O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, defendeu nesta sexta-feira (4) o ataque com mísseis lançado pelo país contra Israel e o atentado terrorista, conduzido pelo Hamas. Em um raro discurso público, durante uma cerimônia em memória de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah morto em um bombardeio israelense no Líbano, Khamenei prometeu que os aliados de Teerã na região vão continuar lutando contra as forças do Estado judeu, e que “Israel não vai durar”.
— A operação das nossas Forças Armadas há poucos dias foi totalmente legal e legítima. — disse Khamenei, argumentando que as ações iranianas foram a “punição mínima” contra os “crimes espantosos” de Israel. Ele acrescentou, ao fim do discurso: — Israel não vai durar.
O líder religioso e político iraniano não era visto em público a dias. Após a ação israelense que matou Nasrallah no Líbano, o aiatolá foi levado a um abrigo em localização indeterminada, informaram fontes internacionais. A aparição pública para conduzir as orações de sexta-feira são um raro momento — a última vez que ele havia liderado as preces foi em 2020, após o assassinato do general Qassem Soleimani, em um bombardeio americano no Iraque.
O discurso de Khamenei acontece em um momento em que Teerã é tomado por expectativa diante da promessa de represália israelense após ser alvo de cerca de 200 mísseis iranianos no começo da semana. O ataque, segundo a Guarda Revolucionária iraniana, foi uma resposta calculada à morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, assassinado na capital do país em uma ação atribuída a Israel, e às execuções de Nasrallah e de um comandante iraniano.
Os múltiplos ataques israelenses alimentaram uma disputa interna a a ala moderada e a ala linha-dura do governo iraniano, que pressionava por uma resposta à altura. Agora, à medida que EUA e Israel anunciaram estarem discutindo juntos a possibilidade de bombardear instalações petrolíferas do Irã, Khamenei afirmou que respostas a agressões serão feitas no tempo certo.
— Não adiaremos nem apressaremos nossa resposta a Israel — disse Khamenei. — Israel afirma ser vitorioso, perpetuando assassinatos e matando civis.
Embora estivesse falando a uma multidão de milhares de iranianos, cuja língua oficial é o farsi, o líder iraniano direcionou mensagens em árabe. Ele convocou os grupos integrantes do “Eixo da Resistência” e países de maioria muçulmana a não recuarem diante da pressão militar israelense, e tentou elevar a moral de seus aliados na linha de frente.
— As nações muçulmanas têm um inimigo comum. Elas devem se unir para se defender contra esse inimigo, do Afeganistão ao Iêmen, e do Irã a Gaza e Líbano. Todos os países têm o direito de se defender contra agressores — disse o aiatolá no começo do discurso, citando mais tarde que o Hezbollah estaria “prestando um serviço à região”. — Israel nunca vai vencer o Hezbollah e o Hamas. O banho de sangue não vai enfraquecer a sua força (…) a resistência na região não vai recuar.
Contexto perigoso
O discurso de Khamenei conclamando a resistência de seus aliados regionais acontece em um momento que Israel ampliou sua campanha militar terrestre e aérea contra o Líbano. Enquanto o aiatolá discursava em Teerã nesta sexta, as Forças Armadas israelenses lançavam novos ataques contra o território libanês, enquanto o grupo xiita disparava novos foguetes contra diferentes regiões do Estado judeu.
O governo libanês, que não declarou guerra a Israel, disse que um bombardeio destruiu a principal estrada que liga o país a Síria, usada como rota de fuga da guerra por milhares de pessoas que decidiram se refugiar no país vizinho ou tomar voos para outros países, enquanto o Ministério da Saúde do país informou que 37 pessoas foram mortas e 151 ficaram feridas por ataques israelenses nas últimas 24 horas.
— A estrada que leva milhares de libaneses à principal passagem humanitária para a Síria está agora bloqueada após um bombardeio israelense — disse o ministro libanês dos Transportes, Ali Hamieh.
Sobre o ataque à estrada, o porta-voz de língua árabe do Exército israelense, Avichay Adraee, argumentou que a estrutura era usada pelo Hezbollah como rota para transportar armas.
Em meio aos confrontos, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, pousou em Beirute para reuniões com autoridades libanesas. A agenda, que já havia sido confirmada ontem por autoridades, incluiu uma visita ao primeiro-ministro, Najib Mikati.
A guerra também continua ativa em territórios palestinos. Na Cisjordânia, autoridades locais afirmaram que um ataque aéreo israelense ao campo de refugiados de Tulkarem matou 18 pessoas, sendo o mais mortal no território desde 2000. O Exército de Israel, por sua vez, disse que seu ataque no norte da Cisjordânia matou o líder do Hamas Zahi Yaser Abd al-Razeq Oufi, que acusou de participar de vários ataques.
Em Gaza, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas anunciou que o total de mortos no enclave chegou a 41.802, após outras 14 mortes serem registradas nas últimas 24 horas. Autoridades israelenses afirmaram que sirenes no sul do país, perto de Gaza, voltaram a soar na região pela primeira vez em dois meses.
Fonte: O Globo