ARACAJU/SE, 24 de julho de 2025 , 23:34:49

Veja o que acontece com seu corpo ao passar 8h no celular todos os dias

 

Ficar horas no celular já virou parte da rotina da maioria das pessoas. Entre responder mensagens no WhatsApp, participar de reuniões online, rolar o feed do Instagram, assistir a vídeos no TikTok ou pedir comida por aplicativo, o tempo simplesmente desaparece. No Brasil, isso é ainda mais intenso do que parece: segundo levantamento da plataforma Electronics Hub, com base no relatório Digital 2023 da DataReportal, os brasileiros passam, em média, nove horas por dia em frente às telas – o que representa 56,6% do tempo em que estão acordados. É o segundo maior índice do mundo, atrás apenas da África do Sul. O mais preocupante é que, mesmo com tanta exposição, muita gente ainda não enxerga esse hábito como um exagero.

O celular se tornou tão presente na rotina que, muitas vezes, já não dá para separar o que é trabalho, lazer ou estudo quando se está com o aparelho em mãos. Mas passar oito horas ou mais por dia diante da telinha pode trazer consequências reais para o corpo e a mente. Cansaço visual, ansiedade, ombros tensionados e até insônia são alguns dos efeitos que esse hábito pode desencadear – e eles vão muito além do que se imagina. A seguir, entenda o que acontece com o organismo quando o uso do smartphone se prolonga além da conta e descubra como pequenas mudanças de comportamento podem fazer a diferença.

O TechTudo reuniu uma série de informações que você precisa saber sobre o uso prolongado do celular. Passar mais de oito horas na frente das telas pode ser nocivo para os olhos, mente, além de estimular o sedentarismo.

1. A cena é comum: você passa o dia todo no celular – e nem percebe

O número de horas pode até parecer exagerado à primeira vista, mas basta somar o tempo que cada usuário passa checando mensagens, vendo vídeos curtos, usando o celular para trabalhar ou estudar por meio de aplicativos, e logo, as oito horas se acumulam. Para muitas pessoas, esse uso é fragmentado ao longo do dia, o que dá a falsa sensação de que “não foi tanto assim”. Contudo, o corpo sente cada minuto, principalmente quando não há pausas ou variação de tarefas, como explica Dra. Karina Stryjer.

“O celular pode de fato causar uma sobrecarga sensorial e estafa mental gerando consequências, tais como dispersão continua do foco e atenção, sensação de agitação constante por conta do consumo inadequado de conteúdos, muitas vezes, violentos e depreciativos”, explica Karina Stryjer.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2022, 92 milhões de brasileiros acessam a Internet apenas pelo celular. Além disso, mais da metade dos entrevistados relatam uso diário da rede – o que, combinado com o dado da DataReportal sobre o tempo médio de tela, mostra que esse comportamento é estrutural, e não pontual. Ou seja, ficar oito horas no celular já é a rotina real de milhões de pessoas, não um exagero hipotético.

2. O que acontece com o corpo durante esse período prolongado de uso?

Os olhos estão entre os órgãos mais afetados: o uso contínuo da tela pode causar ressecamento ocular, vermelhidão, vista embaçada e fadiga ocular digital – um conjunto de sintomas que inclui dor nos olhos, lacrimejamento e dificuldade de focar. Para o Dr. Lucca Ortolan, especialista em cirurgia refrativa e doutor em oftalmologia pela USP, o uso do celular por longas horas pode gerar problemas sérios, especialmente em crianças e adolescentes:

“O uso prolongado de dispositivos digitais, como celulares e tablets, especialmente na infância, pode causar danos permanentes à visão. Crianças e adolescentes que passam muito tempo em frente às telas e realizam atividades de perto excessivas têm um risco maior de desenvolver miopia e alta miopia, que é a dificuldade para enxergar de longe, ou de ter seu grau aumentado”, diz o Dr. Lucca Ortolan

Um estudo com estudantes universitários na Arábia Saudita apontou que 66% apresentaram sintomas oculares após uso prolongado do smartphone, especialmente dor e sensação de secura. A luz azul emitida pelas telas ainda pode inibir a produção de melatonina, prejudicando o sono e o descanso noturno.

“A luz azul emitida pelos celulares (e outras telas digitais) pode atrapalhar o seu sono. Isso acontece porque ela interfere no ritmo circadiano do nosso organismo, que é o relógio biológico que regula a produção dos hormônios do dia e da noite, como a melatonina”, complementa Ortolan.

Já do pescoço para baixo, a lista de impactos físicos cresce. Ficar muito tempo com a cabeça inclinada para olhar o celular sobrecarrega a coluna cervical, podendo causar o chamado text neck, além de dores nos ombros e nos punhos.

“A postura que comumente adotamos ao ficar no celular gera uma sobrecarga nos músculos da região do pescoço e coluna (cervical e torácica), a musculatura fica tensionada por sustentar a cabeça inclinada por muito tempo”, detalha a fisioterapeuta Dra. Débora Botte.

A repetição constante de toques e deslizes na tela também pode levar a condições como tenossinovite, conhecida como “dedo de celular”.

