ARACAJU/SE, 14 de setembro de 2025 , 18:14:38

Avanço da medicina e do segmento de transplantes poderá prolongar a vida humana?

 

Quando Xi Jinping e Vladimir Putin se encontraram em Pequim, muitos esperavam a abordagem de temas como energia, comércio ou segurança militar. Mas os dois líderes, ambos com 72 anos de idade, foram flagrados conversando sobre algo inesperado: como a biotecnologia, os transplantes de órgãos e a medicina moderna poderiam prolongar a vida humana — talvez até para sempre.

Na ocasião, uma gravação captada pela CCTV registrou o momento em que Putin comentou sobre o avanço da biotecnologia. “Talvez no futuro tenhamos transplantes constantes de órgãos humanos, pessoas rejuvenescendo com o tempo — quem sabe até alcançando a imortalidade“, disse o presidente russo, ao passo que Xi concordou, prevendo que neste século os humanos poderiam viver até 150 anos.

O que dizem especialistas

No entanto, apesar das expectativas dos líderes políticos, os cientistas são céticos. “O transplante de órgãos não é o caminho para a imortalidade”, afirma Arthur Caplan, chefe de ética médica da NYU Grossman School of Medicine, segundo o portal National Geographic. Ele destaca que os transplantes salvam vidas de quem tem órgãos comprometidos, mas não combatem as doenças sistêmicas do envelhecimento.

“O movimento da longevidade está no nível molecular, não no nível de substituição de órgãos”, acrescenta Caplan. Nir Barzilai, professor da Faculdade de Medicina Albert Einstein, concorda. Ele destaca que hoje temos estratégias muito melhores, como edição genética, medicamentos antienvelhecimento e terapias com células-tronco.

“Podemos retardar o envelhecimento e até revertê-lo”, aponta.

Limites dos transplantes

Embora mitos sobre transplantes existam há milênios, o primeiro procedimento bem-sucedido só ocorreu em 1954, com a transferência de um rim entre gêmeos idênticos. Nas décadas seguintes, surgiram transplantes de fígado, coração, pâncreas, pulmão e intestino, com avanços em preservação de órgãos e controle da rejeição. Desde 1988, mais de 800 mil pacientes nos EUA tiveram a vida salva ou melhorada por essas cirurgias.

Ainda assim, os riscos permanecem. O sistema imunológico naturalmente rejeita órgãos estranhos, e os medicamentos que controlam essa resposta — imunossupressores — aumentam a vulnerabilidade a infecções graves, além de provocar efeitos colaterais como diabetes, hipertensão e até câncer. E, com a idade, o corpo se torna menos resistente a cirurgias e infecções.

“Ainda não há transplante para fragilidade ou demência”, observa Henry Pleass, professor de cirurgia da Universidade de Sydney e cirurgião de transplante do Hospital Westmead. Além disso, é preciso mencionar que, embora muitas vezes os órgãos transplantados durem décadas, eles não duram necessariamente a vida toda. Isso significa que a substituição de órgãos não é uma solução milagrosa.

“Primeiro, você tem que sobreviver a um transplante”, destaca Barzilai. “Depende do órgão, mas se você for velho ou frágil, pode não se recuperar à linha de base. E, eventualmente, você pode precisar de outro órgão. Esta não é uma estratégia para a longevidade”.

Atualmente, a procura por órgãos para transplante ultrapassa em muito a oferta disponível. No cenário global, apenas cerca de 10% da demanda é atendida, com fortes desigualdades entre os países. Essa escassez, afirma Arthur Caplan, torna inviável — e até antiético — pensar em transplantes como estratégia de prolongamento da vida.

Além disso, o custo também é um obstáculo. Nos Estados Unidos, um transplante pode variar de US$ 260 mil para um rim a mais de US$ 1 milhão para um coração, sem contar as despesas permanentes com medicamentos imunossupressores.

Futuro da longevidade

Para enfrentar esses desafios, cientistas exploram diferentes caminhos. Uma das frentes usa a edição genética, por meio do CRISPR, para modificar órgãos de porcos e torná-los praticamente “livres de rejeição” — abordagem já testada com sucesso em dois pacientes.

Outras estratégias em estudo incluem o cultivo de órgãos a partir de células-tronco humanas, a criação de organoides (mini-órgãos desenvolvidos em laboratório) e o uso da bioimpressão 3D para produzir órgãos sob demanda. Até agora, porém, nenhuma dessas soluções alcançou aplicação clínica em larga escala.

Pesquisadores como Alejandro Soto-Gutierrez acreditam que, no futuro, será possível rejuvenescer órgãos envelhecidos em vez de substituí-los. Já os “fatores Yamanaka” — proteínas capazes de transformar células adultas em células-tronco — podem ajudar a reverter marcas do envelhecimento.

“Se conseguirmos chegar a 150, não acho que será em um corpo velho, mas em um corpo jovem”, afirma Barzilai. Ele prevê que, em breve, terapias poderão “apagar” partes do envelhecimento, mantendo os órgãos funcionais por muito mais tempo.

Mas, por enquanto, especialistas são unânimes: os maiores aliados da longevidade continuam sendo hábitos saudáveis. Exercícios, alimentação equilibrada, sono de qualidade, controle do estresse e vínculos sociais comprovadamente prolongam a vida.

“Muitas pessoas estão nos procurando por algum suplemento ou pílula mágica”, diz Eric Verdin. “Não temos nada que dê o mesmo efeito de atividade física, nutrição e um estilo de vida saudável”, resume o presidente do Buck Institute.

Fonte: Aventuras na História

 

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