ARACAJU/SE, 2 de junho de 2025 , 23:14:52

Estudo aponta que 1,1 bilhão de jovens no mundo sofrem com problemas de saúde evitáveis

 

Uma análise global focada especificamente na saúde da população adolescente calcula que há mais de 1,1 bilhão de jovens com idades entre 10 e 24 anos vivendo em regiões onde condições evitáveis (tais como infecção por HIV, gravidez precoce, transtornos psicológicos, má nutrição e lesões) ameaçam o seu bem-estar. O levantamento foi publicado na revista The Lancet.

“A saúde e o bem-estar dos adolescentes em todo o mundo estão em um ponto crítico, com um progresso misto observado nas últimas três décadas”, aponta Sarah Baird, uma das coordenadoras do estudo, em comunicado à imprensa. “Embora o uso de tabaco e álcool tenha diminuído e a participação no Ensino Médio e Superior tenha aumentado, outros problemas continuam a ser observados”.

Estima-se, por exemplo, que o sobrepeso e a obesidade aumentaram em até oito vezes em alguns países da África e da Ásia nas últimas três décadas. Da mesma forma, tem crescido a preocupação com a saúde mental dos jovens, a qual é ameaçada pelas questões globais emergentes, incluindo a mudança climática, os conflitos bélicos e a rápida transição para o mundo digital.

Progresso desigual

Na comparação com uma década atrás, quando o The Lancet publicou o seu primeiro estudo global acerca da saúde dos adolescentes, os autores indicam que boa parte das regiões do mundo apresentaram melhorias no que se refere ao incentivo da educação e à redução das taxas globais de tabagismo e uso de álcool.

Por outro lado, em muitas áreas analisadas, o progresso em andamento foi fortemente prejudicado pela ocorrência da pandemia de covid-19, bem como pela falta crônica de financiamento às ações e políticas propostas.

Em uma análise inédita, que empregou dados do estudo Carga Global de Doenças de 2021, a equipe estimou quase 1,1 bilhão de adolescentes vivendo em países onde problemas de saúde evitáveis e tratáveis continuam sendo uma ameaça diária às chances de vida.

Tal valor é superior àquele registrado no último levantamento do The Lancet, quando o número de jovens ameaçados era menor que 1 bilhão, o que sugere uma falta de progresso na abordagem da saúde. Novas projeções calculam que, sem os devidos investimentos políticos e financeiros, ainda haverá até 2030 mais de 1 bilhão de adolescentes vivendo em países com problemas tratáveis.

Consequências aos adolescentes

O progresso limitado é evidente em várias áreas críticas que afetam os jovens. Os pesquisadores indicam, por exemplo, que quase um terço das meninas serão anêmicas em todo o mundo até 2030, destacando os esforços inadequados para resolver esse problema.

A saúde mental também sofreu um declínio significativo nas últimas três décadas nos países com dados disponíveis — uma tendência exacerbada pela pandemia. Em 2030, projeta-se que 42 milhões de anos de vida saudável serão perdidos devido aos transtornos psicológicos. O valor é quase 2 milhões a mais do que em 2015.

Projeções adicionais indicam que um terço dos jovens na América Latina e no Oriente Médio estarão acima do seu peso ideal até 2030, em razão das deficiências no combate à obesidade. Os cálculos preveem que, ao todo, 464 milhões de adolescentes em todo o mundo estarão com sobrepeso ou obesos —143 milhões a mais do que em 2015.

“Essas mudanças demográficas continuarão a impulsionar o progresso global ou a falta dele na saúde e no bem-estar dos adolescentes”, alerta Alex Ezeh, colaborador da iniciativa. “A participação da África entre os jovens globais aumentará de menos de 25% atualmente para mais de 46% até 2100. Isso exige uma atenção específica às necessidades dos jovens nesse continente”.

Novas ameaças à saúde

Em seu estudo, a equipe identifica uma série de novas ameaças significativas à saúde dos adolescentes, enfatizando que eles estão navegando em um mundo em rápida mudança. Espera-se que os desafios emergentes, como a mudança climática e a transição para o mundo digital, tenham um impacto profundo na saúde e no bem-estar dos jovens.

Os adolescentes de hoje são a primeira geração que viverá toda a sua vida com a temperatura global média anual consistentemente de até 5°C mais alta do que os níveis pré-industriais. A situação pode levar a riscos catastróficos para a saúde, que incluem uma maior incidência de doenças relacionadas ao calor e uma redução da qualidade e da disponibilidade de alimentos e água.

A revisão sistemática ainda verificou que tanto os desastres climáticos de ação rápida, como os furacões, quanto os mais lentos, tal qual a insegurança alimentar, contribuem para os problemas mentais dos adolescentes. Os casos podem desencadear quadros de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão.

“Nossa abordagem ressalta que a proteção do planeta é inseparável da resiliência dos jovens. Pela primeira vez, estamos identificando e incentivando intervenções que promovam simultaneamente a saúde dos adolescentes, a integridade ecológica, a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas e a justiça social”, observa Aaron Jenkins, coautor do artigo.

Fonte: Revista Galileu

 

 

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