ARACAJU/SE, 12 de junho de 2025 , 3:58:23

Tentativa de golpe: confira principais declarações do depoimento de Mauro Cid ao STF

 

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, nessa segunda-feira (9), ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu, leu e pediu alterações na chamada “minuta do golpe”. O documento visava uma possível tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

De acordo com Cid, Bolsonaro pediu, entre outras mudanças, a remoção de um trecho que determinava a prisão de autoridades. O principal alvo da medida seria o ministro do STF Alexandre de Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época do pleito.

“Bolsonaro recebeu e leu o documento. Ele, de certa forma, o enxugou. Apenas o senhor [Moraes] permaneceria como preso”, disse Cid.

Em depoimentos anteriores, o ex-ajudante de ordens já havia relatado a participação de Bolsonaro e de outras autoridades em discussões sobre uma tentativa de golpe. A defesa tenta atenuar seu envolvimento, alegando que ele cumpria funções de seu cargo e não era “politizado”.

A 1ª Turma do STF começou nessa segunda-feira (9) a interrogar os réus do núcleo crucial na ação penal por tentativa de golpe de Estado. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que tinham como objetivo impedir a posse de Lula.

Fazem parte do grupo: Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República; Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022.

Os interrogatórios devem ser finalizados até sexta-feira (13). O 1º a ser ouvido foi Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração com o STF. Os demais réus serão interrogados na sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida assim para que todos tenham conhecimento do que o delator falou e, assim, possam exercer o amplo direito de defesa.

Exército aderiria à tentativa de golpe com decreto, diz Cid

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em depoimento ao STF, que o ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), general Estevam Theophilo, disse que o Exército iria aderir à tentativa de golpe caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) determinasse.

“Por mais que os militares e alguns do Alto Comando concordassem ou tivessem a ideia da maneira que foi conduzido o processo eleitoral, eles não quebrariam um elo de legalidade. Para fazer algo, tinha que ter uma ordem e aí os comandantes teriam que fazer. Era nesse sentido que ele disse: ‘se ele [o ex-presidente Bolsonaro] assinar, vou ter que cumprir’”, disse Cid.

Theophilo teria sido convocado por Bolsonaro para uma reunião em 9 de dezembro de 2022. Cid afirmou não ter participado do encontro, mas disse que encontrou com o general na saída do Alvorada, que teria lhe afirmado que iria cumprir a determinação caso Bolsonaro assinasse o decreto.

O general também é réu na ação que investiga a tentativa de golpe em 2022. Segundo a investigação da Polícia Federal (PF), o ex-chefe do Coter teria consentido com a adesão ao golpe e é mencionado como “responsável operacional” pelo emprego dos militares, caso fosse concretizada a intervenção federal para manter Bolsonaro no poder.

Zambelli e Delgatti discutiram fraudes nas urnas com Bolsonaro, afirma

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em depoimento ao STF, que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker da “Vaza-Jato”, Walter Delgatti Neto, se reuniram com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para discutir possíveis fraudes nas urnas durante as eleições de 2022.

Segundo Cid, a reunião foi agendada pela congressista e realizada no Palácio da Alvorada, em Brasília. “Eles chegaram cedo [Zambelli e Delgatti], foi no café da manhã. O hacker levantava as hipóteses de como poderia ter sido feita a fraude e como poderia ser descoberta”, afirmou o militar.

Cid afirmou que, depois dessa reunião, Bolsonaro pediu que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, marcasse outro encontro com o hacker para continuar a discussão. Ele declarou, porém, que não foi identificada nenhuma vulnerabilidade nos equipamentos.

Ex-comandante da Marinha era “radical” e defendia golpe, declara

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, integrava o grupo dos “radicais” que defendiam um golpe de Estado.

Durante o depoimento no STF, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, apresentou os nomes dos réus da ação e questionou Cid sobre a qual grupo cada um fazia parte. Segundo ele, só Garnier era considerado “radical”.

Os defensores da ruptura institucional acreditavam que Bolsonaro teria respaldo popular para permanecer no poder e que, ao dar a ordem, contaria com o apoio dos CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).

“O grupo, denominado pelo colaborador como ‘radicais’, era dividido em 2 grupos; QUE o 1º subgrupo ‘menos radicais’ que queriam achar uma fraude nas urnas; QUE o 2º grupo de ‘radicais’ era a favor de um braço armado; QUE gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado”, diz a descrição que consta na colaboração premiada do ex-ajudante de ordens, que teve o sigilo derrubado em 19 de fevereiro deste ano.

Cid organizou os aliados de Bolsonaro em três grupos, segundo suas posições sobre a possibilidade de um golpe de Estado: “radicais”, “moderados” e “conservadores”. Segundo ele, apenas os “radicais” apoiavam de fato uma ruptura institucional.

Durante o depoimento, o ex-ajudante de ordens classificou Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto como “moderados”. Já Augusto Heleno, Anderson Torres e Alexandre Ramagem não foram associados a nenhum dos grupos.

“Esses grupos não eram organizados, eram pessoas que se aproximavam do presidente [Bolsonaro] para levar suas ideias. Não eram grupos de pessoas que iam juntas para falar com o presidente. Elas iam individualmente e depois não apareciam mais. Mas eles discutiam isso que falei, sim”, afirmou Cid.

Fonte: Poder360

 

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