Criada sob o argumento de combater o avanço das facções criminosas no país, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado no Senado deve se tornar um novo foco de tensão política no Congresso e um ponto de pressão sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com a segurança pública entre as principais preocupações do eleitorado brasileiro, a oposição articula estratégias para transformar a comissão em um instrumento de desgaste político, mirando o apetite de Lula de tirar o poder dos estados sobre a segurança e transferi-lo para o governo federal.
A violência é uma das principais preocupações da população, segundo pesquisas de opinião recentes. A pesquisa Quaest, divulgada no dia 4 de junho, mostrou que a maior preocupação dos brasileiros é a violência, que foi mencionada em 30% das respostas dos entrevistados. Os dados foram obtidos com as entrevistas de 2.004 pessoas entre os dias 29 de maio e 1º de junho em 120 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com grau de confiança de 95%.
O autor da proposta de CPI, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), destacou que o crime organizado está inserido nos órgãos públicos do país. “Infelizmente, o crime organizado no Brasil também está inserido hoje na estrutura pública brasileira. Então, uma comissão parlamentar de inquérito que dê voz aos profissionais de segurança, àqueles que efetivamente enfrentam o crime, poderá enfrentar cada vez mais esse dilema que nós temos e soluções efetivas, democráticas e eficientes para o combate ao crime”, afirmou o senador.
Esse cenário oferece um terreno fértil para desgaste da imagem do governo. O senador Magno Malta (PL-ES), indicado pelo seu partido para ser o relator da CPI, afirma que as investigações podem gerar um grande impacto. “Na minha avaliação, o crime organizado está, infelizmente, infiltrado em áreas que orbitam o poder atual”, disse o senador à Gazeta do Povo.
Apesar da sensação de violência captada nas pesquisas ser alta, as estatísticas criminais mostram uma redução geral no número de mortes. Segundo o Mapa da Segurança Pública, divulgado pelo governo Lula neste ano, os homicídios caíram 6,33% em 2024 em relação ao ano anterior, atingindo 35.365 vítimas.
Mas a queda é puxada por estados cujos governos não são alinhados com Lula. Os dez estados que registraram as maiores proporções de homicídios para cada 100 mil habitantes são governados por partidos de esquerda ou que fazem parte da base de apoio ao governo. Nesse contexto, Lula tenta aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública para aumentar a influência do Executivo sobre as políticas de segurança pública dos estados. Esse ponto deve ser um dos mais criticados pela oposição na CPI.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), leu o requerimento da criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado no dia 17 de junho, mas os trabalhos da comissão só devem ser iniciados após a instalação, que está prevista para agosto, após o recesso parlamentar.
Fonte Gazeta do Povo