ARACAJU/SE, 26 de outubro de 2024 , 12:27:57

logoajn1

Revolta de mercenários na Rússia cria incerteza na China

 

O motim de 24 horas na Rússia trouxe à tona o maior medo de Pequim em relação à invasão da Ucrânia: o risco de desestabilizar seu parceiro mais próximo contra o Ocidente liderado pelos Estados Unidos. Esse temor permanecia nesse domingo (25), mesmo depois que as tropas controladas pelo grupo paramilitar Wagner cancelaram seu avanço em direção a Moscou após assumir o controle do quartel-general militar do sul do país na cidade de Rostov.

Em um discurso na televisão, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou a insurreição de traição e prometeu reprimi-la enquanto as tropas de seu exército se preparavam para defender a capital antes que uma trégua evitasse um conflito mais amplo.

Em um discurso na televisão, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou a insurreição de traição e prometeu reprimi-la enquanto as tropas de seu exército se preparavam para defender a capital antes que uma trégua evitasse um conflito mais amplo.

Incerteza para Xi Jinping

Mesmo assim, a crise marca o desafio mais sério ao governo de 23 anos de Putin — e um momento de incerteza para o líder da China, Xi Jinping, que tem no vínculo com a Rússia um baluarte contra a influência dos EUA no mundo e colocou seu relacionamento pessoal com Putin no centro.

Agora, a Rússia está em desordem e Putin parece enfraquecido. “Esse é o cenário pessimista que a China temia — que Putin, quando iniciou a invasão, acabaria prejudicando a estabilidade do regime”, disse Temur Umarov, membro do Carnegie Russia Eurasia Center.

Na mídia estatal chinesa, a cobertura noticiosa da insurreição foi limitada, em contraste com a cobertura aprofundada da maioria da mídia ocidental. A agência estatal de notícias “Xinhua” publicou um relatório sobre o discurso de Putin e disse que cidades como Moscou colocaram medidas antiterroristas em ação.

Citação a Mao Tsé-tung

Uma conta de mídia social afiliada à Força de Apoio Estratégico do Exército de Libertação do Povo publicou postagem contando como Mao Tsé-tung reorganizou o exército revolucionário do Partido Comunista, em 1927, para garantir que o partido exercesse controle absoluto sobre seus militares — uma postagem que alguns usuários viram como uma referência aos eventos na Rússia.

“Putin acusa o líder Wagner de traição” foi o tópico de tendência número 1 na plataforma de mídia social chinesa Weibo, no fim da noite de sábado (24), na Ásia. O motim também está em alta em outras plataformas de mídia social chinesas, como Douyin e Zhihu.

Os usuários chineses expressaram principalmente perplexidade e incerteza sobre o que vem a seguir — mas no Weibo, equivalente ao Twitter, qualquer postagem que faça referência a “qingjunce” – termo chinês conhecido que se refere a oficiais poderosos realizando um golpe com o objetivo de eliminar funcionários malignos ou corruptos em torno de um imperador, tornou-se inacessível.

O que pensam os chineses

Entre os chineses comuns, “muitas pessoas temem que a posição política de Putin não seja estável e que a turbulência política na Rússia possa afetar a China”, disse Wang Yiwei, professor de relações internacionais da Universidade Renmin da China.

“A China sempre enfatiza que a harmonia deve ser valorizada e, em relação ao seu maior vizinho, a China espera que eles possam manter a estabilidade”, disse Wang.

Xi tem se esforçado para apoiar Putin mesmo quando a invasão de Moscou à Ucrânia sofreu reveses, ao mesmo tempo em que pediu paz e negociação para acabar com a violência.

Em cúpula em março, os dois líderes reafirmaram sua parceria e o aprofundamento dos laços econômicos de seus dois países. A Rússia precisa da China para comprar seu petróleo e gás, e a China está encontrando na Rússia um mercado crescente para carros e smartphones fabricados na China, à medida que as sanções estrangulam as importações do Ocidente.

Troca de presentes

No centro de sua aliança está a hostilidade a Washington e seus aliados e o que eles veem como uma ordem internacional injusta e dominadora liderada pelos EUA. Os dois – Xi e Putin – se encontraram cerca de 40 vezes como líderes de seus países, trocando presentes e homenagens e desejando feliz aniversário um ao outro regularmente.

A invasão da Ucrânia por Moscou prejudicou as relações da Rússia com o Ocidente, e as sanções causaram estragos em sua economia.

Impacto no comércio

Washington e seus aliados tomaram medidas para restringir o acesso da China a chips de computador avançados com base na segurança nacional. Fabricantes multinacionais estão repensando o papel da China em suas cadeias de suprimentos em resposta a preocupações com futuras interrupções comerciais causadas por atritos com o Ocidente ou conflitos por causa de Taiwan, uma democracia insular que a China considera parte de seu território.

“O motim de Wagner criou um enorme impacto no governo de Putin e na estabilidade política da Rússia, e trouxe profunda incerteza”, escreveu Hu Xijin, ex-editor-chefe do tabloide do Partido Comunista Global Times e comentarista influente, nas redes sociais antes da trégua entre Putin e o grupo Wagner. “Agora parece que a situação está se movendo na direção que o Ocidente e a Ucrânia mais desejam ver, mas o resultado final ainda é desconhecido.”

Fonte: Valor

Você pode querer ler também