Ao menos 20% de jovens de 14 a 24 anos que menstruam já deixaram de ir à escola por não terem absorvente. Entre pessoas pretas com renda de até dois salários mínimos, o número sobe para 24%.
Os dados fazem parte de uma pesquisa feita pelo Espro (Ensino Social Profissionalizante), organização que oferece capacitação para jovens em busca do primeiro emprego, e a Inciclo, marca de coletores menstruais. O estudo faz parte do Projeto Novo Ciclo de ambas as instituições.
O levantamento, obtido com exclusividade pelo UOL, ouviu 2.930 pessoas que menstruam e 805 que não menstruam. A margem de erro é de 2% e o índice de confiabilidade da pesquisa é de 99%.
A reportagem entrou em contato com jovens que precisaram faltar à escola pela falta de absorvente, mas por constrangimento elas não aceitaram dar entrevista.
“Nesse momento devemos gerar o máximo de sinergia. Falar de política pública para esse tema é importante, mas até se converter em prática, as organizações, empresas e a sociedade devem se conscientizar e apoiar. Os jovens precisam se sentir amparados também dentro deste assunto”, diz Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro.
Ana Beatriz Barbosa, 15, estuda em uma escola em Camaçari, na Bahia, e contou que já ouviu relatos de diferentes colegas de sala com problemas financeiros para comprar absorvente.
Depois de um projeto dentro da escola, desenvolvido pela diretora Edicléia Pereira Dias, ela passou a entender melhor o problema.
“Não imaginava que do meu lado havia meninas faltando uma semana por mês na escola pela falta de absorvente”, conta.
A diretora criou um banco de absorventes na escola para estudantes que menstruam. A decisão aconteceu em 2010, quando Edicleia precisou entender o motivo da alta evasão escolar no colégio.
Apesar de não ter vivenciado nenhuma situação extrema, Ana Beatriz é beneficiada do projeto. “É incrível participar do programa e ver que as meninas não precisam mais faltar por um motivo como esse”, comemora a estudante.
Fonte: Uol