A Doença de Alzheimer é uma das formas mais comuns de demência. Embora não tenha cura, o diagnóstico precoce é uma das melhores maneiras de evitar a progressão e melhorar a qualidade de vida dos pacientes – agora, uma tecnologia desenvolvida completamente no Brasil poderá ajudar nesse processo.
Por enquanto, ela ainda está em fase de validação, aguardando mais estudos para que possa ser amplamente implementada. Os testes iniciais, contudo, são animadores: em um estudo com 145 idosos, a avaliação não invasiva foi capaz de diagnosticar o Alzheimer com algo entre 94% e 98% de precisão – inclusive em pacientes em fases iniciais.
“Esses resultados indicam que o exame é extremamente confiável para diferenciar casos de Alzheimer de outras condições”, afirma o patologista clínico Helio Magarinos Torres Filho, diretor do Richet Medicina & Diagnóstico, laboratório de análises clínicas da Rede D’or, em comunicado. “Isso significa que, na prática, ele é capaz de fornecer informações claras e seguras, praticamente sem margem para erro”.
Por estar em fase de pesquisa, o teste ainda não tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Como funciona o teste para Alzheimer?
Tradicionalmente, o diagnóstico do Alzheimer é feito com base na avaliação clínica e em exames de imagem como o PET amiloide, capaz de detectar alterações no cérebro que são características da doença.
A análise do líquido cefalorraquidiano também pode ser útil ao detectar proteínas como a Tau e a Beta-amiloide, envolvidas na progressão do Alzheimer. O problema é que para coletá-lo, é preciso fazer uma punção na coluna e recolher a amostra que envolve e protege a medula espinhal.
O teste desenvolvido pelos pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino facilita esse processo. Nele, os pesquisadores conseguiram detectar o p-tau217, uma forma específica da proteína tau, no sangue dos pacientes com 94% de precisão. Ao avaliar também a proteína Aβ42, envolvida na doença, a acurácia aumenta para 98%. Os resultados foram publicados recentemente na Nature Communications.
“O PET amilóide e a análise do líquor continuam sendo considerados ‘padrões ouro’ para o diagnóstico da doença de Alzheimer, mas o teste de p-tau217 em plasma se mostrou uma alternativa importante e mais adequada à prática clínica de larga escala”, diz o médico. “Isso é especialmente relevante para países como o Brasil, onde o acesso à tecnologia de imagem cerebral ou coleta de líquor pode ser restrito e mais demorado em algumas localidades”.
O que é a p-tau217?
É importante notar que as investigações a respeito do p-tau217 estão em fase de estudos clínicos e ainda precisam de mais aprofundamento antes que a proteína possa ser utilizada como ferramenta diagnóstica. Os resultados até agora, contudo, são promissores.
Isso acontece porque a presença do p-tau217 se relaciona com o acumulo de beta-amiloide no cérebro, um dos principais indicadores de progressão desse mal, o que torna a proteína um bom biomarcador para a doença, tanto se avaliada no liquor, quanto se avaliada no sangue. Além de parecer ser um bom marcador para avaliar o risco de Alzheimer, ele pode começar a dar sinais anos antes do desenvolvimento da doença, sendo um possível indicador de que o paciente precisa ser acompanhado de perto. Ainda há evidências de que sua concentração varia de acordo com o tratamento, o que o torna não apenas um marcador diagnóstico, mas também um exame para avaliar a resposta terapêutica.
A pesquisa do grupo brasileiro é mais que bem vinda, porque a maioria dos estudos com esse marcador foram feitos fora do país. A investigação mais recente, contudo, aponta que o que tem sido observado no exterior também vale para o nosso país — o que autoriza estudo mais aprofundados para o emprego essa nova tecnologia por aqui.
Como prevenir demências?
Hoje, o Brasil, sozinho, conta com cerca de 2,71 milhões de pessoas diagnosticadas com demência, número que pode se aproximar dos 6 milhões em 2050. Enquanto os países desenvolvidos já possuem programas para evitar o Alzheimer e outros formas dessa condição, por aqui esses números ainda crescem, sem politicas públicas amplas para que isso seja evitado.
Enquanto as pesquisas caminham para melhorar o tratamento e convencer os governantes, algumas medidas individuais podem ajudar a evitar o surgimento dessas condições. São elas:
– Aprendizado constante: já está muito bem estabelecido entre os profissionais que a educação é um importante fator protetor para demências, portanto, aprender coisas novas é uma boa maneira de prevenir o desenvolvimento dessas condições;
– Participação social: a solidão se mostrou um fator importante para o declínio cognitivo, então estão estar envolvido em grupos sociais também pode ser um fator protetivo importante;
– Cuidado com doenças crônicas: as doenças metabólicas como diabetes, hipertensão e obesidade estão muito relacionadas a demências, então preveni-las é uma forma relevante de evitar doenças neurodegenerativas;
– Saúde auditiva e visual: pesquisas recentes mostram que a perda da audição e da visão podem ser um fator de risco para demências;
Estilo de vida saudável: fatores como alimentação e exercícios físicos são essenciais para manter um bom funcionamento do organismo e para evitar grande parte dos outros fatores de risco relacionados ao Alzheimer.
Fonte: VEJA