ARACAJU/SE, 30 de outubro de 2024 , 4:32:33

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Valadares Filho: “Governos de Jackson e Belivaldo levaram nosso Estado ao fundo do poço”

 

Da redação, Joangelo Custódio

A Agência Jornal de Notícias (AJN1) está entrevistando os candidatos ao governo do Estado nas eleições deste ano. O quarto sabatinado é Antônio Carlos Valadares Filho (PSB-SE), candidato pela coligação “Um Novo Governo Para Nossa Gente”, composta pelas siglas PSB, PDT, PPL, PTB, PROS e PRP. Com apenas 38 anos, graduado em administração, ele atualmente é deputado federal pelo terceiro mandato consecutivo e nunca comandou o Poder Executivo. E olhe que não foi por falta de vontade.

Em 2012, na primeira disputa pela Prefeitura de Aracaju, foi derrotado logo no primeiro turno pelo experiente e arguto João Alves Filho (DEM), por um placar elástico: 52,72% X 37,62%. Em 2016, bateu na trave. Durante a campanha, esteve sempre em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas Edvaldo Nogueira (PCdoB), que já havia sido prefeito em duas ocasiões, cresceu, levou a disputa para o segundo turno e o derrotou por uma tênue diferença porcentual: 52.11% X 47.89%.

Agora, a antiga ambição de ser prefeito da capital deu lugar ao desejo de se tornar governador. Se conseguir, vai repetir o feito do pai, Antônio Carlos Valadares, eleito para esta função em 1987 e que, desde 1995, ocupa cadeira no Senado. Nesta entrevista concedida ao AJN1, ele explica por que quer ser governador, expõe suas principais metas de governo e responde qual a mágica para retomar o desenvolvimento de Sergipe.

Agência Jornal de Notícias (AJN1) – Esta é a primeira vez que o senhor se candidata a governador do Estado. O que o qualifica e o motiva a ser chefe do Executivo aos 38 anos?

Valadares Filho (VF) – Estou no meu terceiro mandato de deputado federal. Já fui candidato a prefeito de Aracaju e conheço muito bem os problemas do meu estado. Com a imensa bagagem que tenho na minha vida pública, me sinto muito preparado para esse grande desafio de governar Sergipe.

AJN1 – Pelo que se evidencia, as duas últimas derrotas nas eleições para a Prefeitura de Aracaju não estremeceram a sua confiança, mas como repassar esse otimismo ao eleitor e convencê-lo de que o senhor é o novo, embora sua família esteja ocupando cargos eletivos há mais de 30 anos e, portanto, representa a velha política?

VF – A política, para mim, é missão. Eu tenho como foco trabalhar para melhorar a vida de nossa gente e isso me fortalece. Todos os cargos da família Valadares foram concedidos pelo povo de Sergipe, através do voto na urna. Fomos eleitos de forma democrática. Se estamos sendo reconduzidos aos mandatos, é porque o povo de Sergipe nos confia essa missão. A velha política está na forma de fazê-la e não no tempo em que se está nela. Eu represento o novo não só pela idade, mas pelas ideias, pela ética e pela forma de fazer política.

AJN1 – Durante a campanha, o eleitor é bombardeado por promessas de que vão melhorar a saúde, a segurança, a educação, e acabam, talvez por limitação do roteirista, repetindo os mesmos discursos, cada um mais enfadonho e intragável que o outro. Mas, como de costume, os juramentos são perdidos no tempo e na poeira. Se eleito, quais são as suas prioridades para os primeiros 100 dias de mandato?

VF – Esse é o discurso da velha política. Sempre prometeram, tiveram a oportunidade de resolver, mas nada fizeram. Todas as propostas que apresentei foram elaboradas dentro da realidade compatível com nosso estado e são totalmente viáveis para que sejam executadas. Nós faremos, nos primeiros 100 dias, uma reorganização da máquina, regularizando o salário dos servidores, aposentados e pensionistas já no primeiro mês. Acredito que no primeiro ano as finanças já estarão equilibradas e o estado já terá recursos para investimentos com recursos próprios.

“A velha política está na forma de fazê-la e não no tempo em que se está nela. Eu represento o novo não só pela idade, mas pelas ideias, pela ética e pela forma de fazer política.”

AJN1 – A saúde tem sido um problema grave em todo o país e em Sergipe não é diferente. A exemplo da superlotação no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), suspensão de procedimentos cirúrgicos cardiovasculares no Hospital de Cirurgia, maternidades com déficit de leitos, falta de remédio no Centro de Atenção à Saúde de Sergipe (Case), máquinas de radioterapia com mais de 30 anos de uso e um Hospital do Câncer que não sai do papel. A Secretaria de Estado da Saúde sempre foi uma pasta “bomba”, o que não deveria ser. Mas o que fazer para melhorar a prestação deste serviço à população? Por onde começar a desatar esse nó?

VF – A primeira coisa a ser feita é a despolitização da saúde. O que acontece atualmente é um verdadeiro aparelhamento político em toda a secretaria. Se fizermos uma análise dos últimos secretários de Estado da Saúde ou foram candidatos ou apresentaram algum familiar. Isso não funciona porque não se prioriza a principal questão que é cuidar das pessoas. Isso prejudica a distribuição de medicamentos, o andamento dos serviços emergenciais, a fila das cirurgias e vários outros serviços que recebem influência direta da política. Não vamos permitir isso, nossa escolha do secretariado será extremamente técnica, vamos designar os profissionais que têm o conhecimento real da área, cobrar e fiscalizar permanentemente a atuação.

