Com a correria do dia a dia, a alimentação deixou de ser um ato para nutrir o corpo, e se tornou mais automática e emocional. Com isso, o índice de obesidade tem disparado no mundo e, no Brasil, não é diferente. Uma pesquisa feita pela Federação Mundial da obesidade (World Obesity Federation – WOF) aponta que 31% dos brasileiros são obesos, e que a cada 10 pessoas 3 têm o IMC (Índice de Massa Corporal) acima do normal no país.
O que a pouco tempo atrás era exceção, virou regra. Cada vez mais as pessoas estão ficando viciadas em açúcar, ultraprocessados e nas artificialidades. Resultado de uma qualidade de vida ruim. Quantas vezes transformamos o ato de comer em entretenimento? Você já se pegou dizendo que “merecia comer aquela besteirinha“, aquele pote de sorvete ou uma barra de chocolate inteira como fonte de prazer? Seja por uma desilusão amorosa, ansiedade ou estresse, muitas vezes a comida assume o papel de conforto emocional.
Para Brunna Dolgosky, que é empresária, psicóloga e hipnoterapeuta, as pessoas têm usado a comida como um entorpecente, uma distração, punição, e esquecem do seu verdadeiro papel que é regenerar. “Nós ainda vivemos em um ritmo acelerado, em constante estado de alerta. A mente sempre sobrecarregada e sem espaço para perceber as reais necessidades do corpo. Alimentar-se, que deveria ser um gesto de presença e autocuidado, virou uma resposta automática ao estresse, ao cansaço ou ao tédio, complementa.
Comer por fome ou por emoção?
Na maioria das vezes, não é o corpo quem tem fome, mas a mente. São as emoções que influenciam diretamente no nosso comportamento alimentar. Na hipnose, Brunna explica que é comum a mente buscar conforto no alimento. “A ansiedade busca controle, e comer vira um refúgio imediato; a tristeza busca acolhimento, e o alimento assume o lugar do afeto; o tédio busca estímulo, e comer se torna entretenimento”, diz.
Abaixo, a especialista também lista algumas dicas essenciais para quem deseja melhorar a relação entre a mente e comida. Confira:
- Aprenda a identificar seus gatilhos emocionais
“Antes de comer, pare e se pergunte: “O que eu estou sentindo agora?”. Muitas vezes, o que parece fome é ansiedade, carência, frustração ou tédio. Nomear a emoção já é um passo poderoso para retomar o controle. A mente só repete padrões enquanto eles estão ocultos”, diz.
- Pratique a presença ao comer
“Evite comer no automático, distraído com o celular, TV ou trabalho. Comer com presença, sentindo o sabor, o cheiro, a textura dos alimentos, ajuda a reconectar o corpo e a mente, diminuindo o impulso por exageros e aumentando a percepção da saciedade”, entende a hipnoterapeuta.
- Desconstrua crenças sabotadoras
“Frases como “eu não tenho controle”, “sou viciado em doce” ou “não consigo mudar” moldam comportamentos. Essas são apenas programações mentais que podem ser reescritas. Na hipnose, por exemplo, trabalhamos para transformar essas crenças na raiz, criando uma nova narrativa interna”, exemplifica.
- Reeduque a mente para o prazer equilibrado
“Muita gente associa comer bem com punição e dieta com sofrimento. Mas é possível ensinar a mente que o prazer pode estar em alimentos que nutrem de verdade, sem exageros ou culpa. Quando o prazer é genuíno, o corpo agradece, e o excesso se torna desnecessário”, entende.
- Crie rituais de autocuidado ao redor da alimentação
“Organize um ambiente calmo, escolha alimentos com intenção, agradeça antes de comer. Pequenos gestos restauram o simbolismo sagrado da alimentação e ajudam a transformar o ato de comer em um momento de reconexão, e não de compensação. Isso são coisas que eu, por exemplo, faço em todas as minhas refeições principais”, lista Brunna.
- Cultive fontes de prazer fora do prato
“O alimento não está ali para nutrir o corpo, mas para proteger uma parte da mente que ainda carrega medo, solidão ou sensação de vazio. Por isso, buscar o prazer fora da comida é essencial, como praticar hobbies, se movimentar e se conectar consigo mesma. Quanto mais fizer isso e se sentir preenchida, menos a comida irá precisar ‘’ocupar esse lugar’”, reflete.
- Busque ajuda terapêutica se sentir que está travada
“Se você já tentou de tudo e ainda sente que perdeu o controle, que comeu sem entender por quê, ou que seu corpo virou um campo de guerra, é sinal de que há emoções mais profundas pedindo por acolhimento. Como uma das alternativas, a hipnose pode acessar essas camadas sutis da mente e transformar padrões de forma duradoura”, finaliza Brunna Dolgosky.