Parte dos empresários que participou do jantar com a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), nesta segunda-feira (4), considerou que o encontro evidenciou uma radicalização do partido em relação às propostas que estão sendo apresentadas para um eventual novo governo Lula.
Um dos empresários ouvidos pelo Poder360, que pediu para não ser identificado, disse ter ficado muito assustado porque esperava que o PT fizesse mais acenos ao centro. Isso significa que os executivos tinham a expectativa de que Gleisi pudesse amenizar os discursos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pregado, como a reestatização da Eletrobras, a revisão da reforma trabalhista e a ampliação do teto de gastos.
Durante o jantar, os empresários lembraram que Lula só conseguiu ser eleito em 2002 quando fez acenos ao centro e encarnou o “Lulinha paz e amor”. Segundo o Poder360 apurou, o grupo considera a estratégia do PT equivocada, pois acredita que vencerá a corrida ao Palácio do Planalto quem seduzir o centro.
Como o Poder360 mostrou, a presença do economista Gabriel Galípolo, levado por Gleisi ao jantar, amenizou a tensão entre a deputada e os empresários. Galípolo foi dirigente do Banco Fator. Antes, foi sócio do economista Luiz Gonzaga Belluzzo em uma consultoria. Os dois são também autores de livros escritos em conjunto.
Belluzzo é um economista sênior e muito respeitado no mercado financeiro, mas é historicamente ligado à esquerda e defende teses heterodoxas e nacionalistas. Galípolo tem trabalhado próximo da equipe de Lula, que deve ser o candidato petista ao Planalto em outubro. Lula lidera as pesquisas de intenção de voto.
A reticência sobre um eventual novo governo petista continua na classe produtiva, mas os presentes ao jantar ao menos encontraram um interlocutor fluente na língua do mercado, embora Galípolo não integre o “mainstream” da área.
Oficialmente, o grupo Esfera Brasil, organizador do evento, divulgou informe em que diz que Gleisi deixou “clara a disposição do partido, e de Lula, em atuar lado a lado com o empresariado nacional”.
O grupo também informou que Galípolo apresentou uma perspectiva socioeconômica ligada à tradição do PT, mas com um discurso em defesa do pragmatismo político. De acordo com o texto, o economista disse que a polarização política é uma armadilha e defendeu a parceria público-privada como alternativa ao modelo atual de privatizações.
De acordo com empresários ouvidos, Gleisi afirmou que o PT é contra as privatizações porque o investimento público está em 14% do PIB (Produto Interno Bruto), o que seria consequência da venda de estatais. Ao serem vendidas, as empresas estariam deixando de atuar como indutoras da economia.
A deputada também defendeu a necessidade da existência das estatais porque o setor privado não faz investimentos estruturantes de longo prazo. Em relação à reforma administrativa, a deputada afirmou que o partido é contrário porque defende os servidores públicos.
Gleisi confirmou que o PT pretende revisar a reforma trabalhista e ampliar o teto de gastos. Lula tem defendido as mesmas questões em entrevistas e eventos de que tem participado.
Os empresários, no entanto, ressaltaram que houve divergências sobre o papel da Petrobras. Gleisi defendeu a autonomia brasileira em relação ao petróleo. Para o grupo, porém, o comércio internacional do produto pode favorecer mais a economia do que o controle de preços dos combustíveis.
De acordo com o informe publicado, Gleisi sinalizou que Lula estaria disposto a “suavizar” o impacto das crises internacionais sem precisar congelar preços.
O evento foi realizado em São Paulo. Estavam entre os convidados nomes como Abílio Diniz, André Esteves, Flávio Rocha, Cândido Pinheiro, Carlos Sanchez, Eugênio Mattar, entre outros pesos pesados do empresariado brasileiro.
Este foi o 1º encontro do grupo com presidentes de partidos. Os empresários pretendem conversar com o comando das legendas que terão candidatos à Presidência da República.
Encontros com Bruno Araújo, presidente do PSDB, e com Valdemar Costa Neto, do PL, já estão sendo organizados. O 1º terá João Doria na corrida presidencial, e o 2º, o presidente Jair Bolsonaro, que tentará a reeleição.
O grupo também pretende se encontrar com os economistas de cada campanha. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega falará pelo PT.
Fonte: Poder 360