ARACAJU/SE, 27 de julho de 2025 , 9:20:08

“420 mil pessoas morrem por ano por alimentos contaminados”, alerta especialista em segurança dos alimentos

 

 

A cada ano, 420 mil pessoas morrem no mundo devido ao consumo de alimentos contaminados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O dado alarmante escancara um problema muitas vezes invisível: quem realmente garante que os alimentos que chegam ao nosso prato são seguros?

 

No Brasil, os surtos de intoxicação alimentar são mais frequentes do que se imagina – e 35% deles acontecem dentro das próprias casas, de acordo com a Vigilância Epidemiológica de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), do Ministério da Saúde. Falta de higiene, armazenamento inadequado e consumo de produtos fora da temperatura segura estão entre as principais causas.

 

Nos estabelecimentos comerciais, o problema também persiste. Especialistas alertam que o controle inadequado de tempo e temperatura na manipulação de alimentos pode transformar um prato aparentemente fresco em um verdadeiro risco para a saúde pública.

 

“O perigo nem sempre é visível. Muitas pessoas acreditam que, se o alimento está com boa aparência e cheiro, ele está seguro para consumo. Mas vírus, bactérias e fungos podem estar presentes mesmo sem sinais de deterioração”, explica Paula Eloize, mestre em Segurança dos Alimentos pela Universidade de Lisboa e especialista no assunto.

 

O perigo mora na cozinha

 

Muita gente acredita que intoxicação alimentar é um problema exclusivo de restaurantes e indústrias, mas a verdade é que a falta de cuidados na preparação e conservação dos alimentos dentro de casa também coloca a saúde em risco.

 

“A geladeira não é cofre. Um alimento que foi mal armazenado ou passou muito tempo na temperatura errada pode se tornar um terreno fértil para a multiplicação de bactérias”, alerta Paula Eloize.

 

Dos erros que podem levar à contaminação alimentar dentro de casa, a especialista destaca que descongelar carnes em temperatura ambiente  está entre os primeiros. “O correto é fazer isso na geladeira ou no micro-ondas, nunca sobre a pia” acrescenta.

 

Além disso, armazenar alimentos crus junto com os cozidos também aumenta o risco de contaminação cruzada. “E não para por aí, consumir ovos crus ou sem cozimento apropriado pode causar infecção por Salmonella, uma das principais responsáveis por intoxicações graves”, conta.

 

Outros erros comuns são: reaproveitar alimentos sem o devido reaquecimento, já que comidas que ficaram muito tempo fora da geladeira devem ser descartadas; e beber água não filtrada ou sem tratamento adequado, pois ela pode ser um dos principais vetores de doenças.

 

Além dos cuidados na manipulação e armazenamento, o controle da temperatura dos alimentos também é essencial para evitar a proliferação de microrganismos:

 

Acima de 60°C: para manter alimentos quentes expostos ao consumo.

Abaixo de 5°C: para alimentos prontos frios ou armazenados na geladeira.

Entre 2°C e 8°C: temperatura ideal para alimentos perecíveis em preparo.

 

“O intervalo entre 5°C e 60°C é o mais perigoso para a proliferação de bactérias. Ou seja, quanto mais tempo um alimento permanece nessa faixa, maior o risco de contaminação”, explica a especialista.

 

Responsabilidade técnica: o que a indústria e os restaurantes precisam fazer?

 

Se dentro de casa o risco já é alto, em cozinhas industriais e grandes redes de alimentação a responsabilidade deve ser ainda maior. Estabelecimentos precisam seguir normas rígidas para garantir que o consumidor não esteja ingerindo um alimento contaminado.

 

“A segurança dos alimentos não é apenas uma questão de boas práticas, mas de compromisso com a vida do consumidor. Restaurantes e indústrias precisam investir em controle de qualidade, treinamento e fiscalização para evitar surtos de intoxicação alimentar”, reforça Paula.

 

Entre as medidas obrigatórias estão a implementação do sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) para monitoramento dos processos, o treinamento contínuo de funcionários sobre manipulação segura de alimentos, o armazenamento adequado para evitar contaminação cruzada, o controle rigoroso de fornecedores para garantir a procedência dos insumos e, claro, o monitoramento da temperatura dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva.

 

“Além disso, a transparência com o consumidor é um fator cada vez mais valorizado no mercado. Empresas que demonstram compromisso com a segurança alimentar e seguem protocolos rigorosos tendem a conquistar mais confiança e fidelidade do público”, conta.

 

O que o futuro reserva para a segurança alimentar?

 

Com o avanço das tecnologias, a tendência é que o controle da qualidade dos alimentos seja cada vez mais rigoroso. Métodos inovadores como rastreabilidade digital, inspeção com apoio da inteligência artificial e sensores térmicos já estão sendo implementados para garantir maior transparência e segurança para os consumidores.

 

Ainda assim, a especialista reforça que a informação continua sendo a melhor ferramenta para evitar problemas. Quanto mais consumidores, empresas e profissionais da área estiverem atentos à segurança dos alimentos, menos casos de intoxicação alimentar serão registrados.

 

“Afinal, o que está em jogo não é apenas a qualidade do alimento – é a saúde e a vida de milhões de pessoas”, alerta Paula.

 

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