ARACAJU/SE, 25 de outubro de 2024 , 15:25:13

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Vera Lúcia abre série de entrevistas da AJN1 com candidatos a prefeito

Da redação, AJN1

 

A Agência Jornal de Notícias (AJN1) inicia nesta segunda-feira (19), a série de entrevistas com os candidatos à prefeitura de Aracaju. Todos os sete postulantes respondem a quatro perguntas variadas. Quem abre a série é a candidata pelo PSTU, Vera Lúcia, que disputará novamente a prefeitura da capital, desta vez em uma chapa pura, tendo o servidor federal Elinos Sabino como seu vice. 

 

Leia na íntegra.

 

AJN1 – Por que se candidatar a prefeita da Capital?  A senhora sente que tem chances?

 

Vera Lúcia – O PSTU sempre que tem condições apresenta-se nas eleições para expor um programa a classe trabalhadora. Um programa que resolva de fato os nossos problemas. Ao mesmo tempo, chamamos esses trabalhadores a lutarem de forma coletiva e organizada, porque não acreditamos que as eleições resolvam os problemas que enfrentamos, principalmente para os mais pobres, as mulheres, negros e LGBTs.

 

Sobre as chances, a primeira pergunta deveria ser: “por que essa democracia não permite que os candidatos disputem as eleições em igualdade de condições, de material e de tempo de tv?”. Porque se fosse assim, teríamos grandes chances de vencer.

 

AJN1 – Se for eleita no próximo dia 2 de outubro, quais os quatro principais projetos que o seu governo pretende implantar a partir de 2017?

 

VL – Combate ao desemprego

Nosso país hoje tem quase 12 MILHÕES de desempregados. Em nosso estado mais de 11% da população está desempregada. Em Aracaju o índice passa de 16%. Defendemos a criação de empregos através de um plano de obras públicas necessárias, como saneamento básico, postos de saúde, escolas a serem construídas por uma empresa municipal de obras 100% pública e estatal, controlada pelos trabalhadores. De forma emergencial é preciso garantir cesta básica pela prefeitura para todo (a) desempregado, além da isenção de pagamento de luz, água, IPTU e passe-livre em todo transporte público para os desempregados.

 

Mas não basta mudar de prefeito, temos que lutar para aprovar no país a redução da jornada para 36 horas sem redução dos salários; seguro desemprego de dois anos, pelo menos, enquanto perdurar a crise; proibição da demissão imotivada e expropriação sem indenização das fábricas e empresas que receberam isenções fiscais e demitirem e garantia por lei de estabilidade no emprego;

 

Mobilidade e Transporte público

 

Mobilidade se resolve com transporte público barato e de qualidade. Para começar tem que tirar o lucro da jogada. Em Aracaju nosso transporte é uma vergonha. Duas ou três empresas cobram caro por um serviço sofrível. Nós vamos municipalizar o transporte público, acabar com a farra das empresas. Vamos ter uma empresa pública, controlada pelos rodoviários e pela população, que é quem usa. Uma empresa pública, apoiada no conselho popular, deve se preocupar somente em atender bem a população e não em gerar lucro como é hoje. Dessa forma, vamos prestar um serviço de qualidade com tarifa social rumo à tarifa zero. Com um bom serviço as pessoas vão começar a usar o transporte público e o trânsito vai fluir. Vai ser uma beleza. É preciso investir ainda em ciclovias, buscando atender as demandas de quem usa a bicicleta para ir trabalhar e estudar.  VLT, BRT e as promessas mirabolantes dos outros candidatos não vão resolver porque mantém o objetivo lucrativo do transporte. Para esses senhores o lucro vem primeiro, a vida da população não conta.

 

Saúde e Educação

 

Defendemos que os políticos eleitos e seus familiares sejam obrigados a usar os serviços públicos de saúde e educação. Essa é a primeira medida, afinal ninguém muda uma realidade que não lhe afeta. Esses senhores que há décadas comandam a cidade oferecem um serviço de morte aos trabalhadores e se tratam nos hospitais mais caros do Brasil e do mundo. Oferecem uma péssima educação para nossas crianças enquanto seus filhos estudam nas melhores escolas, inclusive fora do país.

 

Então tem que cortar isso e obrigar o prefeito, vereadores e suas famílias a usarem o SUS e a escola pública. Outra coisa é que o dinheiro público deve ir para saúde e educação públicas. Nenhum centavo para os planos de saúde, hospitais e escolas privadas. Além do mais os usuários e os profissionais é que devem decidir qual a política mais adequada para suprir as necessidades. Por isso defendemos a formação de conselhos populares da saúde e educação onde a população possa participar, de maneira direta, da elaboração e implementação das políticas públicas.

 

Segurança pública

 

A principal política do atual prefeito João Alves Filho para segurança pública tem sido o armamento e a militarização da guarda municipal como forma de combater a violência. No entanto, a violência só aumentou, como apontam os índices. Em 2015 foram 628 assaltos a ônibus. Até junho deste ano já foram 1.049. A violência não diminuiu, mas os estudantes, os flanelinhas, os ambulantes e os moradores das periferias sentiram os efeitos das balas de borracha, dos cacetes e spray de pimenta da guarda municipal. O PSTU acha que o problema da violência está relacionado a desigualdade social. Portanto, para resolvê-lo, a primeira medida é gerar empregos. Por isso, defendemos um plano de obras públicas, que vai gerar empregos e garantir a construção de creches, escolas, postos de saúde e áreas de lazer e cultura na periferia de Aracaju. A nossa juventude merece o direito ao futuro, ter perspectiva de vida, e não o que vem recebendo hoje: cadeia e violência policial. Não será a militarização da Guarda Municipal que vai resolver esse problema. É preciso desmilitarizar, a ter uma polícia civil única, controlada pela população.

