No dia 28 de agosto, o Brasil celebrou o Dia Nacional da Diálise, data que busca conscientizar a população sobre a importância do tratamento dialítico e da prevenção das doenças renais. Atualmente, mais de 172 mil brasileiros dependem da diálise para sobreviver, segundo o Censo Brasileiro de Diálise 2024, realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). O número representa um aumento de quase 10% em relação a 2023 e um crescimento de 55% na última década, refletindo o avanço das doenças renais crônicas no país.
Diante desse cenário, especialistas apontam que a diálise peritoneal – modalidade que pode ser realizada no domicílio – é uma alternativa estratégica para reduzir a sobrecarga dos centros de hemodiálise e ampliar o acesso ao tratamento, especialmente em regiões com menor infraestrutura. No Brasil, 87,3% dos pacientes fazem hemodiálise, 7,1% hemodiafiltração e apenas 5,6% (cerca de 7 mil pessoas) realizam diálise peritoneal. Essa baixa adesão contrasta com a média mundial, que é de 20%, chegando a 15% nos Estados Unidos e 50% no México.
A hemodiálise, padrão predominante no país, é realizada em clínicas especializadas, onde o paciente permanece ligado a uma máquina por cerca de quatro horas, três vezes por semana. Trata-se de um procedimento extracorpóreo baseado na filtragem do sangue, com risco elevado de infecção, potencial de prejudicar o coração e causar a chamada síndrome pós-diálise, que deixa o paciente debilitado por horas após cada sessão.
Já a diálise peritoneal utiliza o peritônio – membrana que reveste a cavidade abdominal – como filtro natural. O tratamento é diário e, na maioria dos casos, realizado à noite, enquanto o paciente dorme, por meio de uma máquina cicladora. Ela oferece mais autonomia, flexibilidade e qualidade de vida, permitindo que o paciente mantenha suas atividades cotidianas, trabalhe e viaje sem as limitações impostas pela hemodiálise. Entre os riscos, está a peritonite, infecção tratável com antibióticos.
Para o nefrologista Paulo Lins, gerente médico da Vantive, a escolha do tipo de diálise deveria ser feita de forma planejada, após diagnóstico precoce da doença renal crônica. “Em um mundo ideal, depois de identificada a insuficiência renal, o paciente seria encaminhado a um nefrologista, que indicaria o melhor tipo de diálise para aquele caso. Ele pode ir a uma clínica de hemodiálise, onde fica ligado a uma máquina três vezes por semana, ou pode fazer a diálise peritoneal em casa, recebendo a máquina, as soluções e o treinamento para realizar o procedimento com segurança”, explica.
No entanto, a realidade brasileira é bem diferente. “No pior cenário, que é o que acontece com 70% a 90% dos pacientes, ele passa mal, faz exames na UPA e descobre, ali na hora, que seu rim não funciona mais. Como a hemodiálise está mais capilarizada, acaba sendo a terapia indicada. Neste caso, a grande desafio torna-se implementar a diálise peritoneal nos serviços de emergência, já que pacientes precisam ocupar leitos de UTI para realizar a hemodiálise”, afirma Lins.
O especialista reforça que, do ponto de vista clínico, os resultados das duas modalidades são equivalentes, mas a qualidade de vida na diálise peritoneal é superior. “O paciente mantém a sua autonomia, pode seguir trabalhando e viajando, não tem a ‘ressaca’ da hemodiálise e acorda bem”, diz.
Além de defender a ampliação do acesso à diálise peritoneal, Lins alerta para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Ele lembra que entre 10% e 20% da população adulta brasileira está nos grupos de risco para doença renal crônica, especialmente diabéticos e hipertensos. “Estes pacientes precisam ser triados e fazer exames regulares de creatinina. O rim não dói. Esta é uma doença silenciosa, com sinais muito sutis e inespecíficos”, adverte.
A diálise peritoneal é coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e está no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Uma portaria do Ministério da Saúde de 2011 estabeleceu a meta de que 20% dos pacientes em diálise no Brasil utilizem essa modalidade, mas, passados mais de dez anos, o país ainda está longe de atingir esse objetivo. Para especialistas, ampliar o uso da diálise peritoneal significa não apenas melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas também reduzir custos hospitalares e desafogar os centros de hemodiálise, tornando o sistema de saúde mais eficiente e acessível.
Fonte: Assessoria de Imprensa