A pílula do dia seguinte, que começou a ser usada no Brasil em 1999, é um contraceptivo de emergência, utilizado após as relações sexuais – em oposição a outros métodos, como a camisinha, a pílula e o DIU, que atuam antes ou durante as relações. Seu princípio ativo é o levonorgestrel, uma progesterona sintética.
O levonorgestrel é o mesmo hormônio presente nos anticoncepcionais de rotina, mas, na pílula do dia seguinte, ele aparece em doses bem mais elevadas: entre seis e 20 vezes a quantidade de um contraceptivo comum.
A ação da pílula do dia seguinte se dá de duas formas: em primeiro lugar, ela age evitando que o óvulo seja liberado, diminuindo a chance de contato com os espermatozoides e, portanto, a chance de fertilização. Caso a ovulação já tenha ocorrido, temos a ação secundária: a pílula não deixa formar o endométrio gravídico (camada que recobre o útero para receber o óvulo fecundado e cuja descamação dá origem à menstruação). Dessa forma, o espermatozoide tem mais dificuldade para se movimentar e alcançar o óvulo.
A pílula do dia seguinte não tem efeito abortivo, ou seja: não serve para interromper o desenvolvimento de óvulos já fecundados. Também não funciona contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis, gonorreia, HPV e HIV.
Como não usar a pílula do dia seguinte
É preciso que fique claro: a pílula do dia seguinte não pode ser usada como substituta de outros métodos contraceptivos e deve ter seu uso restrito a casos emergenciais. Isso porque, como a dose de hormônio é muito elevada, o uso contínuo pode ter consequências graves para a saúde. Em 2023, ficou famoso o caso de uma mulher que teve um AVC após ingerir 72 pílulas do dia seguinte em três meses.
No Brasil, estima-se que entre 20% e 30% das mulheres utilizem a pílula do dia seguinte de maneira regular, indo contra as instruções médicas. A recomendação do Conselho Federal de Farmácia é que a pílula seja usada, no máximo, de três a quatro vezes ao ano.
Para a proteção contra a gravidez no dia a dia, recomenda-se o uso de métodos contraceptivos habituais, como camisinha, DIU, diafragma, pílula anticoncepcional e afins.
A pílula do dia seguinte não tem 100% de eficácia, como qualquer método contraceptivo. E ela também não previne a gravidez em relações sexuais futuras, mesmo que ocorram próximas à data de ingestão. Em caso de atraso na menstruação, a recomendação é fazer um teste de gravidez.
Em que casos utilizar a pílula do dia seguinte
De acordo com o protocolo para utilização do levonorgestrel, as principais indicações da pílula do dia seguinte são:
– Relação sexual desprotegida sem uso de nenhum método contraceptivo e/ou preservativos
– Rompimento do preservativo (camisinha)
– Esquecimento prolongado do anticoncepcional oral ou atraso do injetável
– Deslocamento do diafragma
– Coito interrompido em que ocorre derrame do sêmen na vagina
– Cálculo incorreto do período fértil, erro no período de abstinência ou interpretação equivocada da temperatura basal
– Casos de violência sexual quando a mulher ou adolescente são privadas de escolha e submetidas à gravidez indesejada
Os médicos orientam que o ideal é a mulher tomar a pílula o mais rápido possível após a relação sexual, já que o prazo limite de eficácia é de até 72 horas após a relação. Após isso, quanto maior a demora no consumo da pílula, menor sua eficácia. A estimativa de sucesso é de 95% se a pílula for consumida até as primeiras 12 horas; 85% após as primeiras 24 horas e menor que 55% após 48 horas.
A pílula do dia seguinte não requer a apresentação de receita médica. Basta que a mulher peça no posto de saúde e o médico de plantão irá fornecer, ou então os enfermeiros, que também possuem essa autorização. Se a mulher for menor de idade, ela não precisa estar acompanhada dos pais.
Após o consumo da pílula do dia seguinte, a recomendação é esperar a próxima menstruação antes de iniciar uma nova cartela da pílula anticoncepcional comum.
Contraindicações da pílula do dia seguinte
Mulheres com distúrbios metabólicos, principalmente insuficiência hepática e tromboembolismo venoso devem evitar tomar o medicamento. A pílula também é contraindicada para pessoas com histórico de alergia ao levonorgestrel, bem como a qualquer um de seus componentes. Ela ainda deve ser evitada por quem já está em tratamento com efavirenz, rifampicina ou erva-de-são-joão, que podem interagir com o produto e afetar sua eficácia.
Quais os efeitos colaterais da pílula do dia seguinte?
Esses são alguns possíveis efeitos do medicamento:
– Alteração do ciclo menstrual (após consumir o produto, é normal que o próximo ciclo menstrual comece até uma semana antes ou depois do esperado)
– Náusea
– Vômito
– Diarreia
– Cansaço
– Dor de cabeça
– Tontura
– Irritabilidade
– Dor ou sensibilidade nas mamas
– Pequenos sangramentos entre os períodos menstruais
– Se a pessoa estiver passando mal após o uso ou sentir mudanças no ciclo menstrual além das descritas, é preciso procurar um médico.
Fonte: Revista Galileu