O câncer colorretal, doença abordada pela campanha Março Azul-Marinho, tornou-se um grande ponto de preocupação para especialistas e autoridades de saúde no Brasil. Isso é apontado a partir de pesquisas que demonstram um aumento da incidência de casos no país. Um destes estudos, feitos pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) já estimava que, para cada ano do triênio 2023-2025, 45.630 novos casos da doença no país, correspondendo a um risco de 21,10 casos por 100 mil habitantes. Os números colocam a doença na terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma.
Outra pesquisa, feita pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) com base em dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mostrou que os casos da doença entre usuários de planos de saúde cresceram em 80,3% em um período de oito anos, indo de 1.954 em 2015 para 4.465 em 2023. E o Fundo Mundial de Pesquisa contra o Câncer (WCRF), sediado na Inglaterra, mostrou que o Brasil teve a sétima maior incidência de tumores colorretais no mundo em 2022, com 60.118 casos, em uma lista liderada por China, Estados Unidos e Japão.
Este tipo de câncer afeta segmentos que compõem o intestino grosso e são responsáveis pelo processamento das fezes resultantes da digestão. “O câncer colorretal é um tipo de tumor maligno que pode envolver a última porção do nosso intestino (o intestino grosso), bem como o reto e o ânus. Na maioria das vezes ele se forma a partir de pólipos, que são lesões benignas na parede interna do intestino. Além do próprio intestino, em estágios mais avançados, o câncer colorretal pode acometer outros órgãos, como fígado, pulmão, sistema nervoso e osso”, explica o médico gastroenterologista Marcel Lima Andrade, professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).
Os sintomas da doença variam conforme a localização do tumor e podem incluir diarreia, constipação, sangue nas fezes, dor abdominal, sensação de inchaço e perda de peso repentina. O surgimento destas lesões e tumores no intestino pode estar associado a fatores genéticos, alimentares e ao estilo de vida.
Entre os principais fatores de risco estão o tabagismo, o sedentarismo e a alimentação rica em fast food e comidas processadas, além do consumo excessivo de carnes vermelhas e embutidos, como salsicha, presunto e salame. Outros fatores de risco considerados são a idade superior a 50 anos, o baixo consumo de cálcio, a obesidade, alterações genéticas e o histórico familiar de casos de câncer ou de doenças inflamatórias intestinais crônicas, como Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa.
Um dos casos que mais chamaram a atenção do público foi o da cantora Preta Gil, 50 anos, diagnosticada com um câncer no cólon em janeiro de 2023. Desde então, passou por duas cirurgias para a retirada de tumores e uma primeira etapa de quimioterapia. No ano passado, Preta declarou apoio à campanha Março Azul-Marinho. “Eu tenho falado muito sobre esse câncer, porque ele me acometeu e acomete muitas pessoas. Acho que isso é muito fruto de uma geração, da minha idade, que é a gente pagando um pouco o preço dos nossos hábitos alimentares e de estilo de vida. Mas a gente consegue, com um diagnóstico precoce, tratar como foi o meu caso. Por isso eu optei por não me isolar e não viver a minha cura isoladamente”, disse ela na ocasião, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Como tratar e como evitar
É justamente no diagnóstico precoce que está um grande trunfo do tratamento contra o câncer colorretal. De acordo com o professor Marcel, esse tratamento depende do estágio e da localização da doença, podendo envolver desde pequenos procedimentos endoscópicos até mesmo cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia biológica ou uma combinação entre eles. “O diagnóstico precoce é fundamental. Em estágios iniciais, a taxa de cura é superior a 90%. Além disso, mesmo após o tratamento, o paciente deve realizar um acompanhamento regular para que haja o retorno da doença, ela possa ser detectada precocemente”, confirma ele.
A consulta regular ao médico e a realização periódica de exames é outra recomendação da campanha. A colonoscopia é considerada um dos exames mais eficazes para a detecção e remoção de pólipos que possam se transformar em câncer. Sua realização regular e periódica é recomendada para pessoas com mais de 50 anos ou com histórico familiar da doença.
Outro comportamento incentivado pelo Março Azul-Marinho é a prevenção contra os fatores de risco da doença, através da adoção de hábitos saudáveis, como uma dieta rica em alimentos naturais com fibras, redução da ingestão de gorduras saturadas e moderação no consumo de carnes vermelhas. “O mais importante é praticar atividade física regular, parar com o cigarro, evitar embutidos (salame, presunto, enlatados) e o álcool”, destaca Marcel, recomendando ainda a manutenção do peso adequado e o consumo de, pelo menos, dois litros de água por dia.
A campanha
O Março Azul-Marinho surgiu em 2020, a partir de uma orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabeleceu o dia 27 de março como o Dia Mundial de Conscientização sobre a doença. É a mesma data que marca, no Brasil, o Dia Nacional de Combate ao Câncer de Intestino. Andrade ressalta que a campanha representa um esforço conjunto entre o sistema de saúde e entidades médicas para aumentar a conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. “É mostrar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dessa doença, além de melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida da população”, disse o médico.
Fonte: Asscom Unit