Para além de alterações nas temperaturas, as mudanças climáticas e a expansão urbana podem aumentar consideravelmente o número de casos de doenças transmitidas por mosquitos nas próximas décadas. É o que sugere um estudo publicado hoje na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases.
Pesquisas anteriores já alegavam uma associação de mudanças climáticas e crescimento urbano com riscos de doenças transmitidas por mosquitos aumentarem no futuro. Porém, cientistas decidiram investigar as previsões a partir de um mosquito bem conhecido no Brasil: o Aedes aegypti, transmissor dos vírus causadores de doenças como dengue, zika e chikungunya.
O estudo revelou que os riscos de doenças transmitidas pelo inseto no país aumentarão significativamente até o ano de 2080.
Explosão de mosquitos
Os ciclos de vida dos mosquitos dependem de variadas condições ambientais, inclusive da temperatura. Eles tornam-se mais ativos em temperaturas mais altas, o que aumenta suas taxas de reprodução e, consequentemente, o número de picadas por dia.
Ainda que se tenha esse conhecimento, prever o futuro de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti segue sendo um desafio pela dificuldade em organizar matematicamente as conexões entre mudanças climáticas, urbanização e biologia do mosquito.
Foi assim que os pesquisadores desenvolveram um modelo matemático partindo de equações diferenciais de atraso – um sistema cujo estado futuro depende de estados passados associados a um determinado intervalo de tempo.
O modelo foi alimentado com dados climáticos e antropogênicos para moldar a densidade futura da população de mosquitos no Brasil de 2024 a 2080, baseando-se em diferentes cenários climáticos e ambientais plausíveis.
Mitigação das mudanças climáticas, crescimento urbano e emissões de gases efeito estufa foram alguns dos fatores considerados, enquanto o número básico de reprodução do Aedes aegypti foi usado para avaliar mudanças no potencial de transmissão de doenças.
Quais são os cenários possíveis?
Num cenário de menores emissões, o modelo previu que a densidade geral do mosquito da dengue no Brasil será 11% maior no ano de 2080 em comparação com 2024. No caso de maiores emissões, o crescimento chegará a 30% em todo o país até o mesmo ano. O aumento também deverá ser geograficamente desigual no país, com pontos críticos nas regiões Sul e Sudeste.
Segundo os cientistas, a mudança de densidade do Aedes aegypti certamente influenciará no aumento de transmissão de doenças. Considerando o dado de que o crescimento da população de mosquitos irá superar o da população humana, as previsões preocupam.
Por outro lado, os resultados sugerem que a redução das emissões e a mitigação das mudanças climáticas poderia reduzir consideravelmente o risco de doenças. A busca por menores porcentagens futuras exigirá, de acordo com o estudo, “intervenções coordenadas que abarquem políticas climáticas, controle de vetores e equidade na saúde”.
Fonte: GALILEU