Pouca gente sabe, mas a perda auditiva está diretamente associada ao risco de desenvolver demência. Estudos apontam que a deficiência auditiva é o fator de risco mais importante e modificável para a doença, superando até tabagismo e depressão. De acordo com pesquisas citadas pela Dra. Kátia Virginia, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco, ela está relacionada a até 8% dos casos de demência no mundo.
“A deficiência auditiva afeta mais de 40% da população com idade igual ou superior a 50 anos e cerca de 71% dos indivíduos acima de 70 anos. É o fator mais proeminente para demência entre os 12 fatores modificáveis já identificados”, explica a especialista.
A médica destaca que a dificuldade de ouvir impacta diretamente o funcionamento cerebral. “A perda auditiva provoca atrofia em áreas do cérebro responsáveis por processar sons, como o lobo temporal, e causa sobrecarga em outras regiões, que precisam se adaptar para suprir o déficit. Isso leva à sobrecarga cognitiva, acelera o envelhecimento cerebral e aumenta o risco de doenças como Alzheimer”, afirma.
Entre as causas da perda auditiva estão fatores genéticos, infecções durante a gestação, exposição a sons intensos, doenças sistêmicas como diabetes e hipertensão, uso de medicamentos ototóxicos e, principalmente, o envelhecimento natural das células sensoriais. “É importante investigar a audição desde cedo. A triagem auditiva neonatal, obrigatória por lei em todo recém-nascido, conhecida como “teste da orelhinha”, visa rastrear precocemente a perda auditiva e possibilitar intervenção precoce, prevenindo atrasos de linguagem e fala. Nos adultos, a avaliação deve começar a partir dos 40 anos, mesmo sem queixas”, orienta.
Segundo a especialista, os sinais que merecem atenção incluem dificuldade para compreender conversas, aumento excessivo do volume da televisão, isolamento social, irritabilidade, ansiedade e presença de zumbido. “Muitas vezes o paciente passa a responder de forma desconexa, porque não ouviu bem, e acaba se isolando por não conseguir acompanhar interações. Esse isolamento, somado à privação auditiva, acelera ainda mais o declínio cognitivo”, alerta a Dra. Kátia.
O uso de aparelhos auditivos é apontado como uma das formas mais eficazes de reduzir o risco de demência. “O aparelho melhora a comunicação, devolve estímulos sonoros ao cérebro e ajuda a evitar o desgaste cognitivo. Associado à terapia fonoaudiológica, proporciona reabilitação auditiva e melhora significativa da qualidade de vida”, explica.
O diagnóstico precoce é fundamental tanto em crianças quanto em adultos. “Na infância, ele possibilita o desenvolvimento adequado da linguagem e da socialização. Já no idoso, ajuda a prevenir doenças degenerativas, como Alzheimer e Parkinson, e a reduzir problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade”, reforça a médica.
A mensagem final da especialista é clara: “Procure ajuda o quanto antes. A perda auditiva pode ter tratamento mais simples se identificada cedo. Os estímulos sensoriais – visão, audição, tato, olfato e paladar – são vitais para mantermos a qualidade de vida e retardarmos o envelhecimento cerebral. Ignorar a perda auditiva é abrir caminho para o declínio cognitivo precoce”, finaliza a Dra. Kátia Virginia, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco.