ARACAJU/SE, 24 de abril de 2025 , 0:14:58

Entenda a diferença entre doença celíaca, intolerância ao glúten e alergia ao trigo

 

Consumir pães e massas faz parte da rotina de muitos brasileiros, mas, para um grupo de pessoas, o comportamento pode ser danoso. Isso porque alguns organismos apresentam reações adversas a esse consumo, como mal-estar e manifestações gastrointestinais.

Quem se sente assim deve investigar os sintomas, pois há chance de ser um caso de doença celíaca, intolerância ao glúten ou alergia ao trigo. Embora haja quem confunda as condições, trata-se de distúrbios diferentes, que merecem atenção. Abaixo, destrinchamos o que é cada um deles e como tratá-los:

Qual a diferença entre doença celíaca, intolerância ao glúten e alergia ao trigo?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 1% da população mundial é celíaca – ou seja, apresenta a doença causada pela reação imunológica à ingestão do glúten, proteína encontrada em alimentos que contêm trigo.

Devido à semelhança entre os sintomas, a doença celíaca é muito confundida com a intolerância ao glúten (também chamada sensibilidade ao glúten não-celíaca).

Os dois casos compartilham, por exemplo, manifestações gastrointestinais, como diarreia, inchaço ou azia –, que diminuem ou desaparecem se o glúten for removido da dieta, mas reaparecem caso a pessoa volte a consumir alimentos com a proteína.

Contudo, enquanto a primeira é uma doença rara, genética e imunomediada, que causa uma reação exagerada do sistema imunológico ao consumo do glúten, a segunda é mais leve e apenas uma sensibilidade à proteína.

“Na intolerância ao glúten, não há danos ou inflamação celular. É mais uma questão de sensibilidade: ‘O glúten não me faz bem'”, explica Sarmed Sami, médico-cirurgião e gastroenterologista na Mayo Clinic Healthcare em Londres.

Ele diz que, se uma pessoa consumir glúten e apresentar uma reação imediata, como diarreia, é provável ser um caso de intolerância ao glúten do que doença celíaca. “A doença celíaca é um processo lento que normalmente não é sentido imediatamente pela pessoa”, informa o médico. Geralmente, os sintomas aparecem entre os 10 e 40 anos.

Alguns dos problemas associados à doença são dificuldade em ganho de peso, anemia e deficiência de minerais. “Já a intolerância ao glúten é mais comum e pode ser comparada à intolerância a laticínios, cebolas ou alho”, acrescenta Sarmed. A condição pode surgir em qualquer momento da vida.

Segundo a médica gastroenterologista Lisianne Rocha, a sensibilidade ao glúten não-celíaca é uma entidade clínica nova e que, diferente da doença celíaca, pode ser causada por alterações e fatores ambientais.

“O indivíduo não é predisposto geneticamente nem apresenta alterações nos genes, como na doença celíaca, mas pode desenvolver sensibilidade à proteína após infecções por vírus, parasitoses intestinais ou alterações na rotina, como dietas muito restritivas”.

Por exemplo, neste último caso, algumas pessoas optam por fazer uma retirada repentina do glúten da alimentação. Ao se expor novamente à proteína, o organismo pode passar a reconhecê-la como “inimiga”, reagindo com sintomas de sensibilidade.

“É como se fosse uma doença celíaca mais leve, mas, na investigação, nós não vamos encontrar indícios endoscópicos sugestivos de doença celíaca nem alterações dos marcadores. A pesquisa genética também não sugere doença celíaca, e a condição normalmente se resolve ao retirar o glúten da dieta e reintroduzi-lo aos poucos”, diz Lisianne.

A alergia ao trigo, por sua vez, ocorre quando seu corpo produz anticorpos contra as proteínas encontradas no alimento – o que é diferente da doença celíaca, que se manifesta contra uma proteína específica do trigo, o glúten.

Além disso, pode se desenvolver em qualquer idade e depende do estilo de vida, predisposição genética e tendência a alergias em geral.

Segundo a médica, em alérgicos ao glúten, o consumo gera reações mediadas por imunoglobulinas inflamatórias poucas horas após o contato com o fator alérgeno.

“Daí então se manifestam sintomas de reações alérgicas, como dermatite atópica; distúrbios gastrointestinais; sintomas respiratórios, como espirros e tosses; ou até sintomas mais graves, como dificuldade para respirar devido ao edema de glote”, diz.

Somam-se à lista ocorrências como inchaço, coceira ou irritação da boca e garganta; inchaço da pele; congestão nasal; dor de cabeça; e anafilaxia, que demanda ajuda médica emergencial imediata.

Como detectar e diagnosticar as condições

Segundo Sarmed, o diagnóstico da doença celíaca começa normalmente com um exame de sangue para determinar se o corpo trata o glúten como um invasor e se está gerando altos níveis de anticorpos para se proteger. “Se o exame de sangue for positivo, um de imagem chamado endoscopia será realizado a fim de recolher amostras para uma biópsia para verificar os danos no intestino delgado”, explica.

Quem é celíaco pode apresentar, nesta biópsia, hipertrofia de criptas, atrofia vilositária e presença de células inflamatórias. Outro caminho de diagnóstico é verificar se há presença dos marcadores genéticos para a doença celíaca, como a presença dos antígenos HLA DQ2 e DQ8.

O médico diz, ainda, que normalmente não é recomendado manter uma dieta livre de glúten durante esse período de investigação, pois isso pode criar resultados com falso negativo no exame de sangue.

Segundo Lisianne, ainda não há exames específicos para detecção isolada de intolerância ao glúten, o que faz com que o diagnóstico seja feito a partir do preenchimento de certos critérios e ausência de marcadores inflamatórios frente aos sintomas. “Se o exame de sangue for negativo, é provável ser apenas intolerância ao glúten”, diz Sarmed.

Já para detectar a alergia ao trigo, é possível fazer um teste cutâneo, através do qual pequenas gotas de extratos de proteínas de trigo são aplicadas na superfície da pele.

É avaliado, então, se há sinais de reações alérgicas (como protuberância vermelha e coceira) no local onde o extrato de proteína do trigo foi aplicado. Geralmente, o efeito colateral desses testes cutâneos é coceira e vermelhidão.

“Se uma condição de pele ou possíveis interações com certos medicamentos impedirem que você faça um teste cutâneo, seu médico poderá solicitar um exame de sangue que detecta anticorpos específicos que causam alergia a alérgenos comuns, incluindo proteínas de trigo”, acrescenta Sarmed.

Tratamentos e prevenção

Para tratar a intolerância ao glúten, o paciente pode reduzir o consumo de alimentos que contêm a proteína, dependendo do nível da intolerância.

“Algumas pessoas podem se sentir bem com a redução do consumo pela metade, outras podem necessitar uma redução maior. Isso é diferente da doença celíaca, em que a pessoa precisa evitar completamente o consumo de glúten”, diz Sarmed.

O importante é que o manejo da dieta entre os intolerantes seja feito de forma consciente e equilibrada, pois a restrição alimentar, como dito acima, pode fazer com que o organismo entenda o glúten como o inimigo e piore a situação.

Aliás, sem um diagnóstico específico para doença celíaca, não existe motivo para eliminar o glúten. Samed explica não haver evidências indicando que uma dieta livre de glúten seja mais saudável para aqueles que não possuem algum tipo de intolerância.

“Se o seu intestino delgado estiver gravemente danificado ou se você tiver doença celíaca refratária, podem ser recomendados esteroides para controlar a inflamação. Eles podem aliviar os sintomas graves da doença celíaca enquanto o intestino cicatriza”, diz.

Por se tratar de um distúrbio genético e imunomediado, porém, não há como prevenir a doença celíaca. Assim, caso os seus pais ou outros parentes de primeiro grau apresentem histórico da doença, é importante ficar atento a sintomas sugestivos e iniciar a investigação com um médico gastroenterologista.

No caso da alergia ao trigo, evitar as suas proteínas é o melhor tratamento. Isso requer que o indivíduo leia com cuidado o rótulo dos produtos, já que muitos alimentos preparados contêm trigo na composição.

“Os anti-histamínicos podem reduzir os sinais e sintomas de uma pequena alergia ao trigo”, completa Sarmed, informando que os medicamentos podem ser tomados após a exposição ao alimento para controlar a reação e ajudar a aliviar o desconforto.

Por fim, a lição que fica para qualquer um dos casos é a de procurar ajuda médica frente a qualquer sinal de desconforto, dor ou mal-estar, além da realização de testes e exames para ter certeza do distúrbio em questão para um tratamento eficaz e direcionado.

Fonte: Casa e Jardim

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