Uma pesquisa divulgada nessa quarta-feira (24) pela UNIFESP, em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, aponta que cresceu o consumo de álcool entre adolescentes, assim como o número de brasileiros que enfrentam um transtorno pelo uso abusivo de álcool. Na população geral, houve uma queda no consumo de álcool.
O 3° Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) foi feito com 16.608 participantes com 14 anos ou mais, em 2023, de todas as regiões do país.
Em 2006, 8% dos adolescentes brasileiros enfrentavam transtorno pelo uso de álcool. Esse número caiu quase pela metade em 2012 (4,6%), mas voltou a crescer em 2023 (5,7%).
A média semanal de consumo de álcool por quem bebe é de 5,3 doses. Um em cada três adultos pratica episódios pesados (seis ou mais doses) e um em cada nove jovens já apresenta critérios para transtorno por uso de álcool. O consumo em excesso ocorre em todas as idades no país.
Outro destaque da pesquisa é que a cerveja é a bebida mais associada a consumo de risco e transtorno por uso de álcool.
Mesmo com a venda e o fornecimento de álcool para menores de 18 anos proibidos por lei, mais da metade da população brasileira (56%) experimentou bebidas alcoólicas pela primeira vez antes da maioridade e um quarto (25,5%) passou a beber regularmente antes dos 18 anos.
Entre adultos que bebem, o consumo de 60,3% chega a 6 doses de álcool ou mais em uma única ocasião. Em 2012, esse índice era de 46,3%.
Entre os homens, esse padrão de consumo foi ainda mais prevalente, chegando a quase 70% dos bebedores (68,8% dos homens x 47,7% das mulheres).
Os resultados apontam que o padrão de uso, relacionado à intoxicação aguda, acidentes e outros desfechos adversos, é praticado por mais de um terço de toda a população adulta (34,7%).
Número de pessoas que bebem é menor
Entre 2012 e 2023, houve uma redução de pouco mais de 5% (47,7% para 42,5%) na prevalência de bebedores. E ao se observar as taxas de prevalência por gênero, a redução é maior entre homens.
No Lenad II (2012), 58,6% dos homens afirmavam beber, número que caiu para 52,6% em 2023.
Entre as mulheres, a queda foi de 37,8% para 33,1%.
Confira abaixo destaques da pesquisa:
Consumo de álcool entre adolescentes
Transtorno pelo uso de álcool entre adolescentes:
2006: 8%
2012: 4,6%
2023: 5,7%
Percentual de adolescentes que já beberam alguma vez:
Sul: 36,7%
Centro-Oeste: 32,9%
Sudeste: 30,4%
Nordeste: 22,0%
Norte: 19,5%.
“Se a gente já tem dessa forma precoce, uma pessoa que já apresenta nesse momento da vida um transtorno por uso de álcool, isso tende a piorar ao longo da vida. Então a gente tem uma preocupação muito grande”, diz Marta Machado, secretária nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça.
A psiquiatra e médica pesquisadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) Olivia Pozzolo alerta que o uso de álcool na adolescência provoca impactos no desenvolvimento dos jovens e também eleva o risco de que eles se envolvam em acidentes, por exemplo. Ela diz que os pais têm um papel importante para evitar que isso aconteça.
“É importante também informar que oferecer bebida alcoólica a esse menor de idade, mesmo que esse fornecimento venha dos pais, é crime. E, além disso, a questão de uma orientação desses pais sobre esses riscos em relação aos adolescentes. Falar abertamente das consequências do uso de álcool é importante para esse indivíduo menor de idade criar uma consciência em relação às consequências relacionadas a esse uso”, afirma.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe dose segura de consumo de álcool em qualquer idade.
Entre os adolescentes, a proporção de meninas com transtorno pelo uso de álcool é maior que a de meninos.
Queda no consumo de álcool pela população geral
Queda na prevalência:
2006: 50,2%
2012: 47,7%
2023: 42,5% (últimos 12 meses).
A queda no consumo de álcool foi observada tanto entre homens quanto entre as mulheres adultas.
Diferenças regionais:
Sul: 71,4%
Centro-Oeste: 70,1%
Sudeste: 61,4%
Nordeste: 62,1%
Norte: 60,7%.
Problemas relacionados ao consumo
Consumo pesado episódico (beber grandes quantidades em uma única ocasião):
Centro-Oeste: 16,3%
Nordeste: 12,5%
Sudeste: 11,6%
Norte: 11,4%
Sul: 9,0%.
A cerveja é a bebida mais associada ao consumo de risco e transtorno por uso de álcool:
– 31% dos consumidores apresentam uso de risco (AUDIT).
– 28,6% apresentam dependência alcoólica (TUA – CIDI).
Isso mostra que o consumo de cerveja contribui de forma significativa para padrões problemáticos.
Ex-bebedores e busca por tratamento
– 25,5 milhões de adultos (14,9% da população) se declaram ex-bebedores (já tiveram consumo regular, mas não beberam no último ano).
– Cerca de 19,9 milhões de brasileiros manifestam motivação para reduzir o uso de álcool.
– 12,6 milhões já buscaram algum tipo de ajuda ou tratamento.
Fonte: G1