ARACAJU/SE, 11 de setembro de 2025 , 14:55:40

O que assassinato de Charlie Kirk, aliado de Trump, revela sobre a política nos EUA

 

Momentos antes de um disparo mudar tudo, milhares de estudantes estavam reunidos nesta quarta-feira (10) sob céu azul em uma universidade de Utah para ouvir um dos nomes mais influentes da política conservadora entre os universitários americanos.

Charlie Kirk, 31, participava de um debate sob uma tenda, respondendo a opositores políticos que se revezavam no microfone. Parte da plateia aplaudia nos gramados; outra parte protestava. Segundos depois, todos corriam em pânico.

Kirk morreu ao ser atingido no pescoço por uma bala durante o evento. O episódio foi registrado por câmeras, algumas exibindo a cena em detalhes sangrentos.

As imagens dificilmente serão esquecidas — sobretudo por jovens conservadores para os quais Kirk tinha status de celebridade. Esse líder do movimento, independentemente do motivo do crime, passará a ser visto como mártir da causa.

Kirk, no passado, já havia alertado sobre o que considerava um risco de violência por parte de seus críticos — dos quais ele tinha muitos, em razão de seu estilo provocador de conservadorismo. Ainda assim, estava disposto a viajar para campi universitários, onde a política frequentemente pende para a esquerda, a fim de debater com quem estivesse interessado.

Ele defendia o direito às armas e valores conservadores, criticava os direitos de pessoas transgênero e apoiava incondicionalmente o presidente americano, Donald Trump. A organização de Kirk, Turning Point US, teve um papel central na campanha de mobilização eleitoral que levou o presidente a retornar à Casa Branca em 2025.

A tenda onde Kirk foi baleado tinha a inscrição “prove que estou errado”. Ele era considerado um herói, especialmente por jovens conservadores, ao se aproximar deles em qualquer lugar e oferecer um movimento próprio.

O assassinato de Kirk é mais um episódio de violência armada que chocou os Estados Unidos — e o mais recente em uma série crescente de episódios de violência política.

No início deste ano, a então presidente da Câmara de Representantes de Minnesota e membro do Partido Democrata, Melissa Hortman, 55, foi assassinada a tiros junto a seu marido; John Hoffman, senador estadual também de Minnesota e do Partido Democrata, ficou ferido em um ataque a tiros semelhante dentro da casa dele.

No ano passado, o então candidato presidencial do Partido Republicano, Donald Trump, foi alvo de duas tentativas de assassinato. O episódio em que foi atingido de raspão por uma bala durante um comício ao ar livre em Butler, Pensilvânia, apresenta semelhanças marcantes com o tiroteio de quarta-feira em Utah (10) — ambos ocorreram diante de multidões em locais abertos.

Dois anos antes, um agressor armado com um martelo invadiu a casa da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, membro influente do Partido Democrata. Em 2017, um homem abriu fogo contra congressistas republicanos durante um treino em um campo de beisebol no norte da Virgínia.

É difícil prever para onde a política americana irá a partir de agora, mas a trajetória é sombria.

A violência gera mais violência. Uma retórica cada vez mais divisiva, alimentada pelas câmaras de eco das redes sociais e pelo fácil acesso a armas de fogo, aumenta a tensão e eleva o risco de derramamento de sangue.

‘Um momento sombrio para os EUA’

Ativistas conservadores estão reavaliando as medidas de segurança necessárias para aparições públicas, assim como muitos políticos locais fizeram após os tiroteios em Minnesota. Mas a tentativa de assassinato contra Trump em Butler quase teve sucesso, apesar da presença de equipes de segurança locais e federais treinadas.

Se houver a sensação de que ninguém está seguro — de que a vida pública se tornou um esporte sangrento —, isso terá um efeito corrosivo sobre a política americana.

Trump, em vídeo divulgado na quarta-feira (10) à noite do Salão Oval em seu site Truth Social, chamou o assassinato de “um momento sombrio para os Estados Unidos”.

Mas não demorou a culpar a “esquerda radical” pelo crime contra Kirk. Ele listou algumas das recentes ocorrências de violência política — que tiveram como alvo conservadores — e afirmou que seu governo iria localizar “cada um daqueles que contribuíram para essa atrocidade e para outras formas de violência política”.

Esses comentários devem ser bem recebidos por setores da direita que, nas horas seguintes ao tiroteio, pediram repressão aos grupos de esquerda.

“É hora, dentro dos limites da lei, de infiltrar, desarticular, prender e encarcerar todos os responsáveis por este caos”, escreveu o ativista conservador Christopher Rufo no X.

Mas, no Congresso, na noite de quarta-feira (10), um momento de silêncio por Kirk foi rapidamente seguido por uma discussão inflamada entre parlamentares — um novo indicativo de que as tensões partidárias continuam elevadas.

Enquanto isso, em Utah, testemunhas, autoridades policiais e líderes estaduais e locais seguem lidando com o trauma do dia.

Em declarações emocionadas durante uma coletiva de imprensa, o governador Spencer Cox — que frequentemente se posiciona contra a retórica política exagerada e a divisão política e é membro do Partido Republicano — descreveu uma nação, prestes a celebrar um marco histórico de sua fundação, como “quebrada”.

“É isso?”, perguntou. “É isso que 250 anos nos trouxeram?”

“Rezo para que não seja o caso”, respondeu.

A dúvida em sua voz ressaltou a verdade simples de que, naquele dia, o futuro dos Estados Unidos e a possibilidade de corrigir sua política violenta pareciam incertos.

Fonte: BBC News Brasil

Você pode querer ler também