“Há risco de tendinites no polegar e punho, em alguns caso no antebraço também. No polegar ocorre devido movimentos repetitivos de digitação, deslizar e de segurar o aparelho”, detalha a especialista.
Nos braços e antebraços, a tensão acumulada gera rigidez muscular e sensação de formigamento. Além disso, o sedentarismo associado ao uso contínuo do celular pode comprometer a circulação, provocando inchaço nas pernas e risco de problemas vasculares.

Para o educador físico, Erik Rodrigues Botte, sintomas como: “Má postura; fadiga em poucos movimentos; dores nas articulações; perda de força e também possíveis sinais de depressão e desenvolvimento de algumas patologias, que podem se tornar casos crônicos”, são sinais de alerta.

3. O uso é contínuo ou intermitente? Isso faz diferença?

Muita gente acredita que usar o celular aos poucos, em pequenos blocos ao longo do dia, ameniza os efeitos nocivos. De fato, intercalar o uso com pausas e mudanças de postura pode reduzir a sobrecarga física. Alternar a posição do corpo, levantar-se para andar, ou simplesmente olhar para o horizonte ajudam a descansar olhos e músculos. Estratégias como a regra 20-20-20 — olhar para algo a 6 metros de distância por 20 segundos a cada 20 minutos — são indicadas para preservar a visão.

Por outro lado, mesmo o uso fragmentado pode afetar negativamente o cérebro e a saúde mental. Isso porque o excesso de estímulos curtos e constantes, exige que o cérebro troque de foco o tempo inteiro, o que eleva os níveis de estresse e gera cansaço mental, como enfatiza Dra. Karina Stryjer. “O excesso de estímulo digital não só deteriora a qualidade do foco e atenção, como também muda a qualidade do sono e nao permite o repouso e revitalização completa do organismo, gerando irritabilidade e mudanças bruscas de humor”.

O padrão de consumo intermitente ainda favorece a perda de atenção sustentada, prejudicando o rendimento em tarefas complexas e gerando sensação de frustração por não conseguir manter o foco por longos períodos.

4. Especialistas comentam os riscos do uso prolongado do celular

Segundo o Dr. Lucca Ortolan, o uso demasiado de dispositivos móveis pode desencadear problemas sérios a longo prazo: “Sabemos que a miopia está em aumento global por conta dessa exposição. Estudos na área, como o de Brien Holden e colaboradores, indicam que, se essa tendência continuar, aproximadamente 49,8% da população mundial será míope até 2050.”

A fadiga ocular digital é outro grande ponto de atenção, segundo o especialista: “Ela pode se manifestar de várias formas, como olho seco, sensibilidade à luz (fotossensibilidade), desconforto ou aversão à tela, olhos vermelhos, dor de cabeça, embaçamento da visão no final da tarde e coceira nos olhos”. Essa sensação de desconforto, faz com que os pacientes esfreguem os olhos com frequência e isso pode desencadear: “sintomas alérgicos, machucar a superfície do olho, conhecida como córnea, e aumentar o risco de desenvolver ceratocone”.

A fisioterapeuta Dra. Debora Botte, por sua vez, alerta a respeito dos riscos em se manter na mesma posição por longas horas, já que esse comportamento, pode gerar a compressão dos discos intervertebrais, gerando lesões como a hérnia de disco.

No campo da saúde mental, a Dra. Karina Stryjer alerta que o uso constante do celular pode levar à sobrecarga sensorial e até à estafa mental, já que muitas pessoas se sentem pressionadas a responder a todos os estímulos o tempo todo. A dificuldade de se desconectar – mesmo fora do expediente – prejudica o descanso e compromete a qualidade do sono.

Já do ponto de vista físico, o educador Erik Rodrigues Botte explica que passar longos períodos parado pode causar impactos graduais. A redução da mobilidade favorece o sedentarismo e afeta a circulação sanguínea, provocando dores nas pernas, sensação de peso, formigamento e, em casos mais graves, aumentando o risco de trombose – especialmente em pessoas com histórico familiar.

5. Há formas de reduzir os impactos sem abandonar o celular?

A resposta curta é: sim, o celular pode fazer parte da rotina sem causar grandes prejuízos – desde que usado com consciência. Apesar dos riscos do uso excessivo, o aparelho também traz benefícios importantes, como facilitar o trabalho, oferecer lazer e ampliar o acesso ao conhecimento. Para evitar os efeitos negativos do uso excessivo, vale adotar pequenas atitudes no dia a dia:

  • Fazer pausas regulares ao longo do uso;
  • Aplicar a técnica Pomodoro: 25 minutos de foco seguidos por 5 minutos de descanso;
  • Seguir a regra 20-20-20 para os olhos: a cada 20 minutos, olhar para algo a 6 metros (20 pés) de distância por 20 segundos;
  • Ajustar o brilho da tela para evitar fadiga ocular;
  • Ativar o modo noturno em ambientes escuros;
  • Limitar notificações para reduzir distrações;
  • Apoiar o celular em suportes, evitando forçar o pescoço;
  • Alternar entre posições ao longo do dia para manter o corpo em movimento;
  • Fazer alongamentos rápidos para aliviar tensões;
  • Usar recursos de áudio, como leitura em voz alta e podcasts, para descansar os olhos.

A tecnologia pode (e deve) ser uma aliada – o segredo está em usá-la com consciência, cuidado com o corpo e atenção à saúde mental.

Fonte: TechTudo com informações de cetic.br, Datareportal, National Library of Medicine (1 e 2), Stanford e USP

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