Uma análise global focada especificamente na saúde da população adolescente calcula que há mais de 1,1 bilhão de jovens com idades entre 10 e 24 anos vivendo em regiões onde condições evitáveis (tais como infecção por HIV, gravidez precoce, transtornos psicológicos, má nutrição e lesões) ameaçam o seu bem-estar. O levantamento foi publicado na revista The Lancet.
“A saúde e o bem-estar dos adolescentes em todo o mundo estão em um ponto crítico, com um progresso misto observado nas últimas três décadas”, aponta Sarah Baird, uma das coordenadoras do estudo, em comunicado à imprensa. “Embora o uso de tabaco e álcool tenha diminuído e a participação no Ensino Médio e Superior tenha aumentado, outros problemas continuam a ser observados”.
Estima-se, por exemplo, que o sobrepeso e a obesidade aumentaram em até oito vezes em alguns países da África e da Ásia nas últimas três décadas. Da mesma forma, tem crescido a preocupação com a saúde mental dos jovens, a qual é ameaçada pelas questões globais emergentes, incluindo a mudança climática, os conflitos bélicos e a rápida transição para o mundo digital.
Progresso desigual
Na comparação com uma década atrás, quando o The Lancet publicou o seu primeiro estudo global acerca da saúde dos adolescentes, os autores indicam que boa parte das regiões do mundo apresentaram melhorias no que se refere ao incentivo da educação e à redução das taxas globais de tabagismo e uso de álcool.
Por outro lado, em muitas áreas analisadas, o progresso em andamento foi fortemente prejudicado pela ocorrência da pandemia de covid-19, bem como pela falta crônica de financiamento às ações e políticas propostas.
Em uma análise inédita, que empregou dados do estudo Carga Global de Doenças de 2021, a equipe estimou quase 1,1 bilhão de adolescentes vivendo em países onde problemas de saúde evitáveis e tratáveis continuam sendo uma ameaça diária às chances de vida.
Tal valor é superior àquele registrado no último levantamento do The Lancet, quando o número de jovens ameaçados era menor que 1 bilhão, o que sugere uma falta de progresso na abordagem da saúde. Novas projeções calculam que, sem os devidos investimentos políticos e financeiros, ainda haverá até 2030 mais de 1 bilhão de adolescentes vivendo em países com problemas tratáveis.
Consequências aos adolescentes
O progresso limitado é evidente em várias áreas críticas que afetam os jovens. Os pesquisadores indicam, por exemplo, que quase um terço das meninas serão anêmicas em todo o mundo até 2030, destacando os esforços inadequados para resolver esse problema.
A saúde mental também sofreu um declínio significativo nas últimas três décadas nos países com dados disponíveis — uma tendência exacerbada pela pandemia. Em 2030, projeta-se que 42 milhões de anos de vida saudável serão perdidos devido aos transtornos psicológicos. O valor é quase 2 milhões a mais do que em 2015.
Projeções adicionais indicam que um terço dos jovens na América Latina e no Oriente Médio estarão acima do seu peso ideal até 2030, em razão das deficiências no combate à obesidade. Os cálculos preveem que, ao todo, 464 milhões de adolescentes em todo o mundo estarão com sobrepeso ou obesos —143 milhões a mais do que em 2015.
“Essas mudanças demográficas continuarão a impulsionar o progresso global ou a falta dele na saúde e no bem-estar dos adolescentes”, alerta Alex Ezeh, colaborador da iniciativa. “A participação da África entre os jovens globais aumentará de menos de 25% atualmente para mais de 46% até 2100. Isso exige uma atenção específica às necessidades dos jovens nesse continente”.
Novas ameaças à saúde
Em seu estudo, a equipe identifica uma série de novas ameaças significativas à saúde dos adolescentes, enfatizando que eles estão navegando em um mundo em rápida mudança. Espera-se que os desafios emergentes, como a mudança climática e a transição para o mundo digital, tenham um impacto profundo na saúde e no bem-estar dos jovens.
Os adolescentes de hoje são a primeira geração que viverá toda a sua vida com a temperatura global média anual consistentemente de até 5°C mais alta do que os níveis pré-industriais. A situação pode levar a riscos catastróficos para a saúde, que incluem uma maior incidência de doenças relacionadas ao calor e uma redução da qualidade e da disponibilidade de alimentos e água.
A revisão sistemática ainda verificou que tanto os desastres climáticos de ação rápida, como os furacões, quanto os mais lentos, tal qual a insegurança alimentar, contribuem para os problemas mentais dos adolescentes. Os casos podem desencadear quadros de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão.
“Nossa abordagem ressalta que a proteção do planeta é inseparável da resiliência dos jovens. Pela primeira vez, estamos identificando e incentivando intervenções que promovam simultaneamente a saúde dos adolescentes, a integridade ecológica, a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas e a justiça social”, observa Aaron Jenkins, coautor do artigo.
Fonte: Revista Galileu