O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, nesta terça-feira (25), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, após uma breve conversa entre os dois no Palácio do Planalto. Ela será substituída por Alexandre Padilha, que deixa a Secretaria de Relações Institucionais e abre caminho para o início da reforma ministerial.
Lula se reuniu com Nísia durante a tarde e comunicou a interlocutores que efetivou a mudança.
Padilha já chefiou a pasta no governo Dilma Rousseff (PT). A saída de Nísia também reduz, ao menos por enquanto, a quantidade de mulheres na Esplanada do petista: agora, elas chefiam nove de 38 ministérios.
Mais cedo, Nísia participou de cerimônia ao lado de Lula com autoridades para anunciar acordo para a produção de 60 milhões de doses anuais da vacina contra a dengue pelo Instituto Butantan. Funcionários do ministério encheram o salão do Palácio do Planalto. Aplaudiram a ministra quando sua presença foi anunciada. Ela também fez menção aos secretários da pasta.
Como a Folha antecipou na semana passada, Lula já havia avisado a aliados que substituiria a ministra. A gestão de Nísia vinha sendo alvo de queixas de integrantes do Congresso, de membros do Palácio do Planalto e do próprio presidente, que chegou a fazer cobranças pela falta de uma marca forte na área.
Ex-presidente da Fiocruz, Nísia entrou no cargo no começo do governo, com perfil técnico. Sua atuação, no entanto, foi marcada por críticas, crises sanitárias e a pressão do Centrão para ampliar o controle sobre o orçamento da pasta.
Em 2024, ela chegou a se emocionar e deixar uma reunião ministerial após o presidente da República ter feito uma cobrança para que ela começasse a “falar grosso”. No mês seguinte, Lula fez um gesto à aliada, dizendo que ela fala “com a alma e a consciência das pessoas”.
A mudança de Nísia ocorre num momento de baixa popularidade do governo federal. Há uma avaliação no Palácio do Planalto de que, nesse contexto, a pasta da Saúde tem potencial para apresentar e implementar políticas públicas de maior visibilidade, entre eles o ‘Mais Acesso a Especialistas’.
O programa promete reduzir filas e ampliar o acesso da população a exames e consultas especializadas nas áreas de oncologia, cardiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia. Auxiliares de Lula apostam que, sob nova direção, essa iniciativa pode ser uma vitrine e virar uma marca da gestão petista.
As conversas sobre reforma ministerial se arrastam há meses. Até o momento, Lula só tinha oficializado a entrada de Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência. Integrantes do entorno do presidente da República dizem que as mudanças começarão primeiro com integrantes do PT e com os ministros da chamada cota pessoal de Lula.
Essas possíveis trocas na Esplanada ocorrem num momento em que o petista é pressionado pelos baixos índices de popularidade de seu governo e precisa garantir sustentação política no Legislativo — também já mirando uma possível campanha à reeleição em 2026.
De um lado, é preciso garantir a governabilidade do Executivo no Legislativo, com a votação de matérias consideradas estratégias para o Palácio do Planalto e que poderão ajudar a aumentar a popularidade da gestão. De outro, o próprio Lula sinalizou que é preciso saber quais partidos que têm assento na Esplanada seguirão apoiando o projeto no futuro, afirmando que “2026 já começou”.
Para garantir governabilidade no Congresso, o petista distribuiu ministérios para partidos de centro e centro-direita, como PSD, União Brasil, MDB, Republicanos e PP. Apesar disso, no entanto, essa relação entre Executivo e Legislativo foi marcada por instabilidade nesses dois primeiros anos de gestão.
Lula também quer incluir os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), nessas conversas de reforma, assim como líderes e presidentes dos partidos aliados.
A cúpula da Câmara pleiteia um espaço no Palácio do Planalto, com a indicação do líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), na SRI com a saída de Padilha. Por esse desenho, aliados de Motta também gostariam de ver o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) com um assento na Esplanada.
O Ministério da Saúde também foi alvo de cobiça por integrantes do Centrão, inclusive de Lira, nesses dois primeiros anos da gestão petista. Isso porque a pasta tem uma das maiores verbas da Esplanada e é a que concentra o maior volume de emendas parlamentares.
Apesar da pressão, Lula indicou que não abriria mão de ter um petista no comando da Saúde — que, assim como o Ministério da Educação, controla áreas consideradas estratégicas para o governo.
A distribuição das emendas parlamentares pela Saúde foi alvo de queixas de integrantes do Congresso ao longo do mandato de Nísia. A cúpula da Câmara criticou o que chamava de baixa execução orçamentária da pasta.
Fonte: Folha de S.Paulo