Uma equipe de profissionais do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, realizou em março deste ano o primeiro procedimento bem-sucedido de implante auditivo de tronco cerebral na história médica do Rio Grande do Sul. A cirurgia teve como objetivo restaurar a audição de um homem diagnosticado com surdez total.
Em nota à imprensa divulgada nesta quarta-feira (25), Joel Lavinsky, otorrinolaringologista responsável, lembra que a indicação pela tecnologia veio porque os nervos auditivos do paciente estavam muito comprometidos por seu quadro de neurofibromatose tipo 2 (NF2). Isso tornava a utilização de um implante coclear convencional inviável.
Por dentro do caso
Considerada uma doença autossômica, a NF2 é caracterizada pelo crescimento lento e descontrolado de múltiplos tumores benignos envolta do sistema nervoso central. Além de pressionar as estruturas do tronco encefálico, ela ainda prejudica a escuta e o equilíbrio do indivíduo.
Segundo uma descrição publicada pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, a condição genética costuma se manifestar na adolescência ou no início da fase adulta. Calcula-se que ela atinja a população em uma prevalência de aproximadamente uma para cada 35 mil pessoas.
No caso de Flávio Fidelis, de 51 anos, o problema já estava tão avançado que ele já se encontrava surdo dos dois ouvidos há mais de 20 anos. Assim, os médicos imaginaram que colocar eletrodos diretamente nos núcleos auditivos na base do seu crânio, no tronco cerebral, poderia estimular a percepção do som em algum grau no paciente.
Realização da cirurgia
O procedimento foi realizado por Lavinsky em colaboração com o neurocirurgião Gustavo Rassier Isolan e uma equipe de audiologistas coordenada pela fonoaudióloga Natalia Fernandez. Três profissionais da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Ferreira Bento, Marcelo Prudente e Valéria Goffi, ainda auxiliaram supervisionando as etapas.
Ao todo, a cirurgia e o pós-operatório exigiram quase dez horas de dedicação dos especialistas. “Realizamos diversos testes eletrofisiológicos durante a cirurgia para que fosse possível identificar o local exato para o posicionamento do implante e confirmar o funcionamento da estimulação elétrica do eletrodo no tronco cerebral”, conta Lavinsky.
O sucesso da abordagem foi confirmado alguns meses depois da intervenção, quando se ligou o dispositivo implantado no paciente.
De acordo com Fidelis, sua rotina melhorou consideravelmente desde a operação. Mesmo em fase de ajustes do aparelho, é nítida a evolução na sua vida pessoal e profissional. Testes indicaram até que ele já tem conseguido diferenciar certos ruídos e sons.
“Fui diagnosticado com deficiência auditiva bilateral, perdendo aos poucos a audição, já na fase adulta, aos 29 anos”, relata o paciente. “Por isso este implante aparece como um objetivo de vida e uma batalha vencida. Agradeço a toda equipe médica do Hospital Moinhos de Vento”.
Fonte: Revista Galileu