Há mais de 60 anos que o bordado faz parte da história de Tobias Barreto, município localizado na região Sul de Sergipe. Há quem diga que esse legado de artesanato feito por mãos cuidadosas, pés ágeis nos pedais das máquinas, agulhas e linhas vem de muito mais tempo atrás. Dona Normiza Andrade, de 67 anos, que o diga.
Ela faz bordados (à mão e máquina) desde que era apenas uma criança. “Eu bordo desde meus 11 anos de idade. Minha família se mudou e nossa vizinha bordava. Eu aprendi com ela! Comecei bordando um tipo de bordado que chama ‘realce’, aí depois passei para o ‘Richelieu’. Ainda hoje eu bordo”. Afirma Normiza, sentada em sua cadeira de balanço ao som de duas máquinas de costura que não param de dar pontos. Quem opera o maquinário são seus netos, que aprenderam a arte do bordado com ela.
Como em toda tradição, a arte e a cultura dos bordados de Tobias Barreto são passados de geração em geração. Assim como a Dona Normiza, que criou seus oito filhos no “pedal da máquina” e os ensinou a bordar, hoje são seus netos que dão continuidade a esta bela herança cultural. E se engana quem acha que só as mulheres que costuram! Os homens também, embora em menor quantidade, são habilidosos artesãos dos tecidos.
Mais do que um traço cultural do povo tobiense, a atividade é o sustento de muitas famílias da região. De acordo com Josivânia Menezes, funcionária pública e ex-presidente da Associação de Bordadeiras e Moradores da Nova Brasília (povoado de Tobias Barreto), cerca de 75% a 80% dos habitantes do povoado vivem exclusivamente do bordado. Ela, que começou na arte também através de sua família e também quando era bem jovem, aos 16 anos, reconhece a importância que o bordado tem para o povo de Tobias Barreto: “O bordado é muito importante para o tobiense. Muita gente vive do bordado. Eu mesmo sou funcionária pública, mas em meu tempo livre eu bordo para ter uma renda complementar”, conta Josivânia ao mesmo tempo em que mostra orgulhosa seus diversos tipos de bordados expostos na mesa.
O trabalho das bordadeiras de Tobias Barreto não é famoso apenas em Sergipe. Encomendas para outros estados do Brasil e até para fora do país já foram atendidas. “Eu já viajei para a Colômbia para exibir o bordado tobiense! Hoje a gente recebe alguns pedidos de fora do estado e, de vez em quando de outros países também. Já tem bordado tobiense lá na Europa!”, relata Josivânia, com um sorriso largo estampando o rosto.
Mas mesmo com toda essa tradição e a inegável qualidade dos bordados de Tobias Barreto, a crise financeira que assola o Brasil, aliada com outras questões, vem colocando em cheque essa bela cultura. Tanto Josivânia quanto Dona Normiza afirmam, com preocupação em seus rostos, que as vendas não têm sido muito boas, e isso vem ameaçando esse legado.
PROJETO DE LEI
E foi pensando em valorizar a tradição local e buscar novas formas de alavancar o bordado tobiense que a deputada estadual Diná Almeida (PODE) protocolou o Projeto de Lei (PL) 210/2019, que concede o título de Capital Sergipana dos Bordados à Tobias Barreto. O PL foi aprovado por unanimidade pelos deputados da Assembleia Legislativa de Sergipe na última quarta-feira (30/10) e segue agora para a sanção do governador Belivaldo Chagas (PSD).
Filha de bordadeira, Diná Almeida operava as máquinas de costura para ajudar sua mãe e sabe da realidade de quem vive do artesanato: “Quando eu era bem novinha, bordava com minha mãe. Aprendi a fazer diversos tipos de bordado e sei do trabalho que dá para fazer essas peças de arte que são tradição do nosso município. Eu tenho percebido que essa nossa tradição bonita tem morrido pouco a pouco, tanto pela crise econômica quanto pelo interesse dos mais jovens, que hoje já não querem aprender mais a costurar”, lamenta.
Segundo Diná, o título de Capital Sergipana dos Bordados ajudará a revigorar a tradição bordadeira do povo tobiense. “Nós já sabíamos que Tobias Barreto era a Capital dos Bordados. Todos nós já tínhamos isso nos nossos corações, mas agora é lei! Está no papel! Esse reconhecimento vai atrair mais público para a cidade! Com ele podemos buscar realizar cursos, promover eventos sobre o bordado e muito mais. É uma forma de valorizar o povo tobiense, valorizar a cultura do nosso povo e também a cultura de Sergipe!!”, comemora.
ECONOMIA GANHA
O título de Capital Sergipana dos Bordados também impacta na economia da Tobias Barreto. Grande parte da produção de bordados tobiense é comercializada na cidade. Nas principais avenidas da cidade lojas estampam bordados e confecções, sem falar da tradicional Feira da Coruja e do Mercado de Bordados Jovita Góis. Para Antônio Ávila, comerciante e tesoureiro da Câmara de Dirigentes Lojistas de Tobias Barreto (CDL), o comércio ganha muito com o título. “É um reconhecimento muito importante. A cidade ganha mais visibilidade, realça o nome de Tobias Barreto para todo o estado e atrai mais investimentos, mais clientes e isso gera mais emprego e renda”, afirma.
Luiz Henrique Andrade, secretário municipal de Indústria, Comércio e Trabalho, concorda com Antônio Ávila e acrescenta: “Além de ser bom culturalmente falando, o título fomenta o comércio da cidade, inspira o povo de Tobias Barreto a exercer seu empreendedorismo e valoriza as indústrias de confecções que estão em solo tobiense, atraindo mais investimento e possibilitando a chegada de novas empresas, criando mais empregos ainda”.
Para Dona Normiza, com seus mais de 55 anos de bordadeira e oito filhos criados nas linhas e agulhas dos bordados tobienses, ver Tobias Barreto ser reconhecida pelo Capital Sergipana dos Bordados é motivo de orgulho. “Essa lei é muito importante. É o reconhecimento do trabalho e do esforço das bordadeiras, da cultura da nossa cidade! Eu já me sentia orgulhosa em dizer que sou bordadeira, agora com o título oficial fico mais feliz ainda”.
As informações são da assessoria de imprensa.