ARACAJU/SE, 14 de junho de 2025 , 3:07:53

Doença celíaca: novo teste não depende que pacientes consumam glúten

 

A doença celíaca é uma condição autoimune, desencadeada pela intolerância ao glúten, que afeta 78 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, são mais de 2 milhões de celíacos, segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos (Fenacelbra). Os sintomas dessa condição incluem falta de apetite, dores abdominais, vômito frequente e mudanças de humor.

O diagnóstico precoce é a chave para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, bem como para diminuir os riscos de complicações a longo prazo. No entanto, em até 80% dos casos no mundo, a doença sequer é diagnosticada, pois a sua investigação clínica é um processo confuso, desgastante e demorado.

Hoje, exames de sangue sorológicos ou gastroscopia com biópsia intestinal são considerados como as melhores formas de verificar um caso de doença celíaca. Mas, para serem eficazes, eles exigem o consumo regular de glúten, o que costuma levar a semanas de sofrimento gerado pela intensificação dos sintomas.

Para solucionar esse problema, pesquisadores do Walter and Eliza Hall Institute of Medical Research (WEHI), na Austrália, desenvolveram um exame de sangue inédito que volta a sua atenção para a presença de células T específicas do glúten. Em testes em laboratório, a abordagem demonstrou uma alta precisão no diagnóstico da doença celíaca — mesmo quando nenhum glúten foi consumido. Os resultados foram compartilhados em um artigo na revista Gastroenterology.

“Ao eliminar a necessidade do teste de provocação com glúten, estamos abordando um dos maiores obstáculos nas práticas diagnósticas atuais”, explica Jason Tye-Din, um dos autores do estudo, em comunicado. “Nosso teste pode poupar milhares de pessoas do desgaste emocional e físico de retornar ao glúten. É um passo importante para um diagnóstico mais rápido e seguro”.

Biomarcador para a doença celíaca

Em 2019, durante a execução de outro projeto, os pesquisadores já tinham feito a descoberta inesperada de que o marcador imunológico interleucina 2 (IL-2) aumentou na corrente sanguínea de pessoas com doença celíaca logo após elas comerem glúten. Isso gerou margem para dúvidas sobre se o sinal crítico ainda poderia aparecer, mesmo que nenhum glúten tivesse sido consumido.

Assim, usando um sistema de diagnóstico clínico desenvolvido em parceria com a empresa Novoviah Pharmaceuticals, os investigadores testaram o desempenho do teste de provocação com glúten no sangue “em tubo”. Para tanto, amostras sanguíneas de 181 voluntários foram coletadas pelo Royal Melbourne Hospital. Nessa amostragem:

– 75 pessoas já eram diagnosticadas com doença celíaca e estavam em tratamento com uma dieta sem glúten;

– 13 tinham doença celíaca ativa, mas não a tratavam corretamente;

– 32 apresentavam certa sensibilidade ao glúten, mesmo que não o suficiente para serem entendidos como celíacos;

– 61 não detinham qualquer nível de intolerância à proteína, sendo parte do grupo controle saudável.

Em laboratório, o sangue dos participantes foi então misturado com glúten em tubos de ensaio. A mistura permaneceu em contato durante um dia e, em seguida, o material passou por buscas para identificar o IL-2.

Surpreendendo a equipe, os testes indicaram que o exame poderia detectar a doença celíaca com até 90% de sensibilidade e 97% de especificidade. Isso mesmo entre os pacientes que já seguem uma dieta rigorosa sem glúten.

Exame na prática

Como ilustrado, o sinal de IL-2 só aumentou nos voluntários com doença celíaca. Na prática, isso demonstra que a resposta imune ao glúten pode ser detectada em um tubo, sem que os pacientes precisem se submeter a um regime doloroso rico em glúten. “Isso representa uma nova ferramenta promissora para dar suporte ao diagnóstico, especialmente para pessoas que não podem ser diagnosticadas com os métodos disponíveis atualmente”, observa Olivia Moscatelli, coautora da produção.

Por outro lado, o teste não foi tão eficaz em indivíduos com outras condições autoimunes além da doença celíaca, como diabetes tipo 1 ou tireoidite de Hashimoto. A presença desses outros fatores pode dar falsos positivos, o que sugere a necessidade de aprimoramento da abordagem nesses casos.

Da mesma forma, os pesquisadores reconhecem as limitações do estudo, à medida que ele envolveu apenas participantes de um centro com subgrupos relativamente pequenos. Como tal, crianças e pacientes em uso de imunossupressores não foram avaliados, representando mais uma lacuna a ser considerada na continuação do projeto.

Fonte: Revista Galileu

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