de acionistas relevantes da Vale em promover uma governança corporativa da empresa ao nível dos padrões internacionais de uma corporation.
Como uma medida para contornar o impasse sobre quem deveria assumir a liderança da mineradora, o conselho de administração da Vale optou, na última sexta-feira (8), por manter o atual CEO, Eduardo Bartolomeo, no cargo até dezembro deste ano, com uma votação de 11 a 2 a favor dessa decisão. Penido e Paulo Hartung foram os únicos membros do conselho que se posicionaram contra essa medida, enquanto a empresa continua o processo de busca por um sucessor.
Na reunião que precedeu a última votação, o conselho de administração da Vale encontrou-se em um impasse, com a votação dividida: seis membros apoiaram a recondução de Eduardo Bartolomeo ao cargo de CEO, enquanto outros seis votaram pela iniciação de um processo de sucessão, e houve uma abstenção.
Recentemente, tem sido notável a pressão política exercida sobre a companhia, especialmente por parte do governo, através da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que detém 8,6% das ações da Vale. Essa pressão inclui a tentativa de nomear o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o cargo de CEO. Além disso, a Cosan, que se tornou acionista da mineradora em 2022, também tem manifestado interesse em influenciar a escolha do próximo comandante, visando a nomeação de um candidato de sua preferência. Luis Henrique Guimarães, representante da holding de Rubens Ometto no conselho, é um dos cotados para o cargo e foi quem se absteve na votação que culminou no impasse.
José Penido, que serviu como conselheiro independente da Vale desde 2019, possui vasta experiência no setor de mineração. Ele ocupou o cargo de diretor na Samarco de 1992 a 2003, incluindo um período de 13 anos como CEO, e também presidiu o conselho da Fibria Celulose por uma década, empresa que posteriormente se fundiu à Suzano.
Leia a carta na íntegra
“Prezado Presidente,
Encaminho-lhe a minha renúncia ao mandato de membro independente do Conselho de Administração da Vale SA, para o qual fui eleito na Assembleia Geral de Acionistas da Vale, com mandato de maio/2023 a Abril/2025.
Apesar de respeitar decisões colegiadas, em minha opinião o atual processo sucessório do CEO da Vale vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política.
No Conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse. O processo tem sido operado por frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa, em claro descompromisso com a confidencialidade.
Não acredito mais na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale a padrão internacional de uma Corporation.
Neste contexto, minha atuação como Conselheiro independente se torna totalmente ineficaz, desagradável e frustrante.
Por isto apresento minha renúncia.”
Fonte: Conexão Política