De acordo com dados recentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), compilados pela SOBRASP – Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente – entre 1º de janeiro e 14 de dezembro de 2025 foram notificados no Brasil 459.746 eventos adversos e falhas na assistência à saúde em serviços públicos e privados. Desse total, 47.853 ocorrências envolveram crianças de 0 a 11 anos. Em 2024, foram registrados 43.944 eventos adversos nessa mesma faixa etária.
O estado de Sergipe contabilizou 446 falhas na assistência à saúde em crianças de 0 a 11 anos no período.
É importante destacar que os números apresentados são absolutos e não correspondem a taxas padronizadas (por exemplo, por 100 mil crianças vivas por faixa etária e evento adverso). As faixas etárias analisadas foram: <28 dias; 29 dias a 1 ano; 2 a 4 anos; e 5 a 11 anos. Esses dados podem estar subnotificados, ou seja, podem ser ainda maiores.
Os números revelam um cenário preocupante para os pacientes mais vulneráveis: as crianças. Nos hospitais, as principais causas relacionadas aos eventos adversos, envolvendo esse público, são decorrentes de falhas na comunicação entre os profissionais de saúde e os familiares e a falta de envolvimento da própria criança em seu cuidado. Isso tem levado a danos desnecessários como lesões por pressão (dano causado na pele e nos tecidos moles), quedas e a administração incorreta de medicamentos.
| UF/BR | NÚMEROS DE EVENTOS ADVERSOS DE 01 DE JANEIRO A 14 DE DEZEMBRO DE 2025 – ANVISA | ||||
| 29 dias a 1 ano | 2 a 4 anos | 5 a 11 anos | TOTAL | ||
| < 28 dias | |||||
| BR | 15339 | 17161 | 6810 | 8543 | 47853 |
| AC | 18 | 5 | 1 | 2 | 26 |
| AL | 142 | 96 | 24 | 30 | 292 |
| AP | 5 | 4 | 0 | 1 | 10 |
| AM | 309 | 248 | 139 | 158 | 854 |
| BA | 837 | 987 | 424 | 611 | 2859 |
| CE | 475 | 750 | 251 | 318 | 1794 |
| DF | 697 | 1245 | 420 | 424 | 2786 |
| ES | 258 | 280 | 97 | 150 | 785 |
| GO | 218 | 546 | 265 | 368 | 1397 |
| MA | 337 | 510 | 249 | 295 | 1391 |
| MT | 77 | 49 | 29 | 18 | 173 |
| MS | 387 | 494 | 234 | 257 | 1372 |
| MG | 3657 | 3459 | 1091 | 1538 | 9745 |
| PA | 201 | 291 | 169 | 239 | 900 |
| PB | 822 | 306 | 81 | 124 | 1333 |
| PR | 1053 | 1041 | 416 | 536 | 3046 |
| PE | 695 | 971 | 433 | 610 | 2709 |
| PI | 367 | 262 | 86 | 133 | 848 |
| RJ | 647 | 811 | 435 | 439 | 2332 |
| RN | 282 | 221 | 121 | 140 | 764 |
| RS | 217 | 465 | 147 | 214 | 1043 |
| RO | 53 | 59 | 45 | 47 | 204 |
| RR | 3 | 74 | 26 | 21 | 124 |
| SC | 1101 | 973 | 321 | 404 | 2799 |
| SP | 2179 | 2653 | 1155 | 1302 | 7289 |
| SE | 120 | 199 | 60 | 67 | 446 |
| TO | 182 | 162 | 91 | 97 | 532 |
| TOTAL | 15339 | 17161 | 6810 | 8543 | 47853 |
Segundo Paola Andreoli, presidente da SOBRASP, a prioridade da entidade é promover cuidados mais seguros a partir da implementação da participação dos pacientes e seus familiares na assistência, diretrizes essas definidas no Plano Global para Segurança do Paciente 2021-2030, instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Os gestores de serviços de saúde devem implantar estratégias que permitam a participação e engajamento de pacientes e familiares no cuidado. Talvez a atitude mais importante, contudo, seja a preparação dos processos de cuidado e dos profissionais para que considerem a opinião e preferências dos pacientes e seus familiares. Ouvir os pais e envolvê-los no cuidado é uma importante atitude de segurança”.
Promover a participação do paciente, na melhoria da segurança dos cuidados em saúde, implica a integração deste na tomada de decisão, de forma consciente e informada. “Desta forma, o paciente e seus familiares, em especial quando se trata de crianças e adolescentes, devem conhecer todo o plano de diagnóstico e tratamento delineado pela equipe de saúde, participando de ações como: prover todas as informações sobre histórico de doenças prévias, alergias e outras circunstâncias, identificar mudanças não planejadas ocorridas no cuidado, questionar ativamente as propostas de tratamento e acompanhar sua execução”, alerta a pediatra Priscila Amaral, membro da SOBRASP.
E ainda ressalta que o engajamento dos pais no cuidado da criança é imprescindível para promover a segurança. “Os pais são as primeiras testemunhas quando ocorrem erros de medicação, falhas quanto à adesão aos procedimentos de segurança, como a higiene das mãos, e problemas com transferência de informações durante as mudanças de turno”, finaliza dra Priscila.
Plano Global de Segurança do Paciente 2021-2030 – A OMS lançou o Plano Global de Segurança do Paciente 2021–2030, que reforça o papel de pacientes e familiares como parceiros essenciais para uma assistência à saúde mais segura. A iniciativa propõe o envolvimento ativo da sociedade na construção de políticas e estratégias, além do aprendizado a partir de experiências com cuidados inseguros para o desenvolvimento de soluções mais eficazes. O plano também destaca a importância da transparência nos serviços de saúde, incluindo a comunicação de incidentes aos pacientes e familiares, e do acesso à informação e à educação em saúde, incentivando o autocuidado e a tomada de decisões compartilhadas.




