ARACAJU/SE, 2 de outubro de 2025 , 19:12:59

Parkinson pode começar nos rins e não no cérebro, aponta estudo

 

A Doença de Parkinson, tradicionalmente associada a alterações no cérebro, pode ter sua origem nos rins. É o que sugere um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Wuhan, na China, publicado na revista científica Nature Neuroscience.

A doença, conhecida por comprometer o controle dos movimentos e causar tremores, rigidez muscular e lentidão, sempre foi investigada a partir do sistema nervoso central. Agora, os cientistas levantam a hipótese de que a patologia pode começar fora do cérebro, em órgãos periféricos — neste caso, os rins.

O papel da proteína alfa-sinucleína

O foco da pesquisa é a alfa-sinucleína (α-Syn), proteína que há décadas está no centro dos estudos sobre Parkinson e outras demências chamadas “demências de corpos de Lewy”. Esse nome, Lewy, se refere a depósitos anormais da própria alfa-sinucleína dentro dos neurônios.

Esses aglomerados dificultam o funcionamento das células nervosas e são considerados a principal marca patológica do Parkinson.

O novo estudo mostra que o processo pode se iniciar nos rins. Os pesquisadores observaram depósitos da proteína nesse órgão em 10 de 11 pacientes com Parkinson ou outras doenças do grupo. O mesmo tipo de alteração também foi detectado em 17 de 20 pessoas com doença renal crônica, mesmo na ausência de sintomas neurológicos.

Segundo os autores, isso sugere que os rins podem funcionar como um “ponto de partida” para a propagação da alfa-sinucleína, que depois alcança o cérebro.

Testes em animais

Além da análise de tecidos humanos, a equipe chinesa fez experimentos em camundongos geneticamente modificados. Nos animais, a injeção da proteína no rim levou à disseminação da patologia até o cérebro.

Outro achado importante foi que a propagação pôde ser bloqueada em determinadas condições, como quando os nervos que conectam o rim ao sistema nervoso foram interrompidos. Isso reforça a hipótese de que a comunicação entre os rins e o cérebro tem um papel relevante no avanço da doença.

Implicações para diagnóstico e tratamento

Se confirmada em estudos maiores, a descoberta pode abrir novas possibilidades para a prática médica. O rastreamento da alfa-sinucleína em órgãos periféricos poderia servir como sinal precoce da doença, permitindo acompanhar pessoas com risco elevado antes que os sintomas motores se manifestem.

Além disso, entender a participação dos rins no processo pode orientar o desenvolvimento de terapias que atuem antes da degeneração cerebral, em fases ainda silenciosas da condição.

Um passo inicial

Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores alertam que se trata de um estudo preliminar. Ainda será necessário expandir os testes em humanos para confirmar a relação entre função renal comprometida e surgimento do Parkinson.

A pesquisa se soma a outras investigações que já mostraram a possibilidade de a doença começar em órgãos periféricos, como o trato gastrointestinal ou mesmo o apêndice, antes de chegar ao cérebro.

A dimensão do problema

O Parkinson faz parte do grupo das doenças de corpos de Lewy, caracterizadas pela presença desses depósitos de alfa-sinucleína. Além do Parkinson, o grupo inclui a demência com corpos de Lewy, que causa declínio cognitivo e alterações de comportamento.

De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 10 milhões de brasileiros vivem com o diagnóstico da doença. A prevalência tende a aumentar nos próximos anos, acompanhando o envelhecimento da população.

Fonte: G1

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