ARACAJU/SE, 29 de abril de 2025 , 14:17:47

Anvisa aprova novo medicamento contra câncer de pâncreas

 

Na última semana, o país foi surpreendido com a morte da atriz Lúcia Alves, vítima de um câncer de pâncreas, um dos mais mortais em todo o mundo. Esse tipo de notícia tem se tornado mais comum à medida que o número de casos da doença cresce no país, mas, para tentar aplacar sua agressividade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar mais um medicamento para formas graves desse tumor.

Chamado comercialmente de ONIVYDE, o irinotecano lipossomal peguilado ganhou registro para o tratamento de formas do câncer que são resistentes aos protocolos convencionais e já tenham atingido o estágio metastático – quando a doença se espalha por outros órgãos. “Essa é a primeira droga aprovada para o tratamento do câncer de pâncreas desde 2020”, afirma a VEJA o oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center, Thiago Felismino. “Isso é importante porque muitos casos desse tumor são diagnosticados já em estágio avançado”.

O medicamento é um antigo conhecido dos oncologistas. Há décadas, o irinotecano é utilizado para o tratamento de diversas formas tumorais, mas, mais recentemente, a farmacêutica Servier desenvolveu uma versão aprimorada, chamada de lipossomal. Nessa formulação, a droga é encapsulada por uma membrana, o que faz com que sua eliminação seja mais difícil e ela chegue em maior quantidade ao tumor, aumentando sua efetividade.

Os números surpreendem. Em um ensaio clínico com mais de 400 pacientes, pesquisadores testaram uma combinação do ONIVYDE com dois outros quimioterápicos para o tratamento de formas metastáticas e resistentes desse câncer. “A taxa de controle da doença e a sobrevivência em um ano são os dados que mais surpreendem”, diz Felismino.

De fato, os resultados, publicados em 2019, no European Journal of Cancer, mostram a eficácia desse tratamento. Enquanto apenas 24% dos pacientes na terapia convencional tinham a doença controlada, no grupo tratado com a nova droga esse número chega a 52%, com mais de um quarto dos pacientes conseguindo sobreviver um ano após o início da administração da medicação – um número alto para os padrões desta doença.

O tratamento ainda diminuiu o risco de morte e aumentou o tempo médio que a doença demora para se agravar.

Por enquanto ainda não se trata de uma cura definitiva, já que a nova terapia aumenta em apenas alguns meses o tempo de sobrevida do paciente em comparação com o tratamento anterior. Ainda assim, há motivos para comemorar. “Cada mês adicional de sobrevida é fundamental para os pacientes e os dados do estudo mostram, claramente, que estamos avançando em uma área onde as alternativas eram extremamente limitadas”, diz o oncologista.

Câncer de pâncreas

Esse tipo de tumor é historicamente um dos mais agressivos e mortais para os pacientes, mas o aumento recente no número de casos tornou mais urgente a busca por tratamentos alternativos e mais eficazes. Apenas no Brasil, estima-se quase 11 mil casos por ano, sendo o 14º tipo de câncer mais comum.

As consequências desse aumento assustam. Entre 2011 e 2020, houve um incremento de mais de 50% nas mortes causadas por essa doença, passando de 7,7 mil para 11,8 mil.

O grande problema está na natureza do câncer de pâncreas. “Os sintomas iniciais são inespecíficos, com dor abdominal, dor nas costas e uma perda de peso pouco significativa”, explica Felismino. Com isso, os pacientes demoram a procurar um especialista.

Mas não para por aí. Apesar das células do tumor serem muito agressivas, o que dificulta o tratamento mesmo com as terapias mais avançadas, o rastreio da doença é difícil e os sinais demoram para ficar intenso o suficiente para que o indivíduo procure um médico – o diagnóstico, portanto, é feito quando a doença já progrediu, muitas vezes tendo atingido outros órgãos.

Há muito trabalho pela frente, mas as coisas têm caminhado – e o anúncio mais recente é um atestado dessa evolução.

Fonte: VEJA

 

 

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