O número de incidentes com gases tóxicos em aeronaves comerciais aumentou nos últimos anos. Os episódios, conhecidos como “eventos de fumaça”, ocorrem quando vapores não filtrados ou alterados chegam à cabine dos passageiros ou da tripulação. O problema é mais frequente em jatos da família A320, da Airbus, uma das aeronaves mais utilizadas no mundo.
Levantamento do Wall Street Journal mostra que fabricantes e companhias aéreas vêm minimizando os riscos à saúde e resistindo a protocolos de segurança mais rigorosos. A apuração se baseou em mais de um milhão de relatórios da FAA (equivalente à Anac) e da Nasa, além de documentos técnicos e entrevistas com médicos, pilotos e comissários de bordo.
Os efeitos relatados variam de náusea e tontura a confusão mental e danos neurológicos permanentes. Médicos apontam que os sintomas se assemelham a uma concussão química. Segundo especialistas ouvidos pelo WSJ, dezenas de pilotos e mais de cem comissários já apresentaram problemas de saúde após a exposição aos vapores.
A causa está no sistema de ventilação das aeronaves, chamado bleed air. Nele, parte do ar da cabine é retirada dos motores e misturada ao ar recirculado. Quando as vedações do compressor falham, óleo e fluidos hidráulicos se vaporizam em altas temperaturas e liberam compostos tóxicos, entre eles neurotoxinas e monóxido de carbono.
Relatos oficiais descrevem os odores de diferentes formas, como cheiro de cachorro molhado, salgadinhos ou esmalte. Embora parte das ocorrências seja leve e passageira, médicos alertam que os efeitos podem ser graves e duradouros. Passageiros também já registraram desconforto e mal-estar em voos.
Fabricantes reconhecem que há risco de contaminação do ar, mas não informam quais substâncias são liberadas nem em que quantidade. O Boeing 787 é o único avião comercial de grande porte que não utiliza o sistema bleed air. Máscaras de oxigênio não oferecem proteção, já que não são totalmente vedadas.
Fonte: Terra