Com a defesa do corte de gastos, aumento de investimentos e geração de empregos, os candidatos à Presidência da República participaram nesta segunda-feira (6) do evento O Futuro do Brasil na Visão dos Presidenciáveis 2018. O encontro foi promovido pela Coalizão pela Construção, que reúne 26 entidades representativas da indústria da construção, e teve como objetivo ouvir as propostas dos presidenciáveis para o setor.
Álvaro Dias (Pode), Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB) estiveram presentes na parte da tarde, e além de uma apresentação inicial, responderam a perguntas de integrantes do grupo de empresários e do mediador dos debates. Mais cedo, foi a vez dos proponentes ao Palácio do Planalto Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB).
A organização do evento informou que foram chamados os candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos, além do candidato do MDB, Henrique Meirelles, pela representatividade do partido. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) alegou problemas de agenda e não compareceu. O PT não foi convidado, pois o candidato Luiz Inácio Lula da Silva está preso em Curitiba.
Marina Silva prevê mais recursos para infraestrutura
Marina Silva quer investir em energia renovável e saneamento básico – (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
A empresários da construção civil, a candidata da Rede destacou que, para a retomada do setor, sua agenda econômica prevê a ampliação dos recursos para a infraestrutura. Ela citou o aperfeiçoamento do programa Minha Casa, Minha Vida para sanar o déficit de moradias. “Urge combater os guetos de pobreza com moradias sustentáveis, em bairros com infraestrutura”, afirmou.
“Universalizar o saneamento básico é uma das principais metas de nosso programa de governo. É uma medida essencial para a qualidade de vida da sociedade, para o meio ambiente e as atividades econômicas que dependem de água limpa como agricultura e turismo”, acrescentou.
Marina destacou que, se eleita, vai investir em energia renovável, obras de drenagem, mobilidade urbana e geração de energia para movimentar a economia. Ela ressaltou que o licenciamento ambiental deve ser aperfeiçoado para trazer agilidade para as obras sem perder de vista a qualidade dos projetos.
Para destravar a economia, a candidata defendeu a diversificação e maior competitividade no setor de crédito, como, por exemplo, a entrada das Fintechs (empresas de tecnologia no setor financeiro). Marina lembrou da importância do cadastro positivo que tramita no Congresso Nacional. O texto-base foi aprovado na Câmara, mas faltam ser votados dez destaques ao projeto
Em diversos momentos de seu discurso, Marina destacou a importância do combate à corrupção para atrair investimentos e afirmou que a Operação Lava Jato não será “sabotada”, caso seja eleita.
Alckmin defende retomada de obras paradas
Alckmin pretende aumentar o número de instituições bancárias e a competitividade no setor – (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Alckmin afirmou que, em um eventual governo do PSDB, vai trabalhar para concluir as obras paralisadas no país. ‘Tem muita obra parada, como a [ferrovia] Transnordestina. Vamos terminar o mais rápido possível. Estamos estudando a maneira de fazê-lo: ter uma empresa nova para essa obra ser concluída e o setor privado participa dessa empresa nova e conclui a obra. Tem vários modelos que estamos estudando”, disse em entrevista após discursar no evento.
O tucano destacou que o valor arrecadado pelo governo federal, de cerca de R$ 3 bilhões, das empresas de saneamento com a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Pasep, será devolvido em investimentos em água e esgoto, caso seja eleito. “Teremos todo o empenho na infraestrutura e logística no país”.
Para aumentar a oferta de crédito do país, Alckmin disse que seu programa pretende aumentar o número de instituições bancárias e a competitividade no setor. Também destacou que não há definição sobre uma possível privatização de bancos públicos. “Setor bancário e Petrobras na prospecção de águas profundas, vamos manter estatal”, acrescentou.
O tucano ressaltou, entretanto, que pretende quebrar “na prática” o monopólio do refino, que “hoje 99% está na mão da Petrobras”, para aumentar a competição na área e os investimentos no país.
Alckmin ainda defendeu a revisão do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal, para que todo os recursos do FGTS sejam destinados para projetos de moradia, mobilidade e infraestrutura.
Álvaro Dias defende redução de juros para atrair investimentos
Para o candidato do Podemos, Álvaro Dias, o Brasil precisa recuperar a credibilidade, melhorar o ambiente de negócios e reduzir taxas de juros para que se torne mais atrativo para investimentos.
Álvaro Dias criticou escândalos de corrupção e disse que quanto pior é a imagem de um país nesse quesito, menos investidores apostam nele.
Álvaro Dias (Podemos) defende redução de juros e da carga tributária – (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
“O ajuste fiscal tem que ser acompanhado do crescimento econômico. Acho que o presidente deve, e eu farei isso, conversar com a sociedade e dizer: ‘Vamos garantir uma regulação competente e segurança jurídica. Retirem os recursos da conta bancária e invistam, enquanto nós vamos arrumar a casa'”, disse, criticando também a “burocracia vergonhosa que nos impede de crescer”.
