Medicamentos para tratar a obesidade, como o famoso Ozempic, reduzem o apetite e fazem o indivíduo perder gordura, mas também podem causar perda de massa muscular. Estudos e especialistas ouvidos pelo g1 destacam a importância do consumo de proteínas e das atividades físicas de resistência e força durante o tratamento com inibidores de apetite, para que a perda de músculos não seja significativa.
Eles alertam que o uso da medicação sem orientação médica e nutricional adequada pode ter resultados catastróficos.
Estudos apontam que o uso de tirzepatida (Mounjaro) e semaglutida (Ozempic e Wegovy) está relacionado a uma maior perda de peso geral, mas também a uma redução significativa na massa magra (tudo que não é gordura, como músculos e também órgãos, ossos, fluidos e água no tecido adiposo). E a perda muscular não apenas diminui a função física e a qualidade de vida, mas também está associada a taxas aumentadas de mortalidade por todas as causas.
Em nota, a Novo Nordisk afirma que estudos realizados pela companhia apontam que as alterações na composição corporal ocorrem independentemente da forma de tratamento escolhido para perda de peso.
“É importante destacar, reiterando a opinião dos especialistas consultados, que a semaglutida em si não causa déficits nutricionais, perda de massa magra ou baixo consumo proteico. Esses riscos podem surgir se o paciente não seguir uma dieta equilibrada com os nutrientes necessários e não adotar práticas adequadas de exercício físico, essenciais para a manutenção da saúde durante o tratamento”, afirma a Novo Nordisk.
O acompanhamento nutricional e médico durante o uso de inibidores de apetite é muito importante e a orientação de consumo de proteínas numa quantidade adequada também, porque isso impacta diretamente a mudança da composição corporal, destaca a diretora da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), Cynthia Valério. A médica explica que o consumo adequado de proteínas garante que a perda de peso seja mais sustentável no longo prazo.
A médica endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Maria Edna de Melo, acrescenta que não adianta só consumir proteína, tomar whey protein e não fazer atividade física. E não é só a caminhada. Precisa ser exercício de força.
E a ingestão proteica suficiente é importante para construir músculo. Essa necessidade fica em torno de 1,5g de proteína por quilo de peso.
“É interessante que, quando a gente fala exercício de força, todo mundo só lembra dos ferros da academia. Mas existem outras formas de fazer exercício de força sem usar os equipamentos, sem estar no ambiente de academia, porque não é todo mundo que gosta e se adapta”, diz Melo.
Um dos primeiros estudos sobre o uso da semaglutida, feito com quase 2 mil pessoas, apontou uma perda média de 14,9% do peso corporal em até 68 semanas de tratamento. Dessa perda, 35% foram de massa magra e 65% de massa gorda.
Outros estudos apontam que as reduções na massa magra variam entre 40% e 50% do peso total perdido. Vale destacar que compreender os efeitos na saúde muscular de um paciente a partir de uma avaliação da massa magra é um desafio complexo, uma vez que as alterações na massa magra podem nem sempre refletir alterações na massa muscular.
A perda maior ou menor de músculo ou gordura depende de uma série de fatores: idade, gênero, a própria etnia, o grau de atividade e independência e atividade física, explica Valério. Mas o músculo que fica, mesmo reduzido, passa a ter mais função.
“É uma massa muscular que está fazendo o paciente caminhar mais, ser mais funcional em termos de levantar, sentar e praticar atividade física. Ocorre uma melhora na qualidade do músculo, diante de uma mioesteatose, que é a gordura infiltrada entre as fibras musculares, que faz esse músculo perder qualidade”.
Segundo Valério, além da ingestão de proteínas, a prática de exercícios de resistência de duas a três vezes por semana pode reduzir a perda de massa magra de 35% para 20%. Ele alerta que a comunidade médica tem visto muito o uso de inibidores de apetite sem orientação médica e nutricional adequada:
“O uso recreativo ou estético das medicações – pessoas que fazem reduções drásticas e bruscas do aporte de proteínas e que muitas vezes são sedentárias – gera um impacto na composição corporal pode ser até catastrófico. As pessoas ficam realmente desnutridas, com uma perda de massa muscular importante”, alerta a médica.
Estudos recentes mostram que a perda de peso com medicamentos está se aproximando de magnitudes próximas àquelas alcançadas com a cirurgia bariátrica. E a manutenção da massa magra é importante durante a perda de peso porque os músculos e órgãos internos têm uma taxa metabólica mais elevada do que o peso equivalente de gordura.
Manter a massa magra é essencial porque músculos e órgãos consomem mais energia do que a gordura, o que facilita a manutenção do peso após a perda inicial.
Mais de um bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo. No Brasil, 56% dos adultos têm obesidade ou sobrepeso. O problema é um desafio de saúde global e há poucas opções farmacológicas para ele. A doença é multifatorial e envolve questões genéticas, sociais, culturais, econômicas e ambientais. A obesidade está associada a complicações como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, doença hepática gordurosa não alcoólica e reduz a expectativa de vida.
Fonte: G1