Para boa parte dos brasileiros, a ligação entre tabagismo e câncer é bastante conhecida. No entanto, apesar do menor reconhecimento, a correlação entre o consumo de bebida alcóolica com a doença, como no caso do câncer de mama, vem sendo cada vez mais observada.
Nesse contexto, um artigo publicado na revista científica britânica The Lancet Oncology, no dia 13, aponta que pelo menos 4% dos casos recentemente diagnosticados de câncer de esôfago, boca, laringe, cólon, reto, fígado e mama, em 2020, podem ser atribuídos ao consumo de álcool. Em números absolutos, isto corresponde a 741.300 pessoas ao redor do mundo.
Os pesquisadores analisaram os dados disponíveis sobre a ingestão de bebidas alcoólicas pela população em 2010 e sobre casos de câncer em 2020; em virtude do fato de que os tipos de câncer apresentados no estudo evoluem de forma lenta. Aproximadamente, 75% dos casos de câncer relacionados ao álcool analisados pelo estudo são em homens. Dos casos ocorridos em mulheres, a maior parte era relativa a diagnósticos de câncer de mama.
Fatores biológicos
De acordo com o estudo, existem alguns fatores biológicos que contribuem para a conexão entre o consumo de álcool e o diagnóstico de câncer. O etanol, substância orgânica presente nas bebidas alcoólicas, decompõe-se para formar um carcinógeno chamado acetaldeído. Esse componente danifica o DNA e interfere na capacidade das células de reparar danos no corpo.
O álcool também pode aumentar os níveis de hormônios como o estrogênio, responsáveis por atuar como mensageiros que coordenam e controlam as funções do corpo; incluindo informar células sobre crescer e se multiplicar. Com mais divisão celular, há mais oportunidades para o câncer se desenvolver. O álcool também reduz a capacidade de o corpo absorver certos nutrientes que impedem o câncer, incluindo as vitaminas A, C, D, E e o ácido fólico.
Álcool, tabagismo e câncer
Além disso, a combinação de bebida e tabagismo pode aumentar indiretamente o risco de câncer; o álcool age como uma espécie de solvente para os produtos químicos cancerígenos do tabaco. Quanto maior a quantidade e mais frequentemente uma pessoa beber álcool, maior será a probabilidade de danos definitivos à saúde.
Para fazer a estimativa estatística da pesquisa, os cientistas analisaram três conjuntos de dados: estimativas de consumo global de álcool, riscos específicos de câncer provocados pelo consumo de bebida alcoólica e estimativas da incidência global desses cânceres em 2020.
Maior quantidade de álcool, maior risco de câncer
Foi descoberto que quanto mais álcool as pessoas bebem, maior é o risco de câncer relacionado ao álcool. Beber ao menos duas (aproximadamente 20 g) e até mais de seis doses (aproximadamente 60 g) por dia, definido como consumo arriscado de álcool, representava o maior risco de um câncer futuro. Mesmo o consumo moderado de álcool, isto é, de duas ou menos doses por dia, foi responsável por cerca de 14% dos casos de câncer analisados.
Os autores do estudo sugerem que o número de cânceres relacionados ao álcool é provavelmente ainda maior do que estas estimativas; visto que dados relativos a pessoas que pararam de beber não foram computados. Em vez disso, consideraram apenas pessoas que têm, atualmente, o hábito de beber.
Também foram analisados apenas os casos de câncer nos quais foi cientificamente demonstrado que o fator de risco aumenta com o uso de álcool. Não foram incluídos também cânceres para os quais evidências apenas sugerem que estão provavelmente ligados ao álcool, como câncer de pâncreas e estômago, por exemplo.
Quando a análise inclui pessoas que pararam de beber e também câncer de pâncreas e de estômago, os números aumentam para 925.000 cânceres relacionados ao álcool. Isto representa 185.000 possíveis cânceres relacionados a bebida, ou 5% de todos os cânceres do mundo.
Maiores e menores taxas de câncer relativo ao álcool
Em relação ao consumo por localidade, algumas das maiores proporções de cânceres relacionados ao álcool foram encontradas na Moldávia e na Romênia. No entanto, as recentes mudanças na política tributária, que aumentaram o custo do álcool nesses países, causaram uma queda nas vendas de bebidas, o que pode incitar uma redução futura nos cânceres relacionados.
Por outro lado, o crescimento econômico em lugares como Índia, Vietnã e China pode levar ao aumento do uso de álcool e cânceres relacionados no decorrer dos anos. As taxas mais baixas de diagnósticos de câncer relacionados a bebida alcóolica no mundo foram encontradas na Arábia Saudita e no Kuwait, onde leis, baseadas na religião islâmica, garantem baixas taxas de seu consumo.
Fonte: Seleções