O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom contra os Estados Unidos nesta quinta-feira (17), durante pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, ao acusar o país de praticar uma “chantagem inaceitável” em forma de “ameaças às instituições brasileiras”. Segundo ele, o tarifaço de 50% contra produtos nacionais é baseado em informações falsas e tem o apoio de políticos brasileiros, a quem Lula classificou como “traidores da pátria”. Além disso, o presidente disse que seu governo não aceitará “ataques” ao Pix, sistema instantâneo de pagamentos que será “protegido” pelo Brasil.
Logo no início do discurso, Lula admitiu que seu governo foi “surpreendido” pela carta na qual o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou a intenção de taxar as importações brasileiras. “Fomos surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto”, disse.
Em seguida, ele afirmou que o Brasil sempre esteve “aberto ao diálogo”. “Fizemos mais de dez reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, complementou.
Na sequência, Lula saiu em defesa do Judiciário brasileiro, que está sendo criticado por Trump por conta do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para Lula,
Para Lula, isso é um “grave atentado à soberania”. “Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional”, argumentou.
Apesar de não mencionar Bolsonaro diretamente, Lula acusou políticos brasileiros de darem “apoio” a Trump, o que teria lhe deixado “indignado”. Segundo o presidente, os envolvidos nessa ofensiva são “verdadeiros traidores da pátria” que “não se importam” com o impacto das medidas contra a economia brasileira.
“Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo”.
Além disso, o presidente voltou a dizer que vai proteger as famílias brasileiras de redes sociais que promovem “golpes e fraudes”, numa clara referência às chamadas “big techs” americanas — um dos argumentos utilizados pelos Estados Unidos para justificar as sanções. Sobre isso, Lula defendeu que nenhuma empresa está “acima da lei” brasileira.
“A defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras. No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei”, enfatizou.
“É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas”, complementou.
Neste mesmo sentido, Lula explicou que o governo está ouvindo integrantes do “setor produtivo”, “sociedade civil” e “sindicatos” para orquestrar uma “grande ação conjunta” contra as tarifas. Ainda assim, ele enfatizou que sua gestão vai continuar apostando “nas boas relações diplomáticas”.
“Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores. Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer. Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo”, contou.
No mesmo pronunciamento, Lula também disse que são “falsas” as alegações de Trump de que o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos está prejudicando os americanos. “A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de 410 bilhões de dólares”, acrescentou.
Lula ainda citou o Pix, mecanismo de pagamento que deve ser investigado pelo Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR).
“O Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo”, esclareceu.
Por fim, o presidente brasileiro afirmou que utilizará “todos os instrumentos legais para defender” a economia brasileira, desde recursos à Organização Mundial do Comércio (OMC) até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.
“Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono, o povo brasileiro”, concluiu.
Fonte: Valor