AJN1 – Sergipe, o menor estado da federação, chegou a ser o estado mais violento do Brasil, com taxa de 64,7 no número de homicídios por 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, tendo como análise os anos entre 2006 e 2016. Como devolver aos sergipanos a tranquilidade de outrora?

VF – Da mesma forma que vamos fazer com a saúde pública, despolitizando. Estamos tendo diálogos permanentes com técnicos da área de segurança pública, com os próprios policiais civis e militares e entidades de segurança. Nosso programa de governo é altamente compatível com os anseios da sociedade. Vamos investir na polícia, valorizar os profissionais, comprar armamentos e equipamentos, fornecer mais viaturas, investir no serviço de inteligência, que a atual gestão não fez, assim poderemos desmontar quadrilhas especializadas antes que o crime aconteça.

“Se fizermos uma análise dos últimos secretários de Estado da Saúde ou foram candidatos ou apresentaram algum familiar.”

AJN1 – Em 2017, a taxa de analfabetismo em Sergipe entre pessoas com 15 anos ou mais de idade foi estimada em 14,5%, o equivalente a 258 mil pessoas. O que fazer para erradicar essa transgressão social que já era para ser abominada?

VF – O governo precisa investir mais na educação dos nossos jovens, falta a valorização do profissional da educação, falta estrutura nas escolas, há problemas com merenda escolar e ainda existe um déficit muito grande na quantidade de escolas, principalmente nos povoados, que não têm a presença efetiva do ensino médio. Daremos a atenção necessária para a área da educação que é uma das prioridades do nosso futuro governo. Queremos cuidar do futuro de Sergipe e do país.

 

AJN1 – A família Valadares mantinha uma relação harmoniosa e fraternal com o governador Belivaldo Chagas (PSD), um dos principais oponentes nesta corrida ao Governo. Belivaldo, inclusive, era filiado ao PSB, e hoje o vínculo efetivo mudou da água para o vinho, de extrema animosidade, como se percebe em entrevistas à imprensa e declarações em redes sociais. Por que houve o rompimento?

VF – O rompimento aconteceu porque Belivaldo se encantou com o poder. Ele preferiu ficar ao lado de um governo que conseguiu atrasar Sergipe em todas as áreas do que ao lado do povo sergipano. Quando detectamos que o governo não estava cumprindo com seu programa de governo e estava levando nosso estado ao fundo do poço, alertamos para toda a população e decidimos seguir nosso caminho. Assim como o eleitor muda, quando não está satisfeito, nós também. Não ficamos em um governo por ficar, em troca de cargos, nós sempre caminhamos ao lado do povo. O único membro do PSB que decidiu ficar foi Belivaldo.

AJN1 – O crescimento do déficit da Previdência tem sido o grande gargalo para as finanças do governo do Estado. Ele praticamente dobrou entre os anos de 2013 e 2017, pulando de R$ 546 milhões para mais de R$ 1 bilhão. Como resolver essa equação? Tem jeito?

VF – Claro que tem. O que falta é uma gestão com compromisso para fazer uma boa administração dos recursos públicos. Não existe criatividade para buscar soluções viáveis, só ouvimos falar de empréstimos que oneram ainda mais os cofres públicos. Com uma má gestão a equação nunca irá fechar, não tem jeito. Sergipe precisa de uma gestão moderna e eficiente que qualifique o gasto público e busque as parcerias necessárias para a execução dos serviços.

“Belivaldo se encantou com o poder. Ele preferiu ficar ao lado de um governo que conseguiu atrasar Sergipe em todas as áreas do que ao lado do povo sergipano.”

AJN1 – O nome do senhor está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, divulgadas recentemente. Esse fato o deixa vaidoso?

VF – De forma alguma. Eu não foco minha candidatura em pesquisa, até porque elas são o reflexo do momento. As únicas pesquisas que servem para análise são as de consumo interno que nos ajudam a identificar os anseios da sociedade. Não dou muito crédito a pesquisas divulgadas, geralmente elas representam o interesse de quem as contrata.

AJN1 – Qual a avaliação que o senhor faz dos governos de Jackson Barreto (MDB) e Belivaldo Chagas, governo o qual o PSB fez parte?

VF – A pior possível. Jackson e Belivaldo, como já disse, conseguiram atrasar Sergipe em todas as áreas, levando nosso estado ao fundo do poço. É triste ver que um projeto, que nós ajudamos a eleger, destruiu o estado. A mesma imagem que foi vendida ao povo de Sergipe em 2014 foi vendida ao PSB. Mas nós temos posição firme e não mantemos apego por conta de cargos. Quando detectamos que o governo seguia por caminhos que não atendiam os anseios da população sergipana, tentamos alertar, não fomos ouvidos e decidimos sair deste projeto e apresentar uma nova via para a sociedade que anseia por uma nova política, feita de forma ética com honestidade, compromisso e transparência, que cuide verdadeiramente de nossa gente.

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