ARACAJU/SE, 28 de junho de 2025 , 17:00:26

Mulheres são 93% dos cuidadores de pessoas com demência no Brasil – e maioria delas não é remunerada

 

No Brasil, 93,6% dos cuidadores de pessoas com demência são mulheres. A cada 10 cuidadores, 9 são filhas, esposas ou noras dos pacientes e estão na faixa dos 50 anos de idade. A maioria realiza a tarefa sem remuneração, e 42,8% precisaram deixar o emprego para se dedicar ao cuidado.

Os dados são de um estudo conduzido na Unifesp entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023. Publicada na revista Alzheimer’s & Dementia: Translational Research & Clinical Interventions em 5 de junho, a pesquisa coletou informações de 381 participantes, a maioria identificados como cuidadores não profissionais.

2 milhões de cuidadores (e contando)

O Relatório Nacional sobre a Demência divulgado em 2024 pelo Ministério da Saúde mostrou que cerca de 8,5% da população idosa (com 60 anos ou mais) convive com a doença – proporção equivalente a 1,8 milhões de pessoas. Assim, estima-se que há quase 2 milhões de cuidadores. A projeção é que, até 2050, 5,7 milhões de pessoas tenham diagnóstico de demência no Brasil.

Nesse cenário, cresce a demanda por cuidados. Apesar de 44% dos participantes afirmarem que se sentem recompensados ao desempenhar um trabalho com propósito, ainda que desgastante, a nova pesquisa destaca a exaustão emocional e o cansaço físico atrelado ao trabalho de cuidar.

Do total de participantes, 94,9% não têm remuneração, 46% sentem-se despreparados para exercer a função, e 62% carecem de suporte emocional na rotina.

“Os resultados mostram que os cuidadores brasileiros enfrentam desafios similares aos de outros países, mas com particularidades locais, como a falta de suporte estruturado”, afirma o médico neurologista e principal autor do estudo, Alan Cronemberger Andrade, professor na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em comunicado.

As medidas que devem ser tomadas com urgência, segundo os pesquisadores, envolvem fortalecer as leis que garantem cuidado e atenção às demências, não têm implementação adequada.

Eles também reforçam a necessidade de criar programas de capacitação para cuidadores e benefícios sociais que forneçam apoio financeiro para essa categoria. Além disso, destacam a necessidade de estruturas públicas que compartilhem as responsabilidades e atuem como rede de suporte, dado que uma em cada três cuidadores afirma não ter ninguém para dividir tarefas durante a semana.

“Os dados apontam que é essencial desenvolver intervenções culturalmente adaptadas e implementar políticas públicas no SUS para melhorar sua qualidade de vida. Isso é o que vemos nos serviços de saúde, mas não tínhamos tantos detalhes”, disse Andrade.

Fonte: Revista Galileu

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