A Polícia Federal (PF) obteve um áudio de uma reunião em 2020 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem na qual os dois tratam sobre medidas contra supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração do relatório final das investigações sobre suposto desvio de parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro (PL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) enquanto ele era deputado estadual.
A gravação tem uma hora e oito minutos de duração. De acordo com a corporação, Ramagem teria afirmado na reunião que seria preciso instaurar “procedimento administrativo contra os auditores, com o objetivo de anular as investigações, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.
Também participaram dessa reunião o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e uma advogada de Flávio.
Segundo a PF, Ramagem determinou a Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, que faziam parte do esquema de espionagem ilegal com o sistema da Abin e foram presos em operação da PF nessa quinta-feira (11), que fizessem diligência sobre os auditores responsáveis pela confecção do relatório de inteligência fiscal que substanciou investigação criminal envolvendo Flávio.
Nas redes sociais, Flávio negou relação com a Abin e afirmou que foi “vítima” de servidores da Receita Federal que teriam acessado ilegalmente seus dados, mas que a defesa dele “atacava questões processuais, portanto nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter”. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro citou, ainda, que a operação teve motivação política e o objetivo de “prejudicar” a candidatura do ex-diretor da agência, Alexandre Ramagem, à Prefeitura do Rio de Janeiro.
A PF também obteve conversas entre Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues.
Nos prints, é possível ver que Bormevet envia a Rodrigues dados pessoais de três auditores. Bormevet pede que sejam encontrados “podres e relações políticas” dos funcionários da Receita Federal.
“Se conseguir, ver [sic] rede social da esposa”, escreveu Bormevet. Pouco tempo depois, Rodrigues manda alguns arquivos e reitera que “foi o que deu para apurar nesse tempo”. “Ao pesquisar, entendi o contexto e vou continuar a pesquisar por aqui”, afirmou.
As orientações de Bormevet e Giancarlo geraram pesquisa nos sistemas, que foram repassadas para o gabinete do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, em 21 de dezembro de 2021. “Precisamos informar ao GAB (gabinete) para resguardo”. Em resposta, Giancarlo afirmou que já estaria “providenciando as coisas”.
Bormevet e Rodrigues foram alvo de sindicância interna da Abin que apurou o esquema para beneficiar Flávio. Ramagem também prestou depoimento nessa sindicância, e para a PF ele mentiu ao afirmar que não haveria “possibilidade do servidor Marcelo Bormevet ter elaborado qualquer documento para o senador Flávio Bolsonaro ou para advogados”.
Abin atuou ilegalmente em favor de filhos de Bolsonaro, diz PF
A Polícia Federal (PF) aponta que a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizada durante o governo de Jair Bolsonaro para favorecer dois filhos do ex-presidente.
Segundo a corporação, agentes que participaram do monitoramento ilegal buscaram informações sobre investigações envolvendo Jair Renan e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
A conclusão está no relatório da investigação chamada de Abin Paralela, divulgada nessa quinta-feira (11) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após a retirada do sigilo do inquérito que apura do caso.
De acordo com a PF, um policial federal que atuava na agência foi designado para espionar Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan em uma empresa de eventos. O filho do ex-presidente é acusado de tráfico de influência e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público.
No caso de Flávio Bolsonaro, as ações clandestinas de monitoramento ocorreram contra três auditores da Receita Federal responsáveis pela investigação sobre “rachadinha” no gabinete de Flávio quando ele ocupava do cargo de deputado estadual.
Segundo os investigadores, as buscas por informações sobre os auditores foi determinada pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), então diretor da Abin.
Fonte: R7