ARACAJU/SE, 25 de outubro de 2024 , 12:35:44

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Garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami cresceu 7% no ano passado

 

A área de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami cresceu 7% e atingiu 5.432 hectares em 2023. O dado foi divulgado nesta sexta-feira (26) em relatório do Instituto Socioambiental e da Hutukara Associação Yanomami (ISA).

O número registrado em 2023 é menor do que o compilado de 2022, quando o avanço da atividade foi de 54%. “No entanto, este incremento revela, também, que a atividade ilegal continua operando com intensidade no território”, diz o relatório.

O texto, que reúne dados referentes à presença de garimpeiros na TI, diz que a atividade mineradora continua a produzir “efeitos nocivos” para o bem-estar da população indígena, mesmo com o estado de emergência de saúde decretado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Classifica, ainda, as ações do governo federal na região como “insuficientes”.

O documento usa dados do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal (SMGI), entrevistas com residentes na terra indígena e dados fornecidos pela organização ambiental Greenpeace.

Desmatamento

Ao todo, 21 das 37 regiões da TI Yanomami registraram casos de desmatamento associados ao garimpo. O local mais devastado, segundo o mapeamento, foi a parte próxima ao rio Couto de Magalhães, com 78 hectares de mata devastados pela atividade de mineração.

Além disso, o Sistema de Alertas da TI Yanomami confirmou a presença garimpeira em pelo menos 13 regiões do território: Alto Catrimani, Alto Mucajaí, Apiaú, Auaris, Homoxi, Kayanau (Papiu), Maturacá, Missão Catrimani, Palimiu, Papiu (Maloca Papiu), Uraricoera, Waikás e Xitei.

As organizações creditam a insistência da atividade ilegal na região às ações pouco frequentes do governo na TI, em especial no 2º semestre de 2023. No período, o Ministério da Defesa assumiu as atividades de expulsão dos mineradores, antes executadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“Se no 1º semestre o conjunto de operações e medidas de controle de acesso ao território contribuíram para a saída de boa parte dos invasores, no 2º semestre, com o relaxamento das ações de repressão, especialmente depois que as Forças Armadas assumiram um maior protagonismo nas operações, observou-se a reativação e a intensificação da exploração em diversas zonas”, diz o relatório.

O documento narra como exemplo a destruição do posto de saúde de Kayanau, depois que um grupo de garimpeiros retornou à região com a saída das forças de segurança da União.

No Rio Uraricoera, os moradores relatam intensificação no trânsito “com o afrouxamento das operações”. O local é uma das principais formas de mobilidade do grupo de mineradores pela TI.

Os indígenas entrevistados ainda denunciaram a reativação de algumas pistas de pouso, como as de Mucuim e Espadinha, depois que muitas delas foram neutralizadas no 1º semestre de 2023.

Saúde indígena

Para as organizações, o combate à crise de saúde yanomami só será possível com a expulsão completa do garimpo da terra yanomami. O Poder360 questionou o Ministério dos Povos Indígenas e a Casa Civil para saber quais estratégias de retirada estão em curso, mas não teve resposta até a última atualização desta publicação. O espaço segue aberto.

De acordo com dados da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), até novembro de 2023 a TI Yanomami registrou:

– 649 casos de malária, contra 15.561 em 2022;

– 5.598 casos de síndrome respiratória grave em 2023, contra 2.478 em 2022;

– 20.524 casos de síndrome gripal em 2023, contra 3.203 em 2022;

– 9.550 casos de doenças diarreicas agudas em 2023, contra 5.902 em 2022.

Os dados completos do ano passado ainda não foram divulgados.

As organizações pedem o anúncio de “ações setoriais” e “integradas” para promover uma ação emergencial coordenada. Requerem, ainda, um Plano de Proteção Territorial que inclua, entre outros pontos, uma rotina de patrulhamento na TI e a reocupação das unidades de saúde abandonadas. Pedem, por fim, a ampliação das parcerias e cooperações técnicas com organizações especializadas em saúde para a região.

O Poder360 consultou o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério da Saúde com relação aos requerimentos dos grupos.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que, desde janeiro de 2023, “aumentou o efetivo de profissionais, dobrou o investimento em ações de saúde e trabalhou para garantir a assistência e combater as principais doenças, como a malária e desnutrição no território Yanomami”.

O órgão menciona também a reabertura de sete polos-base que estavam fechados por ações criminosas de garimpeiros. Diz que 307 crianças diagnosticadas com desnutrição grave ou moderada foram atendidas e acompanhadas nos postos (leia a íntegra da nota do ministério no fim da publicação).

Crise subestimada

A ministra Sônia Guajajara já reconheceu que o governo subestimou a dimensão da crise na TI Yanomami e não resolveu o problema como prometido. Ela também disse que a questão não deve ser solucionada em 2024.

Em janeiro, quando assumiu o Planalto, Lula e uma comitiva de ministros foram a Boa Vista (RR) para reunião na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O governo anunciou medidas emergenciais para tratar a questão do povo indígena. Cerca de um ano depois, em encontro com os ministros do governo, o presidente afirmou que os problemas relacionados aos yanomami seriam tratados como questão de Estado.

Em 11 de janeiro deste ano, uma comitiva de ministros voltou a Roraima para monitorar a situação um ano depois de o governo federal decretar emergência em saúde pública na TI Yanomami. O governo também anunciou um investimento de R$ 1,2 bilhão em ações voltadas ao território, sobretudo na segurança e acesso a políticas públicas pelos indígenas.

Fonte: Poder360

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