 

AJN1 – Em todas as eleições que a senhora participou, há um repetitivo discurso de combate à burguesia. Tradicionalmente, o seu reduto eleitoral tem ramificações em frentes sindicais, com maior força entre os trabalhadores da Petrobras. Tanto é que a senhora sempre faz panfletagem na porta da estatal e, no passado recente, Toéta, membro do Sindipetro/SE, representava o partido em eleições. De certa forma, quem trabalha na Petrobras tem um status social, na maioria dos casos, elitista. Nesse sentido, a senhora não estaria contrapondo o lema da sua campanha, ao centralizá-la num sindicato representado por trabalhadores abastados?

 

VL – A Petrobrás é uma das maiores petroleiras do mundo. Isso não significa dizer que todos os seus trabalhadores são “abastados”. Os gerentes e os cargos indicados pelos governos são abastados. Parte deles, inclusive, se envolveu em esquemas de corrupção como temos visto nos noticiários. Entretanto, isso não corresponde aos petroleiros que se lançam todos os dias ao trabalho embaixo de sol e chuva, em terra e no mar. Nem são abastados os petroleiros diretos que correspondem atualmente a 20% da mão de obra petroleira, muito menos os terceirizados que compõe 80% do quadro e tem salário médio de R$ 1.200,00. Muitas vezes seus encargos sociais são surrupiados e, não raro, são caloteados nos fins dos contratos. Com um pouco mais de informação é possível se verificar que muitos dos petroleiros que tornam grande essa empresa, morrem. Entre 2010 e 2016 já foram 69 mortos por acidente de trabalho, a  maioria terceirizados. Os petroleiros estão ficando doentes e não ricos.

 

Ricos e abastados são aqueles que não trabalham, cuja função é a de explorar o trabalho alheio e tramar os esquemas de saques da riqueza produzida com a prospecção, produção e refino dessa fonte energética que move o mundo. E os governos de plantão têm se dedicado nas últimas décadas – desde FHC passando por Lula e Dilma/PT e agora Temer/PMDB – a desmoralizar essa empresa para justificar sua venda. Para isso, tentam destruir também a imagem de quem nela trabalha, os petroleiros.

 

Defendemos essa categoria como defendemos todos os operários que são responsáveis por produzir a riqueza desta sociedade e que ficam à margem dela, amargando o desemprego, os salários arrochados, a inflação, as doenças e a morte. Não vemos isso como um erro. Somos trabalhadores e assim como a burguesia tem seus partidos e controlam o estado para garantir a sua riqueza em base a exploração e opressão de nossa classe, temos o direito e, mais que isso, o dever de defender a nossa classe e os nossos interesses de acordo com as nossas necessidades.

 

AJN1 – A senhora ainda acredita na política como forma de transformação social, tendo em vista que o povo brasileiro está desacreditado com a classe? O que fazer para mudar a imagem do político sem associá-lo a esquemas de corrupção?  

 

VL – Não há outra maneira de resolver os problemas de uma cidade, de uma sociedade sem as disputas políticas. Nelas estão contidos os interesses de classes sociais opostas. O PSTU não acredita no tipo de democracia que vivemos e nem colocamos nenhuma ilusão nas eleições. Nunca dissemos que a realidade sob a qual estamos submetidos fosse ser resolvida através das eleições.

 

A forma como é feita a política hoje não serve à classe trabalhadora, mas serve muito para quem financia as campanhas milionárias dos partidos da ordem e para os eleitos que fazem da política um esquema para ficarem ricos. Ou seja, os corruptores (empresários/empresas) e os corruptos (executivo e legislativo). Para esses, a política como é feita serve e serve muito.

 

Por isso, estamos do lado da população que quer pôr para fora Temer e todos eles. É preciso derrubar o congresso de corruptos e não apenas Cunha. Da mesma maneira que somos a favor de chamar eleições gerais – de vereador a presidente da república – com novas regras.  Os corruptos e corruptores devem ir para cadeia e ter os bens confiscados. Nenhum envolvido em corrupção deveria ser candidato ou eleito. Os mandatos devem poder ser revogados pela população a qualquer momento. É preciso acabar com os privilégios dos políticos: salário igual ao de um professor. No caso do prefeito e vereadores, salário igual a de um professor do município, que sejam obrigados a utilizarem os serviços públicos como o SUS, a escola pública e o transporte público.

 

Tem gente que diz que o que defendemos é utopia, que é muito difícil. A esses dizemos o seguinte: muito mais difícil é ficar desempregado, não ter assistência à saúde quando doente, não ter o que comer e não ter uma casa decente para descansar um corpo cansado depois de um dia de trabalho ou procurando emprego. A política que defendemos é baseada no atendimento das necessidades do povo trabalhador e os trabalhadores são capazes das maiores transformações sociais.

 

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