Além de reduzir a carga tributária, o candidato defendeu um modelo para os impostos que priorize a “distribuição de renda e a justiça social”, tributando mais a renda do que o consumo. “A redução das taxas de juros é possível sim, e elas serão reduzidas”. O senador prometeu instituir um conselho consultivo do setor da construção que dialogue “diretamente” com o presidente.
Sobre o programa Minha Casa, Minha Vida, Álvaro Dias elogiou a ideia do programa, mas defendeu que seja melhor administrado. Segundo ele, as obras devem ter mais qualidade técnica, prevendo melhorias próximas aos conjuntos habitacionais, como postos de saúde e escolas.
Ciro pretende criar 2 milhões de empregos no primeiro ano
O candidato Ciro Gomes (PDT) defendeu como prioridade de sua eventual administração o corte de despesas e renúncias fiscais, a cobrança de impostos sobre lucros e heranças e a criação de um “projeto nacional de desenvolvimento”.
Ciro Gomes quer cobrança de imposto sobre lucros e metas para o país para os próximos 30 anos – (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Em resposta às demandas dos presentes no evento, o candidato disse que o “único setor com capacidade imediata de produzir empregos” é o da construção.
Ciro Gomes criticou diversas vezes a concentração do sistema bancário do país e defendeu que o próximo presidente faça com que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil saiam do “cartel” e sejam forçados a competir. “No Brasil, de forma absolutamente irresponsável, permitimos que nos últimos 15 anos, 85% das transações financeiras do nosso país se concentrem em cinco bancos, dois dos quais estatais”, disse.
Citando Espanha e Itália como modelos, o candidato pedetista disse que pretende elaborar metas para o Brasil para os próximos 30 anos. O objetivo seria se equiparar a nações com melhores indicadores socioeconômicos, como renda per capita e mortalidade materno-infantil.
“Eu quero apresentar explicitamente uma meta de criar dois milhões de empregos no primeiro ano. O Brasil precisa se reindustrializar. O mais rápido de todos setores é a construção civil. Você tem hoje uma montanha de dinheiro de exigibilidade do FGTS que estão estocados na especulação financeira por incapacidade na formulação de projetos e excessiva burocracia da União”, disse.
Meirelles pretender manter concessões à iniciativa privada
Com foco em pilares econômicos e de geração de empregos, Henrique Meirelles, candidato pelo MDB, fez um discurso em defesa de reformas “fundamentais”, como a da Previdência que, segundo ele, auxiliarão o Brasil a reduzir despesas públicas primárias.
“A primeira é diminuir o tamanho do Estado”, disse, citando também a tributária e a manutenção de outras reformas feitas no governo Michel Temer, como a trabalhista e o teto de gastos.
Se eleito, Henrique Meirelles (MDB) pretende fazer reformas, como a da Previdência, e finalizar obras paradas – (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Dentre as propostas citadas pelo candidato estão a finalização de obras paralisadas, cujo investimento necessário seria, de acordo com ele, de R$ 80 bilhões. “Os recursos vêm de diversas fontes. Em primeiro lugar, a reforma da Previdência. Vamos ter diminuição das despesas obrigatórias. Isso vai gerar recursos maiores para investimento”, afirmou.
Meirelles prometeu também manter programas de concessão à iniciativa privada no setor de infraestrutura, privatizar estatais da área “que hoje têm fraco desempenho”.
Além do processo de refino e transporte de combustível, a bandeira da privatização também foi lembrada por ele ao citar a Eletrobras.
Em entrevista coletiva, Meirelles foi questionado sobre o aborto. Na resposta, o candidato disse que “em circunstâncias adequadas” o aborto é “parte dos direitos da mulher”, porém defendeu que a “primeira coisa é respeitar” a lei e decisões de tribunais. Atualmente, o aborto é permitido somente nos casos de estupro, de gestação de fetos anencéfalos ou se a gestante esteja correndo risco de morrer.
Coalizão pela Construção
Segundo a Coalizão pela Construção, o setor tem papel central para a geração de emprego formal e renda e responde por mais de 50% do investimento no Brasil. No entanto, dizem as entidades, por causa da crise econômica que combina forte retração no crédito para empresas e redução significativa da renda das famílias, a construção civil tem enfrentado fortes perdas nos últimos anos, sendo o único setor da indústria que não acompanhou os recentes sinais de reação da economia.
A agenda estratégica da indústria da construção, em documento enviado aos presidenciáveis, propõe medidas para reverter a retração do setor. O ponto principal dessa pauta é a retomada do investimento, com foco na infraestrutura, na habitação e no mercado imobiliário, e na geração de empregos.
Fonte: Agência Brasil