Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Depois de acusar o ex-presidente Jair Bolsonaro de tentar pressioná-lo para um suposto golpe de Estado, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) recuou e disse que a proposta partiu somente do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).
“Foi Daniel quem disse tudo”, explicou Do Val, nesta quinta-feira (2). “O ex-presidente estava escutando comigo ao mesmo tempo que o Daniel falava”. O senador ainda disse que, no momento em que acusou Bolsonaro, estava muito nervoso por ter sido acusado de traidor. Nas redes sociais, o parlamentar estava sendo ofendido por supostamente ter votado no senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a presidência do Senado.
Silveira teria recebido informações de que Do Val possui acessos frequentes ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e, por isso, teria pensado no parlamentar para participar de uma “missão”.
“Ele me disse que iria me passar uma missão que poderia salvar o Brasil”, disse Do Val. “Um equipamento seria colocado em mim para que eu me reunisse com o ministro e ele deveria admitir que, em algum dos processos dele, havia ultrapassado as linhas da Constituição”.
Em 7 de dezembro, Silveira procurou o senador no plenário do Senado dizendo que o então presidente gostaria de conversar com ele. “Durante todo o governo Bolsonaro, eu nunca tive uma agenda sozinho com ele”, explicou Do Val. “Achei o convite estranho, avisei ao ministro Moraes e perguntei o que ele achava de tudo isso. Moraes me orientou a ir para saber o que eles queriam comigo. Então, marquei na sexta-feira (9) para me encontrar com eles”.
Silveira teria pedido para o senador encontrá-lo no caminho para a Granja do Torto. O ex-deputado não queria que Do Val usasse o próprio carro, temendo que a conversa pudesse ser vazada. “Pensei que o tema da conversa seria os acampamentos dos manifestantes em frente aos quartéis-generais”, explicou o senador. “Por isso, orientei Bolsonaro para que ele conversasse com a sociedade para comunicar que não teria nenhuma intervenção militar, pois a Constituição não permite isso”.
Segundo o senador, o presidente teria se justificado dizendo que temia possíveis retaliações por parte de Moraes. “Nesse momento, Silveira começou a me explicar o motivo de ter me chamado para lá”, pontuou Do Val. “Expliquei para o ex-deputado que isso era ilegal, mas ele disse que uma equipe estava preparada e que daria tudo certo”.
Do Val explica que não rejeitou imediatamente a proposta, pois gostaria de conversar com Moraes antes. “Na terça-feira seguinte, me encontrei com o ministro e relatei tudo para ele”, disse o senador. “Ele ficou surpreso e depois fui para o meu gabinete”.
Na mesma data, o senador respondeu ao ex-deputado por meio de uma mensagem no celular. “Disse que não aceitaria a proposta dele”, explicou. “Esse foi o print que a revista Veja teve acesso e a reportagem me procurou para saber qual era a história por trás da conversa”.
Abin se manifesta
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) se manifestou sobre as recentes declarações do senador Marcos do Val (Podemos-ES). O órgão destacou que não está envolvido em “qualquer iniciativa relacionada à possibilidade de gravação de conversas” de algum ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Reafirmamos o nosso compromisso com a democracia e o Estado Democrático de Direito, e sua direção e o corpo de servidores jamais coadunariam com esse tipo de ação”, afirmou a Abin.
Em entrevista à revista Veja, Marcos do Val revelou que, durante uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) propôs para ele um plano para “salvar o Brasil”. A proposta era que o parlamentar se reunisse com o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e fizesse o magistrado confessar que, em algum dos seus processos, ele “teria ultrapassado as linhas da Constituição”.
Então, Do Val teria perguntado para Silveira e para Bolsonaro como tudo seria feito, e, segundo seu relato a Veja, “Bolsonaro disse que já tinha acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança do presidente, e que ele tinha a Abin sob seu organograma, que daria o suporte técnico à operação, fornecendo os equipamentos de espionagem necessários”.
Nesta manhã, em uma coletiva de imprensa, o senador recuou e disse que o ex-presidente não propôs nada, somente Silveira. O parlamentar também não voltou a citar o GSI, nem a Abin.
Ministro dá cinco dias para PF ouvir Do Val
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) terá de prestar depoimento à Polícia Federal (PF), em até cinco dias. A ordem é do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Conforme amplamente noticiado, o senador divulgou em suas redes sociais ter recebido proposta com objetivo de ruptura do Estado Democrático de Direito, circunstância que deve ser esclarecida no contexto mais amplo desta investigação, notadamente no que diz respeito a eventual intenção golpista”, observou Moraes.
Fonte: Revista Oeste